Ma chère Cadillac
François Truffaut e Jean-Pierre Léaud durante a rodagem de "Les Quatre Cents Coups" (1959)
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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...
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François Truffaut e Jean-Pierre Léaud durante a rodagem de "Les Quatre Cents Coups" (1959)
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Abel Gance e a atriz Silvana Pampanini em "La Tour de Nesles" (1955)
“Sim, mas a política dos autores tornou-se muito depressa uma figura para a frente, porque era o mesmo que dizer: efectivamente são todos muitos diferentes, mas têm algo em comum que é o facto de serem “autores”. Mas bom, a partir desse momento, num instante, toda a gente se tornou um autor! É verdade quando são Rossellini e Hitchcock, continua a ser verdade quando se trata de Ford e de Renoir, ainda é verdade quando é Hawks, e continua a sê-lo, claro, quando se trata de Lubitsch ou de Dreyer, mas continua a ser verdade quando se trata de Minnelli, ou por mais fortes razões quando se trata de Richard Fleischer? E depois chegamos à Positif, que se põe a falar de Sydney Pollack e de não sei mais quem, ou tanto faz, porque quando se diz Pollack não se está longe de dizer “tanto faz”!
Portanto a política dos autores é uma resposta má, e sobretudo não explica porque é que, nos “grandes” autores, como de resto nos grandes romancistas, nos grandes pintores ou nos grandes músicos, tudo é interessante, porque os seus falhanços merecem ser considerados com mais atenção do que um sucesso de um fazedor; de resto, no príncipio, era isto que a política dos autores queria dizer. Uma encomenda executada por Abel Gance é mais interessante (porque, se bem me lembro, a primeira vez que François [Truffaut] lançou esta expressão nos Cahiers, foi a propósito de um filme de Gance, “La Tour de Nesle”, que era uma pura encomenda, da qual Gance falava com grande modéstia) … portanto, porque é que “La Tour de Nesle” por Gance pode ser tomada em infinitamente mais alta consideração do que a obra-prima de Delannoy? Eis a primeira questão.
E esta, é um assunto arrumado; mas o que não foi resolvido, o que continua em suspenso, é: o que é que faz com que possamos admirar no mesmo plano - por causa da sua coerência, por causa, digamos, da sua lógica, mas isto não é suficiente - cineastas tão diferentes, e usemos os mesmos exemplos, como Rossellini e Hitchcock.”
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François Truffaut e Alfred Hitchcock
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"The 400 Blows" / Les Quatre Cents Coups (François Truffaut, 1959)
“Há muitos anos que várias pessoas pedem uma maior comercialização das instituições artísticas, das quais se espera que sejam mais acessíveis. Mas a pergunta é até onde se pode baixar o limiar de acessibilidade, se as escolas já praticamente não ministram aulas de arte e a classe política não defende a importância da arte. Não se pode querer que mais gente vá aos museus ou que haja mais leitores, se o público não tiver tido ocasião de aprender a valorizar arte.”
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OUT 1: Noli me Tangere (Jacques Rivette, 1971)
La Nuit américaine (François Truffaut, 1973)
Masculin Féminin (Jean-Luc Godard, 1966)
Rosa Mystica (Eva Ionesco, 2014)
Domicile conjugal (François Truffaut, 1970)
La Chinoise (Jean-Luc Godard, 1967)
Baisers volés (François Truffaut, 1968)
La Maman et la Putain (Jean Eustache, 1973)
400 Coups (François Truffaut, 1959)
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Good Morning (Yasujiro Ozu, 1959)
The Childhood of a Leader (Brady Corbet, 2015)
Capernaum (Nadine Labaki, 2018)
Wadjda (Haifaa Al-Mansour, 2012)
Home Alone (Chris Columbus, 1990)
The White Ribbon (Michael Haneke, 2009)
Let the Right One in (Thomas Alfredson, 2008)
Little Fugitive (Ray Ashley & Morris Engel, 1953)
The Florida Project (Sean Baker, 2017)
The Sixth Sense (M. Night Shyamalan, 1999)
The 400 Blows / Les Quatre Cents Coups (François Truffaut, 1959)
The Kid (Charlie Chaplin, 1921)
The Last Emperor (Bernardo Bertolucci, 1987)
Zero to Conduite / Zéro de conduite: Jeunes diables au collège (Jean Vigo, 1933)
Bicycle Thieves / Ladri di Biciclette (Vittorio di Sica, 1948)
Village of the Damned (John Carpenter, 1995)
My Life as a Zucchini / Ma vie de Courgette (Claude Barras, 2016)
The Boy with Green Hair (Joseph Losey, 1948)
Aniki Bóbó (Manoel de Oliveira, 1942)
The Shining (Stanley Kubrick, 1980)
Cinema Paradiso / Nuovo Cinema Paradiso (Giuseppe Tornatore, 1988)
Come and See (Elem Klimov, 1985)
Pather Panchali (Satyajit Ray, 1955)
E.T. the Extra-Terrestrial (Steven Spielberg, 1982)
André Valente (Catarina Ruivo, 2004)
Ivan's Childhood (Andrei Tarkovsky, 1962)
Nana (Valérie Massadian, 2011)
Pixote, a Lei do Mais Fraco (Hector Babenco, 1981)
Poltergeist (Tobe Hooper, 1982)
800 Balas (Álex de la Iglésia, 2002)
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O Cahiers du Cinéma não inventou a crítica de cinema, mas reinventou a nossa ideia de crítica em cinema, colocando essa manifestação no patamar intelectualizado, pessoal e transgressor dos fixos métodos de mercado e que, por sua vez, rebelava contra os ensinamentos de uma vaga anterior (Marcel Martin, Georges Sadoul e Jean Mitry que esculpiam as terminologias da estética).
Durante anos, os ditos “cadernos amarelos” tornaram-se gurus do próprio ato de pensar em cinema, enquanto fomentam um novo leque de cineastas-escrivães que iriam lançar-se na indústria e perpetuar novos “movimentos” cinematográfico – A Nova Vaga, o Cinema Novo ou Vanguarda – que teria epicentro em território francês, nos anos ‘60, e como pássaros estivais “migrariam” para outras regiões do mundo (Portugal foi um deles). Os EUA embarcou na aventura na década seguinte, após as constantes resistências ao “cinema estrangeiro”, criando assim a Nova Hollywood. Foi essa publicação que acolheu alguns dos maiores pensadores cinematográficos de que há memória, desde o “pai” André Bazin, até aos seus mais fiéis “filhos” Jean-Luc Godard e François Truffaut, até ao marginal que encontrou palco para a sua voz Serge Daney, que viria experimentar em 1991 o slow-critic da revista Trafic.
Obviamente que mais se seguiram, os “filhos”, os “usurpadores”, os “anarcas” e os “fieis”. A crítica ramificou-se para vários estilos, formatos e correntes ideológicas muito graças à Cahiers, pela sua representação de crítica livre e pensada. E com isso, é triste depararmos-nos com o seu presente. Com as notícias de uma demissão em bloco devido a novos acionistas e a iminente intervenção de produtores que anseiam uma revista “chique”. Os jornalistas e críticos da Cahiers du Cinéma temeram pela sua liberdade, e devido a esse ato de bravura e de ética, que vai para além do código deontológico, mereceram fortes aplausos de coragem, o de “heróis” num tempo em que a comunicação social, seja de que plataforma seja, tem estado constantemente diluída nas grandes corporações e à mercê do constrangimento político-social pelo qual se regem.
Cahiers du Cinéma é por si uma marca histórica associada a essa mesma história, e devido a isso muitos cinéfilos têm sido solidários a esta luta, a esta prova de risco que colocará a crítica de cinema numa posição (ainda) mais fragilizada. Mas recordo que não há muito tempo, esta publicação revelava um top de década que fora repudiado por muitos dos que hoje abraçam a sua causa. E essa renegação foi acompanhada por um constante invocar da história, de Bazin a Truffaut, Godard a Rivette, Rohmer a Daney, e também a memória de Douchet. Porquê?
Jean-Luc Godard e François Truffaut
A grande lição da Cahiers esteve sempre na grande emancipação e com isso a própria responsabilidade dos seus escritos em relação ao cinema contemporâneo. Os ditos ‘Cadernos Amarelos‘ são prova disso, do cinema pensante que não necessitava do academismo, nem das leis de mercado, mas hoje, com a difusão das redes sociais e a inabalável legitimidade da opinião (cada vez mais confundida com a arte da crítica de cinema) torna-se difícil separar a cinefilia da própria presunção snob (ou vaidade, esse tal pecado fatal e fatalista), ou do vampirismo dos ‘filosofares’ de outros. Tornou-se mais fácil apontar o dedo à Cahiers e não apenas questionar as suas ideias, mas desprezá-las à luz de outras, muitas delas vencidas pelo tempo e pela sua cadência. A crítica tornou-se irrelevante. É triste pensar e sublinhar isto, mas é bem verdade que essa arte, que muitos tentavam erguer como tal, encontra-se ameaçada pelos mais diferentes inimigos.
O mar de opiniões, a indústria predominante e interveniente (tido como subsistência), o consenso que muitos desejam construir como instituição e até mesmo a “necrofagia”, némesis que vêm contaminar a auto-estima da dita crítica de cinema, tornando-a uma peça sobresselente de qualquer publicação ou meio. Perde-se a agressividade, perde-se a noção, o bom-senso e acima de tudo, a honestidade intelectual.
Os jornalistas que abandonaram a Cahiers por princípios éticos, certamente serão visto como guerreiros da última estância da crítica cinematográfica, porém, todos nós devíamos fazer “mea culpa” neste cenário, pois desprezamos toda essa jornada ao encontro de novas formas de pensar no cinema, modernamente falando, para alimentar o respetivo ego. Sim, hipocrisia, e nisso não devemos esquecer.
Enquanto isso, a crítica de cinema não morreu … continua a resistir em algumas “habitações”, só que não anda bem de saúde.
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François Truffaut e Jean-Pierre Léaud
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