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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Doutor Estranho Amor e a Loucura controlada

Hugo Gomes, 03.05.22

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O regresso de Sam Raimi ao terreno do cinema de super-heróis (“Darkman”, a trilogia de “Spider-Man”) é o pretexto, mais que suficiente, para respondermos com expectativa a mais um capítulo de um universo montado e pensado ao milímetro. Contudo, mesmo com os seus elementos presentes ao virar-da-esquina (a conotação mais negra e a rédea mais estendida às estâncias do terror e da série B), é a sua convivência com um guião preguiçoso e uma produção megalómana e glutona (tal como “Spider-Man 3” é de notar dois e diferentes filmes em conflito na sua cerne) que não fundamentam milagre algum.

Doctor Strange in the Multiverse of Madness” é aquilo que os fãs desta saga (palavra caída em desuso após a dominância do termo “universo partilhado”) pretendem, nada a desapontar por estas bandas (ou dimensões) para esse público-alvo, excepto a falta de carinho pelas personagens, nomeadamente aquelas retornadas em forma de cameo (mal habituados à nostalgia honrosa e por vezes ternurenta de “Spider-Man: No Way Home”) e pela cedência fácil aos mandamentos mais que entranhados de uma “casa” como a Disney. Aliás, por mais que tentássemos encontrar espessura neste festim de CGI, o que deparamos é inconsequência como um tramado reino moral.

Confesso-vos, esperava sentir uma vibe aqui, e senti até aos últimos cartuchos uma esperança de reconquistá-la … pois, em vão. No fim de contas, Elizabeth Olsen torna-se definitivamente o melhor e igualmente o pior desta “Loucura” de nome, porque é nela que se reflete mais Raimi e ao mesmo tempo o síndrome da utopia disnesca.

"É tudo uma cambada de chupistas!"

Hugo Gomes, 16.01.14

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Existe um novo fenómeno nos remakes norte-americanos que de certa forma passa despercebido pelo grande público, se não fosse essa a intenção. Os grandes estúdios norte-americanos logo após serem informados da produção  e sucesso de novos filmes (principalmente de terror) da América Latina compram os direitos e bloqueiam que o original percorra o resto do Mundo, quer em circuito comercial ou em festivais. Assim, o espectador apenas tem acesso aos remakes hollywoodescos, “rip-offs” oportunistas que vingam graças à distribuição limitada da matéria original. Puro estratagema de rentabilidade com selo de predominância norte-americana o qual foram vítimas obras como “We Are What We Are” (cujo original e a “cópia” foram apresentados em Portugal nas duas últimas edições do MOTELx) e “Silent House” (“La Casa Muda”, ainda inédito em fronteiras nacionais), que é descrito como “A Russian Ark” do género do terror, constituído por um longo plano-sequência que compõe toda a narrativa do filme.

Dentro desta proposta narrativa de “tempo real”, deparamos então com mais um “home-invasion“, sendo que este exemplo desenvolve para diferentes contornos. Porém, os trilhos até ao eventual twist são marcados por clichês, lugares-comuns e toda uma previsibilidade entediante e cansativa que se resume tudo a um jogo de “escondidas”. A chegada do clímax é assinalada então com um despacho deplorável da intriga onde a surpresa inicial dissipa-se instantaneamente e Elizabeth Olsen, que tem até ao momento transportado o filme às costas, desaba numa falhada invocação de dualidade.

A verdade, é que sente-se neste “Silent House” uma tentativa de manufacturação abusiva e não a de criatividade, aquilo que poderia ser valorizado como um exercício de estilo é adulterado pelas intenções de mercado, ou seja é como copiar em folha vegetal. Esperemos que esta tendência de remakes não vire moda, porque isso seria o indício de uma eventual destruição da diversidade cultural e cinematográfica. Oportunistas é o que são!