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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Amar os avós que não nos amam

Hugo Gomes, 10.03.23

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Rue de l'Estrapade (Jacques Becker, 1953)

“Não há muito tempo, estava eu a ver a “História Parisiense" [“Rue de l'Estrapade”], de Becker, na TV por cabo, e não conhecendo bem Jacques Becker, senti-me um pouco envergonhado, pois ele terá sido o único cineasta que, na altura da minha saída da infância, amou a juventude dos actores franceses de então, esses jovens como Daniel Gélin e Louis Jourdan ou Anne Vernon, que tinham tudo para ser os primeiros jovens a estrelar no pós-guerra. Pois, nada disso aconteceu. Não sei o que se passou, mas, dez anos depois, ainda antes da Nouvelle Vague, os cabeça-de-cartaz do cinema francês eram novamente os monstros sagrados de entre as guerras: Fernandel, Gabin, Fresnay, Brasseur, Noël-Noël. Portanto, o que o cinema francês estava a oferecer a uma criança francesa, como eu, eram os seus avós, o vovô e a vovó, decerto fantásticos, mas bastantes amargurados e anti-jovens. Era preciso amar a forma como eles não nos amavam!”

- Serge Daney entrevistado por Serge Toubiana  [Fevereiro, 1992], publicado sob o título "Perseverança" (edição portuguesa, com tradução de Luís Lima, publicado pela The Stone and the Plot)