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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

"Que cinema mais velho", ouviu-se na plateia ...

Hugo Gomes, 11.11.17

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O maior de todos os críticos de arte, é incontestavelmente o tempo, e é graças à sua apreciação que muitas das criações do escultor Auguste Rodin foram consagradas até aos dias de hoje. Inevitavelmente, a figura por detrás do Pensador e da estátua de Balzac, serve de ensaio para uma cinebiografia encomendada, e para lugar de “tarefeiro” surge-nos um dos nomes mais subvalorizados do cinema francês, o veterano Jacques Doillon (“Ponette”, “Le Petit Criminel”), e como encarnação do artista, Vincent Lindon em mais uma fusão de homem à deriva.

À deriva nos sentimos desde os primeiros planos em que deambulamos no atelier de Rodin, com o ator a dar graças por este desempenho carrancudo e de sedução frívola. Tal como o ofício, “Rodin” [filme] vai-se construindo desde passos deliciados e cuidadosos até a arranques grosseiros e pesarosos, há uma essência de distorção da arte de esculpir, com a paciência mas sem a devida dedicação à criação que nasce perante os sonhos do Homem. Como biografia, “Rodin” é derrocada, emancipada do seu espectador, que poderá indiciar um tom de autodidatismo quase pedante. Esquecemo-nos da sua jornada e a História é citada como aquário de vida artificial. Até mesmo quando se é inserido um conflito em toda esta veia, desde a “rivalidade” com a sua paixão e igualmente escultora Camille Claudel (mais talentosa do que aquilo que o filme pressupõe), até à obsessão balzaquiana que vai auferindo uma certa instigação “truffautiana”, obviamente, endurecida como uma sugestão e não um vínculo avante.

Por entre ateliers, outdoors, mansões e noites de prazer, “Rodin” esbarra no vazio da sua própria demagogia. No final da sessão de apresentação à imprensa no Festival de Cannes, alguém grita de pulmões plenos, dirigindo aos créditos finais e de certa forma, se dirigindo ao Mundo: “que cinema mais velho!”. Mais do que isso, mais do que essa impressão em frente aos velhos do Restelo, “Rodin” é cinema obsoleto, quieto no seu tempo, sem a mínima noção de criação. O tempo, como crítico, nos dirá se a obra de Jacques Doillon será um dos persistentes, mas as apostas deste lado apontam para uma resposta negativa.