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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

A.I. por A.I., no que é que o cinema "original" se tornou?

Hugo Gomes, 29.09.23

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É na atualidade pertinente (com uma greve sindicalista de argumentistas e atores à mistura) que nos chega um filme como "The Creator", uma produção distópica apropriada pela Disney (uma vez que a 20th Century Studios, sem a Fox, é apenas uma fachada), que viabiliza uma luta entre uma sociedade militarista, mas humana (EUA, quem mais?) e uma nação mista com androides de A.I. nas lides de uma insurreição. "A A.I. é 'amiga'", lê-se nas entrelinhas, encontrando refúgio num super-país multicultural situado em territórios asiáticos não definidos (só que reconhecíveis). Oriente contra Ocidente e vice-versa... Que leituras geopolíticas, bem como sociais, podemos fazer aqui!?

Apesar de poucos recursos e financiamento, mas com ideias e cautela em abundância, Gareth Edwards passou de "Monsters" (2010) - um "darling" indie de ficção científica com extraterrestres girafídeos a invadir o nosso mundo e um drama intimista como pano de fundo - para milionários capítulos de sagas duradouras (ora "Rogue One", uma versão lobotomizada de "Star Wars" agraciado excessivamente pelos adeptos, ora "Godzilla", o reboot à americana com espírito nipónico-trash), embarcando posteriormente no meio-termo naquilo que tem sido catalogado como uma distopia original, o que levanta algumas questões quanto aos termos a serem usados, e muito mais nas consequências pós fenómeno “Barbenheimer” ainda por apurar.

A verdade é que é através da sua não-originalidade que "The Creator" transmite uma sensação de frescura, uma mera máscara facial, tal como aquela "vendida" aos seres sintéticos que “sonham com a ovelha elétrica” (saudação a Phillip K. Dick, porque em nenhum momento “Blade Runner” abandonou a minha mente), inspirada por lugares exóticos, como a Ásia vista através de postais ou em coletivas memórias oriundas do nosso século passado (é difícil não pensar no Vietname, sob os seus signos cinematográficos, quando assistimos às inúmeras intervenções militares dirigidas por uma ácida Allison Janney). Nesse sentido, o seu lado não-franchisado - se for bem-sucedido no teste do box-office - poderá promover uma nova onda de produções em Hollywood (a revenda de produções recicladas como "originais", matando a sede de um público em tremenda secura criativa). No entanto, o Cinema não deve ser apenas visto como um negócio, mas também como um veículo de ideias, e, como a ficção científica é um género repleto delas, esperava-se mais do que simplesmente o mero emaranhamento dos velhos tópicos. As ideias estão apenas soltas como borboletas, orbitando em torno do seu objeto graciosamente, porque a maior parte do filme consiste (e insiste) em lugares-comuns, presos a um esquemático mundo construído, e de nariz empinado (ai, “cinema adulto para massas”, julga ele).

São clichés até à quinta casa, reunião de elementos básicos para o espectáculo global, previsivelmente priorizando a emoção (manipuladora) em detrimento da razão, ou, melhor dizendo, da ideologia (escondida naquele molho de choraminguices). E para um filme que aborda questões pertinentes, esperava-se mais discernimento do que instinto contido, mais do que plataformas messiânicas ou sacrifícios heróicos, e acima disso, além de um dominante belicismo. Em suma, "The Creator" fala sobre a humanidade nas A.I. (uma convergência de "espécies", como é referido em certo momento), mas soa como se fosse criação da mesma, seja a nível argumentativo (e narrativo), seja a nível técnico (é preciso ir além do "bem filmado" e considerar que tipo de personalidade, vulgo simbolismos, as imagens nos trazem). É um barrete disfarçado, com mais fama que proveito.

(E)Star Wars

Hugo Gomes, 16.12.16

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Há quem ainda acuse George Lucas de ter sido o “cancro” de uma saga tão querida para milhões. Desde a suas remasterizações e “remexidelas” na trilogia original em múltiplas edições de home video, até aos três filmes produzidos entre 1999 e 2005 que atualmente é esquecido por muitos. Mas não devemos ignorar, que apesar do resultado, Lucas tentou expandir o Universo que ele próprio criou com alguma inovação, quer tecnológica, quer narrativa.

Porém, vivemos num Mundo onde a personalidade parece ser condenável, e depois de uma homage algo cobarde (diga-se por passagem), por parte de J.J. Abrams, chega-nos o intitulado “Rogue One”, uma referência no scroll credits de 1977 que originou um filme sob tons bélicos e de tamanha “piscadela de olhos” a temáticas políticas. Enfim, políticas e Disney nunca se misturaram, relembro o caso de “Captain America: Civil War” onde super-heróis disputavam entre si consoante as suas fraudulentas ideologias. Neste “Star Wars”, tal é o fogo brando do extremismo oriental, como muito media ocidental parece insinuar, e o liberalismo em acordes de guerrilha-ativista, que tenta soar com seriedade neste “world building” formatado.

Contudo, “Star Wars” não é uma distopia política sob o formato de sci-fy, é simplesmente a tentativa de vender e extrair até à última gota uma memória, uma nostalgia e um sentimento que muitos guardam fervorosamente dentro de si. O resultado não é um filme francamente mau em termos técnicos (tirando o uso e o abuso do motion capture para a ressurreição de personagens vencidas, até porque “Peter Cushing is not alive anymore“), é sim, uma réplica, uma obra despersonalizada exercida sobre personagens de tamanha causticidade na sua concepção. Nada de sólido, só “carne para canhão“.

Depois temos os inevitáveis cameos, o fan service a vingar sobre os fãs, e um enredo rotineiro que joga-se forçosamente na cronologia estrelar. Para nosso encanto, é mesmo Ben Mendelsohn a perpetuar como vilão de serviço (mas já está na hora de abandonar a “sacanice“), e a banda-sonora saudosista de Michael Giacchino que segue a tradição de John Williams. Mas fora isso, é a indústria megalómana comanda, transformando, o então astuto Gareth Edwards (que ressuscitou com algum evocativo agrado “Godzilla” em terras estadunienses), num mero “moço de recados“.

Temos que perdoar os pecados de George Lucas, ao menos ele trouxe uma breve sensação de novidade a um franchise, que não inventou o Cinema como muitos acreditam, mas que redefiniu os moldes do entretenimento cinematográfico para grandes massas. Sim, os fãs vão “venerar“, mas “Rogue One” nada de relevante tem para o Cinema, e isso meus amigos, em épocas de produtos bem “lubrificados“, não é nada.

Star Wars está morto?

Hugo Gomes, 14.12.16

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O que dizer sobre o novo Star Wars? Um fan film com orçamento milionário, alicerçado em múltiplos fan services, com a Disney e a politica a serem incompatíveis como azeite e água e a tentativa de tragédia grega à lá Vingança do Sith a cair pelo "cano abaixo". O que resta é toda uma oleada fórmula "wanna be". Na saída do visionamento houve quem dissesse que "Star Wars estava morto!"