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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Como peixe na água ...

Hugo Gomes, 19.12.22

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Foram precisos 15 anos para que o Mundo estivesse preparado para uma sequela de “Avatar”. O tempo, segundo James Cameron, foi necessário para aperfeiçoar a tecnologia, essa, capaz de consolidar com a visão secretamente permanecida na memória do realizador. O feito havia sido cumprido através do primeiro - esse estrondoso êxito já planeado desde 1995 e apenas materializado num CGI sofisticado em 2009 - a passagem de uma nova década de cinema e de onde convém afirmar a época depois de “Avatar” na indústria (o qual nunca mais foi a mesma). 

Durante a promoção deste regresso ao universo que o próprio concebeu de raiz - Pandora - Cameron teceu duras críticas à abundância e à qualidade de muitos efeitos visuais em inúmeras produções hollywoodianas, nomeadamente aos episódios marvelescos (os dominantes do mercado atual), que usufruem as possibilidades do CGI em modo de máquina de montagem. Um facilitismo apoiado nessa tecnologia estagnada, enquanto que o realizador utilizava esses avanços tecnológicos como progressão para a sua própria “ciência”, mantendo-se na crista do constante upgrade. Se houve esse pós-Avatar, obviamente existirá um pós-Avatar 2, esta história tecnológica a passar em frente dos nossos olhos, até porque Cameron sempre assumiu como um catalisador quanto a esse percurso paralelo à forma e às fórmulas - seja “Aliens” (1986), “The Abyss” (1989), obviamente “Terminator 2: Judgment Day (1991) e porque não “Titanic” (1997) - a megalomania das suas produções estabeleceram marcos delineadores no terreno que muitos trilharam para o alcançar. Ignorar “Avatar” nesse contexto, é equivalente a enterrar “Matrix” dos(as) Wachowski como mero frenesim sci-fi, ignorando uma indústria que se moldou à sua imagem (no caso deste novo “Avatar”, muito do CGI brindados nos últimos dez anos, automaticamente tornaram-se obsoletos) .

Quanto à revisitação de Pandora, a experiência cinemática mantêm-se no seu esplendor, é a sensorialidade que continua a motivar espectadores das mais diferentes classes, estirpes, origens e identidades [vi-o numa sessão comercial em pleno dia de estreia, lotado e interagido com o público], é a promessa de algo deslocado às suas realidades que os encanta, é o fazer uso da mais básica “propaganda” das comerciais cadeias de cinema - “levar-nos a mundos diferentes, nunca antes vistos”. Porém, se o primeiro nos prepara esse carris circense com uma longa introdução quanto à sua distopia, da básica carne até à transfusão totalizada num corpo digital, o planeta abundante de selvas que acerca e afaga a narrativa, aqui, neste segundo tomo, somos levados sem anestesias algumas a esse mundo, 13 anos depois. Os nossos olhos não obtiveram aviso prévio para o “mergulho” digitalizado, Cameron confiou em demasia na sua imaginação para nos hipnotizar, basta dar um passo para cedermos a precipício.

Avatar: The Way of Water” será pintado nesse deslumbre na cultura popular, mas revela-se fruto de obsessão do seu criador, meio umbiguista que nos remete aos diversos manuais ou auto-ajuda para que finalmente tenhamos o “gosto” desse seu canto secreto. As selvas dão lugar a recifes esplendorosos, e aí uma nova cultura de raiz entra na “goela” do espectador. Como peixe na água, Cameron nada nessa biosfera que tanto ama, esquecendo por vezes da sua história, da sua intriga e das relações que promete enquanto base da sua programada viagem. Se é verdade, que o próprio nunca vangloriou de ser o melhor “escritor”, a sua arte encontra-se no visual, espampanante visual convém sublinhar, e na sua concepção, também não é mentira alguma que não se trata de um verdadeiro mentecapto em matéria de construir simples e básicas linhas de “storytelling”. A narrativa é de apelo popular, funciona nesses moldes, não necessita de mais, porque “pagou-se” bilhete para distanciar da nossa realidade. 

O azul apodera-se, desta vez, abrindo caminho, e não somente de água, e sim para possíveis sequelas, já pensadas pelo seu autor. Fica a questão do quão tempo iremos esperar, e que novas progressões Cameron irá preparar no futuro.  

David Warner, o inglês sisudo (1941 - 2022)

Hugo Gomes, 27.07.22

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The Omen (Richard Donner, 1976)

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Titanic (James Cameron, 1997)

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Time Bandits (Terry Gilliam, 1981)

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Michael Kohlhaas - Der Rebell (Volker Schlöndorff, 1969)

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Time After Time (Nicholas Meyer, 1979)

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TRON (Steven Lisberger, 1982)

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Morgan: A Suitable Case for Treatment (Karel Weisz, 1966)

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The Fixer (John Frankenheimer, 1968)

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In the Mouth of Madness (John Carpenter, 1994)

O meu Cinema é feito de Mulheres!

Hugo Gomes, 09.03.19

Não é só o dia 8 de Março que as mulheres devem celebradas, aliás, o dia da Mulher deve ser, sobretudo, normalizado. Todos os dias são dias de mulheres, e todas as mulheres fazem parte dos nossos dias. Como tal, eis o meu contributo, as mulheres especiais que integram o meu Cinema … digo por passagem, que são somente algumas.

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"I'll be back" ... e não é que voltou!

Hugo Gomes, 21.10.15

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Vindo do futuro, James Cameron parece ter feito upgrade aos seus então erigidos códigos de cinema de ação. Tal como havia feito num franchise “emprestado” - “Alien”, de Ridley Scott - transformando-o na musculosa sequela que fora “Aliens” (1986, que por cá obteve o subtítulo de Reencontro Final), Cameron volta a casa, mais precisamente, à ficção científica que havia concretizado em 1984 (“The Terminator”) e constrói um enredo digno de nota, a ação cinematográfica merecedora de registo poético e acima de tudo do estatuto de espetáculo, o filme-evento que hoje em dia perdemos .

Depois de ter catapultado o “Mister Universe” para o estrelato lá para os lados de Hollywood (Arnold Schwarzenegger), o cineasta remexe nos modelos contraídos em “The Terminator” e oferece-nos uma “faca de dois gumes” quanto ao seu conceito de “continuação”. Utilizando as viagens de tempo como argumento necessário para estas novas possibilidades de exploração, “Terminator 2” é bigger and louder, mas nem por isso menos sóbrio, aliás consegue incutir uma humanização acentuada nas suas personagens, inclusive na inesperada relação entre o messiânico John Connor (aqui Edward Furlong a motivar a personagem) e o seu anterior assassino e antagonista, o “Terminator” que é Arnold, a servir do mais perfeito anti-herói dos anos 90. A sua ligação tem de paternal como fraternal, e essa mesma afetuosidade serve como apelo para os preceitos frenéticos que Cameron implemente, aliás nem tudo são “bonecos para destruição”, existindo sim, um verdadeiro objetivo, uma humanidade a ser preservada, e melhor, personagens com que o espetador se possa preocupar nestes trilhos apocalípticos.

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No seio desta corrida contra ao tempo – impedir um derradeiro evento futuro, apelidado de “Dia do Julgamento”, de ocorrer – encontramos um vilão formidável, T-1000, um Robert Patrick tão inexpressivo como qualquer máquina industrializada, tecido pelos mais avançados e desafiantes efeitos visuais da altura (sendo deslumbrantes ainda hoje) e pelo rico trabalho prático de Stan Winston (também ele designer da imagem do dito Exterminador), que se concentra como a pura raiz do mal, frio e calculista, ausente de carisma humanizada. Um jogo de gato e rato complementado com uma das mais cobiçadas heroínas do nosso tempo, Sarah Connor, uma Linda Hamilton que demonstra o quão possível é que uma mulher protagonize a ação ao lado dos ícones do género. Relembramos que James Cameron é um dos autores desta inserção da imagem da Mulher no panorama da ação, visto que havia cinco antes [“Aliens”] pegado nos “rascunhos” deixados por Ridley Scott e definir Ellen Ripley (Sigourney Weaver), no mais perfeito modelo de “mulher de armas” desde então.

São estes os ingredientes que nos levam, literalmente, à loucura numa jornada com o pé constantemente pressionado no pedal do acelerador. Pois é, com sequências de pura ação que ficaram para a História, uma heroína inesquecível, cúmplice de um anti-herói imitado vezes sem conta e um vilão que nos faz temer, a não esquecer de uma intriga astuta, avassaladora e envolvente sem nunca vergar pelo ridículo ou a pura risibilidade. Eis um modelo acima do anterior “The Terminator”, este T-2, como é carinhosamente chamado, assume-se como uma pequena “peça de arte” no sistemático regime do entretenimento cinematográfico. Incrivelmente um dos filmes mais entusiásticos da sua década (e uma das suas mais conhecedoras influências), a provar que James Cameron deveria licenciar cursos de como fazer sequelas, e como deveria ter, com todo o respeito, estabelecer o estatuto de artesão do cinema de ação, talvez um dos maiores da sua classe.

Terminator 2: Judgment Day” bem poderia funcionar como o brinquedo jubilante para autores como Philip K. Dick ou Isaac Asimov, enquanto isso cai na apropriação no cinema mais circense, porém, um bom pedaço de circo.