Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Feliz dia do Pai!

Hugo Gomes, 19.03.23

337008798_751072733321515_3170120300742559862_n.jp

Big Fish (Tim Burton, 2003)

337011657_174202215410382_2197380158413157031_n.jp

Like Father, Like Son (Hirokazu Koreeda, 2013)

337030957_160600940224810_6062842017374487755_n.jp

Star Wars: Episode VI - Return of the Jedi (Richard Marquand, 1983)

337042285_1179420046046962_1462728816289411928_n.j

Adeus, Pai (Luís Filipe Rocha, 1996)

337124959_1202134287110311_4478726944244977133_n.j

The Lion King ( Roger Allers & Rob Minkoff, 1994)

337133586_734219725027965_2298174610992482547_n.jp

The Son (Florian Zeller, 2022)

337139808_910172320122905_610387028790539993_n.jpg

Life is Beautifull / La Vita è Bella (Roberto Benigni, 1997)

337159015_225959713290898_319834541658155584_n.jpg

Ladri di Biciclette ( Vittorio De Sica, 1948)

337160623_1405949700192738_2742009318098493363_n.j

The Pursuit of Happyness (Gabriele Muccino, 2006)

337269837_935604370809556_7282751185680635386_n.jp

The Kid (Charlie Chaplin, 1921)

O nefasto labirinto da saudade de Hopkins

Hugo Gomes, 08.05.21

thefather-2-1617229074082_160w.jpg

Anthony [Hopkins] é o rei convicto e vaidoso que habita num castelo de cartas. Contudo, o seu magnífico palácio, a fortaleza que albergaria a sua suposta solidão, é uma arquitetura em vias do seu desabamento. Triste e cruel destino em que a queda livre de um homem glorioso acontece em movimentos lentos como se o tempo desfibrasse, decompondo-se, para se tornar num labirinto de ilusão. A anterior habitação onde esta realeza residia com tamanho fulgor converte-se num enclausuramento, e quiçá, num castigo divino.

É sabido pelo próprio Florian Zeller, dramaturgo francês que se vira para o cinema numa auto-adaptação de “The Father” (“O Pai”, recordamos que a peça passou em Portugal, em 2016, no Teatro Aberto, tendo como protagonista João Perry), que Anthony Hopkins sempre foi a chave deste projeto, pelo que o “perseguiu” até por fim, este ceder. Assim, o ator acabaria por integrar o papel do “monarca” amaldiçoado numa “praga” mundana, mas nem por isso menos desumana.

A demência toma conta deste ancião, e o filme, “encolhido” no seu interior (ou diríamos melhor, interiores) tende em providenciar ao espectador um simulacro sensorial dessa prisão de espelhos invertidos. Desta forma, por vias de uma montagem engendrada por Yorgos Lamprinos e de um incoerente jogo de aparências e enganos, onde caras familiares tornam-se perfeitos desconhecidos, eventos sucedem às suas reproduções, variações e representações, entendendo que o tempo não é bom companheiro para Hopkins, aliás, matreiro e jocoso na sua arte. O relógio que nos poderia indicar a saída redentora do nosso “glorioso homem” é também um instrumento de tortura, os episódios que se amontoam por vias do objeto requisita essa metafísica neurológica, a demência como entidade espacial e temporal ao invés de relato.

Nesse sentido, e talvez tendo em conta as comparações tidas com outras narrativas de “velhice” (o Cinema, que com tantas declarações de óbitos obtivera, possui desde então legitimidade e maturidade para abordar a derradeira fase das nossas vidas), separa-se de “Amour”, do austríaco Michael Haneke, pela sua ostentação e no cerco formado envolta do espectador, o testemunho silencioso. Enquanto um debate-se numa relação exterior e indireta com a alienação, dando asas para sugestões, silêncios inquietantes e gestos economizados que transbordam loucura, este “The Father” espaceja um palco direto para a última performance sóbria do gasto corpo e mente insana, nunca escondendo a sua ostentação, como um nobre monarca que nega a sua despromoção na hierarquia.

Não é preciso afirmar o quanto “gigantesco” está Hopkins neste infinito tormento, porém, é a abordagem de Zeller a sequenciar um terror fechado e de sintomas psicológicos que a obra atinge algo mais que a somente intenção de “filme de atores”. Sim, mais do que somente Óscar ver.