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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Bernard Hill (1944-2024)

Hugo Gomes, 05.05.24

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The Sailor's Return (Jack Gold, 1978)

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The Bounty (Roger Donaldson, 1984)

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Bellman and True (Richard Loncraine, 1987)

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The Ghost and the Darkness (Stephen Hopkins, 1996)

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Gothika (Mathieu Kassovitz, 2003)

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The Lord of the Rings: The Return of the King (Peter Jackson, 2003)

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Titanic (James Cameron, 1997)

A tragédia do "Titanic Nazi"

Hugo Gomes, 04.01.23

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Titanic (Herbert Selpin & Werner Klingler, 1943)

Com “Avatar” nos cinemas numa jornada para quebrar a barreira dos 2 mil milhões de dólares em bilhetes vendidos, e tendo em conta que o Oceano é o tema deste regresso a Pandora, recordamos um outro êxito assinado por James Cameron  - “Titanic” - aquele que, olhando em jeito retrospectivo, seja apontado como um dos últimos romances de grande fôlego produzidos em Hollywood. Contudo, a trágica história do soberbo transatlântico não teve inaugurada adaptação em 1997, com Kate Winslet e Leonardo DiCaprio (“I’m the King of the World”) enquanto cabeças de cartaz. 

O naufrágio ocorrido em 15 de abril de 1912, vitimando mais de 1600 pessoas, contou, 29 dias depois do fatídico evento, uma versão cinematográfica produzida pela Eclair Film Co. intitulado de “Saved from the Titanic”, centrada na história de uma sobrevivente real - Dorothy Gibson - também ela protagonista e argumentista. Segundo as críticas da altura, o filme (hoje perdido em consequência de um incêndio no estúdio, dois anos depois do seu lançamento) era bem detalhado e caracterizado graças a uma possível “memória fotográfica” por parte de Gibson, porém, também foi acusado de oportunismo, "dinheiro fácil”, quando à sua acelerada produção. Em agosto desse mesmo ano, a Alemanha concretiza a sua visão daquela primeira e única viagem do navio em “In Nacht und Eis” (“In Night and Ice”), do, na altura, jovem romeno Mime Misu, um épico de 40 minutos interessado em retratar cronologicamente o acidente. Anos mais tarde, em Hollywood, o melodramático Jean Negulesco conquista a sua versão de “Titanic” (“A Tragédia de Titanic”, 1953), abrindo caminho às vertentes romantizadas que Cameron iria reaproveitar (neste caso Barbara Stanwyck e Clifton Webb protagonizam o “casal acima de qualquer tragédia”). Já em 1958 surge-nos o inglês “A Night to Remember” (Roy Ward Baker), a versão que durante anos gozaria da popularidade do “filme sobre o Titanic”, e sejamos justos, a justiça ditada por quem realmente sofreu com a tragédia. 

Porém, no meio destes dois atos, os mudos de ‘12 e as versões posteriores da Segunda Grande Guerra, existiu uma problemática obra em redor do luxuoso barco apenas intitulado “Titanic”, ou, como é popularmente referenciado - “O Titanic Nazi” - em 1943. Sim, trata-se de uma produção da Alemanha nazi [Tobis Filmkunst], supervisionada por Joseph Goebbels, usufruindo da embarcação para difamação do espírito inglês. Nesta variação, o capitalismo fervoroso e a ganância dos CEO das White Star Line (companhia britânica de transporte marítimo) foram os reais culpados pelo naufrágio - não muito longe das acusações de húbris e cobiça tecnológica apontados pelo escritor Joseph Conrad no artigo enviado ao jornal The English Review - sendo assim, o filme abre com uma reunião de accionistas e uma cena na Bolsa, introdução serviente de ambiente natural a Joseph Bruce Ismay [o presidente da companhia], o nosso vilão, que sem escrúpulos persuade o comandante do navio para aumentar a velocidade e assim conquistar as manchetes da imprensa. 

O filme contou com alguns infortúnios e “peripécias”; desde o seu realizador Herbert Selpin ser detido pela Gestapo após críticas ao regime (foi encontrado enforcado na sua cela no seguinte dia), o orçamento mastodôntico, a proibição do filme em território alemão (Goebbels achou por bem privar o povo alemão de um filme sobre uma tragédia), a ostentação enquanto "filme-troféu" pela União Soviética no fim da Guerra. Contudo, é a história transversal à sua produção que nos “surpreende”, o navio de luxo Cap Arcona aqui usado como o suposto Titanic, mais tarde “requisitado” pelos Aliados para evacuar os sobreviventes do campo de concentração de Neuengamme. Foram acidentalmente bombardeados pela Real Força Aérea de Inglaterra durante a operação, no Mar Bâltico, um dia antes do final da Guerra. Mais de 4 mil pessoas perderam a vida, mais do dobro da tragédia titânica no Atlântico Norte.

Como peixe na água ...

Hugo Gomes, 19.12.22

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Foram precisos 15 anos para que o Mundo estivesse preparado para uma sequela de “Avatar”. O tempo, segundo James Cameron, foi necessário para aperfeiçoar a tecnologia, essa, capaz de consolidar com a visão secretamente permanecida na memória do realizador. O feito havia sido cumprido através do primeiro - esse estrondoso êxito já planeado desde 1995 e apenas materializado num CGI sofisticado em 2009 - a passagem de uma nova década de cinema e de onde convém afirmar a época depois de “Avatar” na indústria (o qual nunca mais foi a mesma). 

Durante a promoção deste regresso ao universo que o próprio concebeu de raiz - Pandora - Cameron teceu duras críticas à abundância e à qualidade de muitos efeitos visuais em inúmeras produções hollywoodianas, nomeadamente aos episódios marvelescos (os dominantes do mercado atual), que usufruem as possibilidades do CGI em modo de máquina de montagem. Um facilitismo apoiado nessa tecnologia estagnada, enquanto que o realizador utilizava esses avanços tecnológicos como progressão para a sua própria “ciência”, mantendo-se na crista do constante upgrade. Se houve esse pós-Avatar, obviamente existirá um pós-Avatar 2, esta história tecnológica a passar em frente dos nossos olhos, até porque Cameron sempre assumiu como um catalisador quanto a esse percurso paralelo à forma e às fórmulas - seja “Aliens” (1986), “The Abyss” (1989), obviamente “Terminator 2: Judgment Day (1991) e porque não “Titanic” (1997) - a megalomania das suas produções estabeleceram marcos delineadores no terreno que muitos trilharam para o alcançar. Ignorar “Avatar” nesse contexto, é equivalente a enterrar “Matrix” dos(as) Wachowski como mero frenesim sci-fi, ignorando uma indústria que se moldou à sua imagem (no caso deste novo “Avatar”, muito do CGI brindados nos últimos dez anos, automaticamente tornaram-se obsoletos) .

Quanto à revisitação de Pandora, a experiência cinemática mantêm-se no seu esplendor, é a sensorialidade que continua a motivar espectadores das mais diferentes classes, estirpes, origens e identidades [vi-o numa sessão comercial em pleno dia de estreia, lotado e interagido com o público], é a promessa de algo deslocado às suas realidades que os encanta, é o fazer uso da mais básica “propaganda” das comerciais cadeias de cinema - “levar-nos a mundos diferentes, nunca antes vistos”. Porém, se o primeiro nos prepara esse carris circense com uma longa introdução quanto à sua distopia, da básica carne até à transfusão totalizada num corpo digital, o planeta abundante de selvas que acerca e afaga a narrativa, aqui, neste segundo tomo, somos levados sem anestesias algumas a esse mundo, 13 anos depois. Os nossos olhos não obtiveram aviso prévio para o “mergulho” digitalizado, Cameron confiou em demasia na sua imaginação para nos hipnotizar, basta dar um passo para cedermos a precipício.

Avatar: The Way of Water” será pintado nesse deslumbre na cultura popular, mas revela-se fruto de obsessão do seu criador, meio umbiguista que nos remete aos diversos manuais ou auto-ajuda para que finalmente tenhamos o “gosto” desse seu canto secreto. As selvas dão lugar a recifes esplendorosos, e aí uma nova cultura de raiz entra na “goela” do espectador. Como peixe na água, Cameron nada nessa biosfera que tanto ama, esquecendo por vezes da sua história, da sua intriga e das relações que promete enquanto base da sua programada viagem. Se é verdade, que o próprio nunca vangloriou de ser o melhor “escritor”, a sua arte encontra-se no visual, espampanante visual convém sublinhar, e na sua concepção, também não é mentira alguma que não se trata de um verdadeiro mentecapto em matéria de construir simples e básicas linhas de “storytelling”. A narrativa é de apelo popular, funciona nesses moldes, não necessita de mais, porque “pagou-se” bilhete para distanciar da nossa realidade. 

O azul apodera-se, desta vez, abrindo caminho, e não somente de água, e sim para possíveis sequelas, já pensadas pelo seu autor. Fica a questão do quão tempo iremos esperar, e que novas progressões Cameron irá preparar no futuro.  

David Warner, o inglês sisudo (1941 - 2022)

Hugo Gomes, 27.07.22

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The Omen (Richard Donner, 1976)

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Titanic (James Cameron, 1997)

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Time Bandits (Terry Gilliam, 1981)

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Michael Kohlhaas - Der Rebell (Volker Schlöndorff, 1969)

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Time After Time (Nicholas Meyer, 1979)

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TRON (Steven Lisberger, 1982)

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Morgan: A Suitable Case for Treatment (Karel Weisz, 1966)

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The Fixer (John Frankenheimer, 1968)

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In the Mouth of Madness (John Carpenter, 1994)

Escolhendo um outro destino “Para John”

Hugo Gomes, 02.11.19

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Estreado em 1984, com Arnold Schwarzenegger, que construía uma sólida carreira na ação desde o sucesso de “Conan the Barbarian” (John Milius, 1982), como cabeça de cartaz, “Terminator” (em Portugal com o tão mítico título “O Exterminador Implacável”) abraçava o chamado cyberpunk e recorria com alguma astúcia as suas limitações para se estender como uma ficção científica de ação esteticamente tosca, mas valentemente concertada. Após o êxito e o culto, James Cameron [o realizador], requisita tudo o que aprendeu na musculosa sequela de “Alien” para executar um dito upgrade.

Passamos então para 1991, e com um orçamento mais avantajado, o filme aventura-se pelas odes da paternidade ao som pré-apocalíptico e do cabedal da tão agora formada estrela Schwarzenegger. “T-2: Judgement Day” foi um tremendo sucesso de público, crítica e valores técnicos de produção, nomeadamente os efeitos especiais num ainda CGI em desenvolvimento que redefiniu todo um conceito de criação no ramo. Anos seguiram e com Cameron a abraçar o fundo do mar após o ainda mais bem-sucedido “Titanic”, o realizador manteve-se fora dos planos de continuação da saga de John Connor e o seu Terminator.

O dito messias encontrou novo desafio na forma de Kristanna Loken em “Rise of the Machines” (com direção de Jonathan Mostow em 2003), que de certa forma funcionou como um recapitular de uma fórmula vendida vezes sem conta. A invenção surgiu em 2009 com “Salvation”, centrando o enredo no futuro pós-apocalíptico sempre mencionado nos capítulos anteriores. Porém, esse mesmo cenário futurista nada distanciava no imaginário comum cinematográfico, logo, mesmo com Christian Bale e Sam Worthington (que iria trabalhar com Cameron no tecnologicamente ambicioso “Avatar”), o filme não conseguiria cumprir o seu principal objetivo, arrecadar novos fãs para continuar o franchise sob o sabor de outros ventos.

Portanto é aqui que entra o dito “mambo jambo“, e da pior maneira com “Genisys” (assumido por Alan Taylor), um fracasso de bilheteira que pretendia instalar novas continuidades no enredo. O resultado foi o oposto e o regresso do envelhecido Schwarzenegger foi até ele incapaz de agarrar a nostalgia, ele que hoje é visto como ouro nos sucessivos reboots de sagas hollywoodescas. Devido a isso, “Terminator” caiu no limbo, prescrevendo-se como um morto para futuras gerações, até que Cameron arranca “a ferros” o moribundo pela crina e transporta-o para uma espécie de novo início, um reboot que apagaria os erros cometidos pós-T2. E fá-lo utilizando o mesmo dispositivo pelo qual “Genisys” foi brutalmente criticado: a desculpa do tempo reversível e das diferentes dimensões criadas por essa manipulação.

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“Dark Fate” (“Destino Sombrio”) arranca com o corte de uma amarra – John Connor – para depois induzir-nos numa revisão dos locais que fizeram Terminator no marco da cultura popular que sempre referenciamos. Só que aqui, ao invés de cometer a emancipação insegura de “Genisys”, somos levados a uma tendência tão em voga na indústria corrente – esse dito saudosismo mercantil. É com Linda Hamilton, a heroína dos dois capítulos seminais, uma mulher envelhecida, e um certo fatalismo a demonstrar a sua garra no género. A atriz vem ao encontro de outro ícone recentemente ressuscitado – Jamie Lee Curtis em “Halloween” –, mas aqui com um filme que joga a favor do seu legado e do peso da sua personagem. Sim, é com Hamilton que o espírito desta obra parece reencontrar-se, mas antes dela a tocha do protagonismo pertencia a uma dinâmica Mackenzie Davis, a nova “Terminator”, mais concretamente um híbrido entre humano e máquina (ideias emprestadas a “Salvation”), que com a sua pose andrógina adquire o tom de uma autêntica “action figure“.

E Hamilton toma a posse desse “fardo”, martirológica e ao mesmo tempo iconográfica, atando as pontas inicialmente soltas – a nova geração e a memória de um passado. O filme, cuja a batuta é detida por Tim Miller (“Deadpool”) e sob a responsabilidade de Cameron na produção, rebaixa como palanque essas mesmas recordações. “Terminator” pode ser uma saga que narrativamente fala de um futuro não longínquo ainda a desenrolar, mas é cinematograficamente um “filme sobre o passado” e a equipa aqui encarregada sabe-o bem. É aí que entra Arnold Schwarzenegger e a “magia” acontece quando se unem os dois veteranos no mesmo espaço.

“Dark Fate” apodera-se dessa carga nostálgica, porque até aqui o espectador preocupa-se com estas personagens, com os seus destinos e destinatários. A partir daí tudo corre como o planeado. Uma exposição oleada concentrada pelos códigos do espetáculo industrial. Todavia, será este o rumo “correto” de voltar a abordar a saga, até porque a vénia ao seu misticismo é respeitado? Possivelmente terminaríamos com mais um “I’ll Be Back“, captado de forma irónica por Linda Hamilton, mas cá entre nós preferimos “For John“, sem dúvida.

O meu Cinema é feito de Mulheres!

Hugo Gomes, 09.03.19

Não é só o dia 8 de Março que as mulheres devem celebradas, aliás, o dia da Mulher deve ser, sobretudo, normalizado. Todos os dias são dias de mulheres, e todas as mulheres fazem parte dos nossos dias. Como tal, eis o meu contributo, as mulheres especiais que integram o meu Cinema … digo por passagem, que são somente algumas.

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"I'll be back" ... e não é que voltou!

Hugo Gomes, 21.10.15

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Vindo do futuro, James Cameron parece ter feito upgrade aos seus então erigidos códigos de cinema de ação. Tal como havia feito num franchise “emprestado” - “Alien”, de Ridley Scott - transformando-o na musculosa sequela que fora “Aliens” (1986, que por cá obteve o subtítulo de Reencontro Final), Cameron volta a casa, mais precisamente, à ficção científica que havia concretizado em 1984 (“The Terminator”) e constrói um enredo digno de nota, a ação cinematográfica merecedora de registo poético e acima de tudo do estatuto de espetáculo, o filme-evento que hoje em dia perdemos .

Depois de ter catapultado o “Mister Universe” para o estrelato lá para os lados de Hollywood (Arnold Schwarzenegger), o cineasta remexe nos modelos contraídos em “The Terminator” e oferece-nos uma “faca de dois gumes” quanto ao seu conceito de “continuação”. Utilizando as viagens de tempo como argumento necessário para estas novas possibilidades de exploração, “Terminator 2” é bigger and louder, mas nem por isso menos sóbrio, aliás consegue incutir uma humanização acentuada nas suas personagens, inclusive na inesperada relação entre o messiânico John Connor (aqui Edward Furlong a motivar a personagem) e o seu anterior assassino e antagonista, o “Terminator” que é Arnold, a servir do mais perfeito anti-herói dos anos 90. A sua ligação tem de paternal como fraternal, e essa mesma afetuosidade serve como apelo para os preceitos frenéticos que Cameron implemente, aliás nem tudo são “bonecos para destruição”, existindo sim, um verdadeiro objetivo, uma humanidade a ser preservada, e melhor, personagens com que o espetador se possa preocupar nestes trilhos apocalípticos.

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No seio desta corrida contra ao tempo – impedir um derradeiro evento futuro, apelidado de “Dia do Julgamento”, de ocorrer – encontramos um vilão formidável, T-1000, um Robert Patrick tão inexpressivo como qualquer máquina industrializada, tecido pelos mais avançados e desafiantes efeitos visuais da altura (sendo deslumbrantes ainda hoje) e pelo rico trabalho prático de Stan Winston (também ele designer da imagem do dito Exterminador), que se concentra como a pura raiz do mal, frio e calculista, ausente de carisma humanizada. Um jogo de gato e rato complementado com uma das mais cobiçadas heroínas do nosso tempo, Sarah Connor, uma Linda Hamilton que demonstra o quão possível é que uma mulher protagonize a ação ao lado dos ícones do género. Relembramos que James Cameron é um dos autores desta inserção da imagem da Mulher no panorama da ação, visto que havia cinco antes [“Aliens”] pegado nos “rascunhos” deixados por Ridley Scott e definir Ellen Ripley (Sigourney Weaver), no mais perfeito modelo de “mulher de armas” desde então.

São estes os ingredientes que nos levam, literalmente, à loucura numa jornada com o pé constantemente pressionado no pedal do acelerador. Pois é, com sequências de pura ação que ficaram para a História, uma heroína inesquecível, cúmplice de um anti-herói imitado vezes sem conta e um vilão que nos faz temer, a não esquecer de uma intriga astuta, avassaladora e envolvente sem nunca vergar pelo ridículo ou a pura risibilidade. Eis um modelo acima do anterior “The Terminator”, este T-2, como é carinhosamente chamado, assume-se como uma pequena “peça de arte” no sistemático regime do entretenimento cinematográfico. Incrivelmente um dos filmes mais entusiásticos da sua década (e uma das suas mais conhecedoras influências), a provar que James Cameron deveria licenciar cursos de como fazer sequelas, e como deveria ter, com todo o respeito, estabelecer o estatuto de artesão do cinema de ação, talvez um dos maiores da sua classe.

Terminator 2: Judgment Day” bem poderia funcionar como o brinquedo jubilante para autores como Philip K. Dick ou Isaac Asimov, enquanto isso cai na apropriação no cinema mais circense, porém, um bom pedaço de circo.