Tragédia em plena harmonia com o Cinema!
Apesar do título, “Vanishing Point”, a primeira longa-metragem de Jakrawal Nilthamrong ("Patterns of Transcendence"), nada de relacionado tem para com o homónimo clássico de culto que Richard C. Sarafian assinou em 1971, ainda que em ambos os automóveis desempenhem um papel fulcral, as abordagens não podiam ser mais distintas. Nilthamrong constroi um projeto profundamente pessoal, transpondo para a grande tela uma tragédia familiar: um acidente rodoviário a 17 de setembro de 1983, no qual os pais do realizador ficaram gravemente feridos. Um trauma que se enraizou na memória do cineasta e, inevitavelmente, na sua filmografia.
A obra arranca com fotos do jornal desse mesmo acidente, uma ocorrência que logo Nilthamrong tenta exorcizar através de um enredo fictício, contemplativo, sobre dois homens que tentam lutar contra as suas dores interiores. O realizador afirmou que fazer cinema é como tocar jazz, um exercício de improvisação em que a combustão dá origem à melodia. No entanto, se o jazz é ritmo, “Vanishing Point” habita na ausência dele, privilegiando a emancipação da câmara sobre qualquer ilusão de linearidade narrativa. Por outro lado, parece situar-se algures entre Antonioni, deixando-se consumir pelas pausas e pela deriva no espaço — um olhar quase documental que revela a matriz experimental do realizador. No entanto, mesmo dotado de uma gramática visual fluida e meticulosamente composta, o filme perde-se na sua própria introspecção, oscilando entre o etéreo e o inconsequente.
As primeiras cenas, uma encenação masturbatória para com o crime em si, são desvanecidas por imagens vazias. O misticismo também faz parte desta fantasia torturante e fetichista, como se o cineasta a tornasse um escape para a dor real que vive constantemente e que dificilmente esquece. Há um excesso de auto-indulgência, um enclausuramento na subjetividade que esbate qualquer ressonância universal, tornando-se menos um ensaio sobre o luto e mais um reflexo do vazio que, ironicamente, procura preencher.