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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Só o decote fica ...

Hugo Gomes, 05.10.22

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Joana Metrass em “A Fada do Lar” (João Maia, 2022)

Para os mais "calejados" do panorama audiovisual português (palavra “feia”, eu sei, mas foi a única forma encontrada para conjugar a produção televisiva e a produção cinematográfica), a merecida pergunta será - quem é Joana Metrass?

Pois bem, a verdade é que a atriz, e protagonista da segunda longa-metragem de João Maia [já lá vamos] anda neste meio há muito ano, inclusive em indústrias do outro lado do Oceano. Só para enumerar, trabalhou com Guy Ritchie no subvalorizado “The Man from U.N.C.L.E.” (em 2015, como assistente da personagem de Elizabeth Debicki), fez uma “perninha” no fracassado reboot de “Dracula Untold”, porém, o seu considerado ponto mais alto de carreira talvez tenha sido a série “Once Upon a Time” na pele de Rainha Guinevere. Isto tudo para afirmar que, de facto, Metrass é o melhor que este “A Fada do Lar” tem para nos oferecer, e opondo ao marketing, assume-se mais do uma “pin-up” de esfregona.

Expressiva, carismática e com o seu quê de doçura (contrariando, e muito, o estereótipo que a sua personagem poderia atingir e os “decotes” que tal imagem acarreta), ela é a “rainha” de um exercício de boas intenções, territórios familiares e um argumento impreciso quanto à direção a tomar (culpa do guionista André Guerra dos Santos). João Maia, que assinou a hercúlea produção de “Variações” (2019) - transformando Sérgio Praia no cantautor de “Canção de Engate” por excelência (nele vimos um tipo raro de desempenho no nosso país, assim como o formato biopic, que mesmo sob as suas limitações, resultou em algo devidamente hábil em grande ecrã) - é demasiado anónimo para com este objeto à imagem de António-Pedro Vasconcelos (segundo consta, o projeto seria inicialmente assinado por ele).

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Joana Metrass em “The Man from U.N.C.L.E.” (Guy Ritchie, 2015)

Nessa feita, o realizador posicionou-se num meio de uma produção “a meio caminho andado” sobre uma mãe solteira (de duas crianças, uma informação que nada incentiva a narrativa) atolada de dívidas, que trabalha como caixa de supermercado durante o dia e stripper durante a noite. Contudo, devido a um incidente com um cliente [na boîte de striptease, pois claro], se vê obrigada a cumprir trabalho comunitário num lar. Como é habitual, seguindo as leis do “crowd pleaser", a sua presença alterará o sistema evidenciado naquele espaço, pelo seu percurso aprendendo algumas "lições" de vida como também a alegria dos residentes seniores (um conjunto luxuoso que vai desde Márcia Breia a Manuel Cavaco, de Cármen Santos ao músico Sérgio Godinho). Ou seja, como se pode verificar na premissa, nada de novo irá acontecer por estas "bandas". Aliás, coincidentemente, não foi há muito tempo que estreava entre nós, uma comédia francesa - “Maison de retraite” (Thomas Gilou, 2022) - que por si tocava em variados pontos-comuns para esta intriga de reabilitação.

Quanto à “manha” de APV, ainda hasteada nesta comédia dramática, é possível deparar a leveza quase cómico-trágica que o 25 de Abril e os respetivos símbolos revolucionários são encarados (de lembrar aquele ridículo diálogo, em que Maria do Céu Guerra explica a um João Jesus, incrédulo, sobre a existência de um Salazar em nosso país, em “Os Gatos Não Têm Vertigem”). Mas fugindo do mal-feito e voltando a ressaltar: “A Fada do Lar” é um show limitado onde Joana Metrass brilha.

Quanto aos “decotes” (que poderiam resumir uma transição ao puritanismo) permanecem em todo o desenvolvimento da sua personagem. Trata-se da única manga arregaçada ao conservadorismo que este tipo de produções parecem debitar sem dó, nem piedade. Valha-nos isso!

Wrath of Man: a vingança requer paciência ... e estimulo

Hugo Gomes, 14.05.21

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Jason Statham, action man como bem conhecemos revisita o velho “bastard” Guy Ritchie, supostamente amadurecido, resultando num típico filme de vingança de proporções desejosamente bíblicos. Estilizado e virtuoso tecnicamente, eis o conto de violência citadina, continuamente rude e másculo, que se disfarça de mero ensaio de ação para ambicionar os “céus”. Pena, que por dentro dessa sua modesta proposta exista uma intenção de confundir o espectador, e inconsequentemente, tornando-se quase condescendente para com este. Fora isso, é capaz de ser a melhor ‘coisa’ que Ritchie tocou em valentes anos.   

"King Arthur: Legend of the Sword": Camelot, esse lugar "parvo"!

Hugo Gomes, 12.05.17

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A Espada era a Lei, mas nas mãos de Guy Ritchie só vemos a desordem. Eis um tratamento puramente estilístico da velha história de espadas cravadas em rochas, senhoras do lago e magos repletos de profecias que esbarram com o tom caótico do realizador britânico. Nesse sentido, é difícil não assumir que estamos perante um filme da sua autoria: os slows vaivéns, as lutas corpo-a-corpo e os voluntariamente atrapalhados planos de golpes sob a consciência do humor negro, tendem em marcar posição na enésima narrativa de A a B com “escolhidos” pelo caminho e uma narrativa despedaçada pelo constante “fast forward”.

O que funcionou em “Sherlock Holmes” (mais no capítulo inaugural que na sequela, sejamos sinceros) falha redondamente nesta jornada a Camelot, uma obra aplicadíssima às temáticas e linguagem dos modelos de entretenimento atual, contraindo uma estrutura endereçada aos videojogos (depois deles invejarem o Cinema, é a vez deste último cobiçar a plataforma do primeiro). Convém dizer que Charlie Hunnam (que encontrou melhor sorte em “The Lost City of Z”, de James Gray) não é certamente o nosso tão procurado monarca, nem sequer um herói com que devidamente nos preocuparíamos, onde é evidente a sua falta de carisma. O resto da equipa, estes cavaleiros da távola redonda, é pura e dispensável palha para contribuir para duas horas de vazio; histórias mais antigas que o tempo e que mesmo assim, não se assumem expiradas. Guy Ritchie fracassa e com essa sua incapacidade desperdiça uma aventura que salienta uma preocupante falta de ideias.

Quando é que Hollywood vai aprender a lição? Ou melhor, quando é que vão terminar estas ditas produções suicidas? Não estará o espectador cansado destas sofisticações que não são mais do que mofo cinematográfico? Sendo assim, mais vale seguir os conselhos dos Monty Python na busca pelo Cálice Sagrado: “On second thought, let’s not go to Camelot, ‘tis a silly place” (“Pensando melhor, não vamos para Camelot, é um sítio parvo”).