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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Eu sei o que fizeste no aluguer passado

Hugo Gomes, 18.09.20

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Depois de James Franco e das suas enésimas incursões na realização (sim, há muito mais filmes para além do bem-sucedido “The Disaster Artist” ou do malfadado “Zeroville”), chegou a vez do seu irmão mais novo – Dave Franco – de se aventurar em tais andanças (esperemos que não tenha o congénere como exemplo).

O resultado desse esforço intitula-se de “The Rental” (“O Segredo do Refúgio”), um thriller de variação “home invasion” que combina engenhosamente a expansão do alojamento local, fazendo algumas “perninhas” ao fervor dos atuais embates ideológicos norte-americanos. Contudo, por mais que delicioso esta premissa parece sugerir, Franco (que também assina o argumento) é inapto em inovar ou até mesmo reinventar a própria cadeia de lugares-comuns que germinam proposta.

O que acontece desse gesto é um filme que ostenta alguma preocupação na concepção do seu quarteto de vítimas, as personagens e as suas relações que são exploradas como dispositivos de conexão para com o espectador e um certo cuidado estético do qual combina os elementos ao seu redor, mas que falha ao não conseguir atingir o seu dito clímax, e quando este parece surgir, se evidencia como um epílogo elaborado. Por outras palavras, são preliminares sem o sexo propriamente dito, uma promessa que absolve-se na sua atmosfera e que não concretiza os seus propósitos. Não existe aqui, nem sequer uma criação por via dos simbolismo ou a habitual vénia para com o seu próprio universo, apenas estabelecendo-se como um filme-choque em temas que já nada trazem desta “prefeitura”.

Convenhamos que a culpa não seja totalmente da parte de Dave Franco, até porque, como fora mencionado, o ator convertido em realizador é habilidoso em criar empatia com o público através destas suas personagens. O que realmente acontece é que o cinema de género parece satisfazer-se com os velhos modelos, com fórmulas exatas, sendo cada uma delas direcionadas para um espectador específico, e dentro desses mesmos territórios, cedendo-se à sedução do já reconhecido e prescrito.

“O Segredo do Refúgio” vive dos seus clichés, os das enésimas “home invasions” e assim adiante do terror moderno de perversão. Nada a acrescentar, fiquemos somente pelo mero exercício.