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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Minas e Armadilhas

Hugo Gomes, 14.04.25

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O recordista de vendas de jogos electrónicos não escapou às “garras” de David Zaslav e da sua franchisada Warner Bros, como havia sido anunciado a 1 de Abril — e não é mentira — o estúdio histórico decidiu expulsar dos seus planos os “filmes de autor”, apostando numa linha de sequelas e outros produtos com potencial para se tornarem sagas. É o cinema americano a render-se à passividade, na sua essência de entretenimento e nada mais, ainda assim espelhando os vícios tendenciosos da produção.

Em "A Minecraft Movie", começamos com um aviso: nos créditos iniciais, é possível ver a listagem de cinco argumentistas. Cinco!! No fim das contas, o quinteto serve de base para o previsível, algorítmico e reluzente espectáculo de easter eggs constantes, e sob a batuta de Jared Hess ("Napoleon Dynamite"), deparamos com um produto transformado em filme, cuja única intenção parece ser o de vender o próprio produto. É isto que a gerência de Zaslav pretende: vender, vender, vender, até ao limite dos seus recursos “criativos”.

Ao contrário, e vindo da mesma casa e do mesmo processo, "Barbie" brindou-nos com iguais ambições comerciais, mas com um volte-face ao desconstruir os valores da matéria-prima. Em "A Minecraft Movie", há uma exaltação daquilo que o jogo sempre “premiou” com “valor de moeda”, o de incutir criatividade. É essa a crença de quem esteve na origem, porém, discriminada pelos os produtores revelam descrença, recusando qualquer assunto que caminhe nessa direcção.

O sucesso constrói-se pelo reconhecível, com world building emprestado a outros world buildings (isto soa ao enredo de "Warcraft", ouvido no banco ao lado) e uma infantilização usada como moeda de troca para todas as sensibilidades e é nisto que o cinema se encontra entregue (cinco cabeças pensadoras que concretizam isto!), apenas Jack Black consegue ser o seu próprio idiossincrático, enquanto Jason Momoa ensaia pretensões de auto-ridicularização (o que é bom e, ao mesmo tempo, irrita o ‘sisudo’ Vin Diesel, naquele último capítulo de uma outra saga milenar já sem combustível criativo). A sequela já está a caminho, como se vê na bola de cristal de Zaslav.

Professores, inspirações até no Cinema

Hugo Gomes, 25.02.23

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Jack Black em "School of Rock" (Richard Linklater, 2003)

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Drew Barrymore em "Donnie Darko" (Richard Kelly, 2001)

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Jerry Lewis em "The Nutty Professor (Jerry Lewis, 1963)

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Jeremy Irons em "The Man Who Knew Infinity" (Matt Brown, 2015)

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Russell Crowe em "A Beautiful Mind" (Ron Howard, 2001)

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Sidney Poitier em "To Sir, with Love" (James Clavell, 1967)

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Eddie Murphy em "The Nutty Professor" (Tom Shadyac, 1996)

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Denzel Washington em "The Great Debaters" (Denzel Washington, 2007)

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Ryan Gosling em "Half Nelson" (Ryan Fleck & Anna Boden, 2006)

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Aamir Khan em "Taare Zameen Par" / "Like Stars on Earth" (Aamir Khan, 2007)

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Adrien Brody em "Detachment" (Tony Kaye, 2011)

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Tom Berenger em "The Substitute" (Robert Mandel, 1996)

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Jürgen Vogel em "Die Welle" / "The Wave" (Dennis Gansel, 2008)

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Michellle Pfeiffer em "Dangerous Minds" (John N. Smith, 1995)

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Kevin Kline em "The Emperor's Club" (Michael Hoffman, 2002)

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Robin Williams em "Dead Poets Society" (Peter Weir, 1989)

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Leonie Benesch em "The Teacher's Lounge" (Ilker Çatak, 2023)

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François Bégaudeau em "Entre les Murs" (Laurent Cantet, 2008)

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Valerio Mastandrea em "La Mia Classe" (Daniele Gaglianone, 2013)

... Já andámos por este jogo há algum tempo, mas o dinheiro fala mais alto.

Hugo Gomes, 11.12.19

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Em 2017, algures entre a sequela e o "reboot", “Jumanji” descobriu uma nova vida na densa selva da indústria de Hollywood, com Dwayne “The Rock” Johnson no comando e obviamente mais uns rodriguinhos (e estranhamnete assinado por Jake Kasdan, filho do prestigiado realizador e argumentista Lawrence Kasdan).

Voltemos a 1995 e ao primeiro "Jumanji" sob os ecos de “What year is it?” na deliciosa histeria de Robin Williams (um ator de quem sentimos tanta falta!), para entendermos o culto gerado por uma sofisticada fantasia para miúdos e graúdos. Apesar de ter envelhecido bastante mal, nomeadamente nos efeitos visuais, uma continuação da história do homónimo jogo de tabuleiro (inspirado num livro de Chis Van Allsburg) sempre esteve na lista de desejos dos estúdios.

A alternativa acabou por chegar em 2005 com “Zathura: Aventura no Espaço”, que serviu de uma espécie de "spin-off" espacial com sabor de reciclagem (curiosidade, Kristen Stewart integrava o elenco), mas a solução apenas foi desbravada em 2017 com o poder de Dwayne Johnson, ator que é hoje um dos mais curiosos casos de sucesso a apurar e um dos raros de Hollywood a manter uma espécie de "star system" (algo perdido neste consumo desenfreado por formas de entretenimento). A tal ressurreição chamou-se “Jumanji: Welcome to the Jungle” (em jeito de coincidência, também é o título de um dos precoces filme de Dwayne Johnson, aquele de 2003 ao lado de Sean William Scott que se passava na Amazónia) e o jogo de tabuleiro que Robin Williams jogava com uma “gaiata Kirsten Dunst tornava-se um esboço: o dispositivo passava a ser é uma "vintage" consola semelhante ao Super Nintendo.

O resultado foi um inesperado sucesso da Sony Pictures, com uns impressionantes 900 milhões de dólares em bilheteiras mundiais que criaram para esta saga moribunda um percurso de respeito (mesmo com um “Star Wars” estreado bem próximo da mesma data). E como é lei em Hollywood, sucesso é igual a sequela e assim nos é oferecido, novamente na mesma época natalícia, o chamado “Next Level” (novamente sob a batuta Kasdan), com os mesmos dados. Em “Welcome to the Jungle”, o ritmo, o elenco e o artificial sentido de aventura guiavam um filme de risco para as extremidades do despreocupado produto, enquanto esta continuação sobrevive à conta de restos.

Os pormenores não adiantam nem avançam no reino do entretenimento fácil e mesmo com aquisições de peso (Danny DeVito, Danny Glover e, por que não, Awkwafina), este novo “Jumanji” é incapaz de superar o registo piloto-automático do argumento, escrito às três pancadas e rodeado dos mais entranhados e cansativos clichés, onde nem mesmo os gags disfuncionais e cada vez mais imaturos parecem funcionar. Fora isso, é mais do mesmo, com um ritmo tremido e por vezes conduzido para uma mensagem "bigger than life" [maior do que a vida] que apenas ganha sentido com o afeto que temos pelos atores veteranos nas suas personagens envelhecidas.

Quanto à estrela, Dwayne Johnson, no registo híbrido da comédia e ação, está como peixe na água ao lado de um sempre exagerado Kevin Hart. Sim, há química, mas falta a isto tudo coração e isso ainda faz sentir mais saudades do filme com Robin Williams...