Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

"Are you not entertained?"

Hugo Gomes, 11.11.24

234349_01.jpg

Não há regresso possível ao subgénero peplum, muitas vezes à convicção do épico hollywoodesco a fazer-se ao “sword & sandal”, “Gladiator 2” assume, desde o seu primeiro ponto, aquilo que é - uma fantochada histórica. Aceitar ou não aceitar, fica-se pela questão! Mas conforme seja o seguidismo é nesse aspecto, o de nunca aventurar-se por reconstituições de História à luz natural, que esta muita antecipada sequela esbofeteia o anterior “Napoleon”. 

Ridley Scott está no seu circo, a corrida da Roma antiga pelos seus êxitos, e é dessa forma que o tarefeiro carrancudo dança na indústria que cada vez mais fracassada a esses espectáculos de grande tela. Convém afirmar que o épico histórico está morto lá para os lados norte-americanos, Wolfgang Peterson fez-se ao último suspiro [“Troy”, 2004], Scott por sua vez deixou-nos claro no seu anterior “Last Duel” (2021), de que não existe espaço para estes filmes na modernidade, apenas as suas desconstruções. Determinado em contrariar até mesmo ele próprio, o realizador decreta este “Gladiator 2” na sua escondida proeza, o de fazer entretenimento longe das fórmulas correntes, só que essas tais o aproximam, apoderaram-se e estabelecem uma via que só os fracos se torcem, por afinal a fórmula acaba por vencer … ou Ridley Scott só conhece a fórmula? Portanto, a existência desta continuação deve-se à popularidade e ao capital, a primeira a desencadear a última, digamos assim. 

Gladiator”, o filme de 2000, com Russell Crowe esfregando as mãos na areia da arena do Coliseu (“o maior templo romano”), foi um trunfo de cinema popular tendo essa luz encadeado a award season a altura, conquistando o Óscar de Melhor Filme, a partir daí Ridley Scott foi sinónimo de épicos hollywoodianos, fracassando-se espectacularmente nos projetos seguintes (“Kingdom of Heaven”, “Exodus”). Hoje, com a fita estranhamente numa memória colectiva (Hans Zimmer de braço dado com Lisa Gerrard ecoa nessa “eternidade”) e com um obsessão viral, do domínio das redes sociais (“Why men just can't stop thinking about it”, basta pesquisar), tendo como reflexos políticos, do Império Romano numa cultura viril de “machos alfas” fabricados virtualmente, “Gladiador 2” encontra razões, financeiramente viáveis, para existir entre nós. Só que é “azeite” derramado, de cidades em CGI, de atores abonecados para servir uma história que se desvenda a partir de dez minutos, onde só Denzel Washington (novamente ao lado do realizador, 17 anos depois de “American Gangster”) ergue-se na romana coluna da veneração. Por outro lado é a velha máxima do desejo de Hollywood em concretizar “Birth of a Nation” de D.W. Griffith, uma vez mais, da réplica, da réplica e da réplica. 

Ridley Scott exibe a sua fisicalidade, a sua teimosia, expondo-se ao julgamento do Imperador (ou Imperadores, costuras de auras caliguleanas e neroeanas, não saímos daqui), polegar para cima como sinal de misericórdia ou para baixo como sentença divina. Escutem, funcionará como sempre funcionará, restaurará a masculinidade obsessiva em cada um de nós, exaltará a veneração aos “homens fortes” à imagem do povo que o cultua, daí essa branquitude seja um espelho dos tempos politicamente atormentados que vivemos, porque encaramos a Roma antiga nessa mixórdia de lendas e rumores.   

Um homem em chamas e o vislumbre de um novo 'autor'

Hugo Gomes, 02.09.24

Best-Denzel-Washington-Movies-—-Man-On-Fire-scal

A man can be an artist... in anything, food, whatever. It depends on how good he is at it. Creasey's art is death. He's about to paint his masterpiece.”

Foi o “caçula” da família Scott! Tony foi visto diversas vezes como somente o irmão mais novo, frente a um Ridley, versátil, talvez mais "salta-pocinhas" que outra coisa. Porém, e não estando mais entre nós, possivelmente olhamos para Tony Scott, não mais como somente o mais novo, e sim como o “autor” frente a um congénere perdido pelo que lhe é mais rentável. Com isso, nota-se, principalmente nos seus últimos filmes, um delírio intenso e continuado na sua estética, visualmente carregada e atirada aos confins do territórios hoje inteirados no videoclipe, arte essa que parece ter morrido com estes tempos de lufa-lufa e do império streaming

Para além disso, a sua restrição ao género de ação o tornou também mais emancipado e convicto nessas mesmas margens, isto, obviamente “desculpando-o” dos Ovnis de carreira que apresentou nos seus “verdes anos” (com “The Hunger” à cabeça). A cisão do velho Tony com o realizador entregue ao visual maneirístico tem um filme-marca: “Man on Fire” (um remake de um homônima obra de 1987, dirigido por Élie Chouraqui e com Scott Glenn como ‘anjo justiceiro’), atualmente (re)visto com um certo culto, nem que seja nesse revisionismo autoral. 

Ambientado na caótica Cidade do México, somos apresentados a Denzel Washington - Creasy - um ex-militar de passado sombrio, ferido e com quedas ao alcoolismo, que aceita trabalho enquanto guarda-costas da filha de uma família abastada, como sinal de um necessário recomeço. Desde o primeiro momento, a menina doce, Pita Ramos (uma Dakota Fanning ainda brilhando como “prodigiosa pirralha”), desperta-lhe uma centelha humanista. Ambos criam uma forte ligação afetuosa, desafiada no momento em que a criança é sequestrada. A partir daí, Creasy embarca então numa vingança brutal, enfrentando policias corruptos a todo um submundo criminoso, um típico e estereótipo México na lente de Hollywood. 

Portanto, em matéria de argumento não há muito para oferecer para além do conceito vingança e de redenção que este Washington, feroz e igualmente cansado incute, e é nele que pressente uma entrega como nenhuma outra para o papel. O restante, por via de uma irrequietação, não apenas visual, como também sonora (com quedas ao exótico), o filme responde aos estímulos do espectador por vias de ocasionais freeze-frame, slow-motions, lens flares, incandescências e outras ginásticas imagéticas, tendendo a refazer tudo o que havia tocado anteriormente. É difícil não olhar-lhe como um filme-cobaia, em tremenda experimentação, com Tony a redescobrir-se em cada cena, e é com essa ciência prática que o levará a outras frontes, seja no exagero de “Domino”, lançado no ano seguinte, ou na normalização e consistência, sempre de mãos dadas com o seu “musos” Denzel (colaboração resgatada das profundezas de “Crimson Tide”, em 1995, a redescobrir) em “Déjà Vu” (2006), a refilmagem “The Taking of Pelham 1 2 3” (2009) e o seu derradeiro “Unstoppable” (2010).

Quanto a “Man on Fire”, contemplando-o em retrospectiva, é uma revelação de cineasta, e talvez seja por isso que não tenha consagrado consensos, nem impor um amor que hoje parece germinar como cogumelos, na altura da sua estreia [2004]. Sendo simplista e pragmático, a verdade é que o filme adquire uma força detida numa certa e estranha sobrenaturalidade quanto ao seu final: com Creasy enquanto cavaleiro andante derrotado, para incognito destino seguir, tendo como companhia a hiperatividade na banda-sonora que nunca em momento algum sai enfraquecida. É o preciso sacrifício, a troca do novo pelo velho, Pita em liberdade, o ‘reformado’ rumo ao seu calvário como pecador prestes a submeter à sua penitência. É neste mesmo desfecho que o nosso “heroi” atira “a toalha ao chão”, e através da sua caminhada “dead man”, um autor ressurge, Tony Scott, o anterior irmãozinho, a reafirmar-se naquilo que Ridley nunca será. 

Norman Jewison (1926 - 2024) e os seus atores

Hugo Gomes, 24.01.24

2782.webp

Doris Day em "The Thrill of It All" (1963)

justice.jpg

Al Pacino em "...And Justice for All" (1979)

rollerball.jpg

James Caan em "Rollerball" (1975)

OCA2KOTNNBEU3MLT7CMCQQS2J4.webp

Ted Neeley em "Jesus Christ Superstar" (1973)

jewison-hurricane_custom-a501ee2e76bf550814a3cec19

Denzel Washington em "Hurricane" (1999)

c71f2f0e787dcf7040e4b1917447a02e.jpg

Michael Caine em "The Statement" (2003)

mcqueen-and-jewison.webp

Steve McQueen em "The Thomas Crown Affair" (1968)

419387606_1504788756759383_8068408244070827368_n.j

Sidney Poiter em "In the Heat of the Night" (1967)

420029151_7027463657361731_4340359307628720145_n.j

Cher em "Moonstruck" (1987)

415810852_295410463515058_1555168145705014510_n.jp

Topol em "Fiddler on the Roof" (1971)

Professores, inspirações até no Cinema

Hugo Gomes, 25.02.23

school-of-rock_oral-history1600.jpg

Jack Black em "School of Rock" (Richard Linklater, 2003)

3133834.webp

Drew Barrymore em "Donnie Darko" (Richard Kelly, 2001)

7.png.crdownload

Jerry Lewis em "The Nutty Professor (Jerry Lewis, 1963)

jeremy-irons-the-man-who-knew-infinity.jpg

Jeremy Irons em "The Man Who Knew Infinity" (Matt Brown, 2015)

beautiful-mind.jpg

Russell Crowe em "A Beautiful Mind" (Ron Howard, 2001)

tosirwithlove1967.93472.jpg

Sidney Poitier em "To Sir, with Love" (James Clavell, 1967)

best-prof-sherman-klump-nutty-professor.webp.crdow

Eddie Murphy em "The Nutty Professor" (Tom Shadyac, 1996)

2007_the_great_debaters_001.jpg

Denzel Washington em "The Great Debaters" (Denzel Washington, 2007)

Ryan Gosling_Half Nelson.jpg

Ryan Gosling em "Half Nelson" (Ryan Fleck & Anna Boden, 2006)

_b4f17840-e658-11e7-bb33-29502a427e3f.webp

Aamir Khan em "Taare Zameen Par" / "Like Stars on Earth" (Aamir Khan, 2007)

adrien-brody-detachment.webp

Adrien Brody em "Detachment" (Tony Kaye, 2011)

substitute.jpg

Tom Berenger em "The Substitute" (Robert Mandel, 1996)

29962-h1535xw2279-b__lgen_04-1000x674.jpg

Jürgen Vogel em "Die Welle" / "The Wave" (Dennis Gansel, 2008)

T02Iv4VgqaV3-dangerous-minds-1-q-teaser.webp

Michellle Pfeiffer em "Dangerous Minds" (John N. Smith, 1995)

MV5BMTgwMTU5ODMzMV5BMl5BanBnXkFtZTgwMTQ0NDgxMDI@._

Kevin Kline em "The Emperor's Club" (Michael Hoffman, 2002)

1724.webp

Robin Williams em "Dead Poets Society" (Peter Weir, 1989)

Das-Lehrerzimmer-1©-Alamode-Film-scaled.jpg
Leonie Benesch em "The Teacher's Lounge" (Ilker Çatak, 2023)

2765_25_5x17_5cm_300dpi.jpg

François Bégaudeau em "Entre les Murs" (Laurent Cantet, 2008)

la-mia-classe-di-daniele-gaglianone.webp

Valerio Mastandrea em "La Mia Classe" (Daniele Gaglianone, 2013)

Pequena porção, temperamento do tamanho do mundo

Hugo Gomes, 30.04.14

MV5BMTM5NTk2NTI4OF5BMl5BanBnXkFtZTcwNTM5NDc0NA@@._

Com Denzel Washington em "Heart Condition" (James D. Parriott, 1990)

MV5BNjA3YTUxODEtOGIzOC00OWJmLTg4MzQtZTAzNGY3ODNmYT

Na altura um fracasso financeiro e de crítica, hoje constantemente reavaliado: "The Cotton Club" (Francis Ford Coppola, 1984)

MV5BMzdjMGQwMWMtODIxYS00MTEwLWIzZGQtMzIwODRmNzYzMT

Ao lado de Rhona Mitra no pós-apocalíptico "Doomsday" (Neil Marshall, 2008)

MV5BNGYwMDhlNDktN2M4Ni00YzhiLTkxOGUtYjZhMDUwMWZkYm

Na distopia delirante de Terry Gilliam (Brazil, 1985)

Super-Mario-Bros-1993.jpg

Foi o célebre personagem de videojogo Mário com John Leguizamo no colossal fiasco "Super Mario Bros." (Annabel Jankel & Rocky Morton, 1993)

p35699_i_h10_ab.jpg

Como 'dono' de Jet Li em "Danny The Dog" / "Unleashed" (Louis Leterrier, 2005)

dustin_hoffman_1991_11_03.jpg

Na Terra do Nunca com Dustin Hoffman num dos filmes menos relembrados da carreira de Steven Spielberg (Hook, 1991)

Uma-cilada-para-Roger-Rabbit.jpg

Definitivamente o seu papel mais citado, "Who Framed Roger Rabbit?" (Robert Zemeckis, 1988)

1868113c-90d8-4ef1-8c86-a888010fa9ec_MEDIAM_882248

A sua colaboração com o realizador Neil Jordan e com a atriz Cathy Tyson em "Mona Lisa" (1986)

 

Bob Hoskins (1942 - 2014)