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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Confirma-se a tragédia... Adeus, Julian Sands (1958-2023).

Hugo Gomes, 28.06.23

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Arachnophobia (Frank Marshall, 1990)

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Il Fantasma dell'opera (Dario Argento, 1998)

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Naked Lunch (David Cronenberg, 1991)

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Warlock: The Armageddon (Anthony Hickox, 1993)

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Gothic (Ken Russell, 1986)

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A Room with a View (James Ivory, 1985)

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Romasanta (Paco Plaza, 2004)

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The Loss of Sexual Innocence (Mike Figgis, 1998)

Dario Argento sonha com as vitórias passadas ... "cegou-se" entretanto

Hugo Gomes, 09.09.22

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Talvez haja neste frenesim memorialista uma lição a reter; a de que movimentos, estéticas ou até fórmulas não estão impunes ao seu devido prazo de validação. 

No caso do cineasta - vulgo “maestro”, autor que nos envolveu em pesadelos em tons de carmim com o tão famoso “Suspiria” (1977), e  antes disso, recolocando o “giallo” [esse “maldito” produto B do cinema de género made in Italia], num laboratório de engenhosidades e de releituras [“The Bird with the Crystal Plumage”, “Deep Red”, são alguns dos exemplos] - não terá os seus tempos de glória facilmente restaurados por vias da reprodução dos mesmos elementos.  Talvez a adesão ao universo deste “Dark Glasses” diga mais sobre o espectador em questão do que propriamente ao filme, uma colectânea de velhos êxito iludindo-nos a um sintoma de saudade e com isso uma negação aos passos de progressão do seu género. Argento pode ter tido aqui a sua relevante obra em relação aos seus últimos anos de actividade e de ausência (contam-se 10 anos desde o imperdoável “Dracula 3D”), o que não impede de resultar num soco triunfante no vazio, pensando na vitória, mas subjugado à estratégia vencida pelo tempo. 

Entrando assim neste “giallo” resiliente, acompanhamos uma prostituta - Diana (Ilenia Pastorelli) - que ao tentar escapar de um serial-killer sofre um terrível acidente que a deixa cega. Envolvida num mundo de escuridão, literalmente, converte-se numa vítima e igualmente testemunha de um assassino a mote, desconhecido que persiste em persegui-la, aproveitando a sua “nova” fragilidade para a receber através do medo. “Dark Glasses” opera nessa totalidade de nadas, como óculos escuros, mencionados enquanto protetores de uma visão inexistente, não sendo mais que sinalizadores de uma “anomalia”. Aqui, é a protagonista que assume exatamente essa mesma função, localizar e simultaneamente “ofuscar” tais "deformidades", é nela, enquanto corpo, que evidenciamos o fruto de tentação de Argento, enquanto a sua filha, Asia, ressurge em plano secundário como tutora para essa tocha de perversão criativa.

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O realizador implementa (mais uma vez) a sua fantasia, a sensualidade fetichista com que recolhe a violência (uma sequência de cobras-de-água a adquirir um tom de gratuito bondage), e o faz em nome dos tempos dissipados. O filme parece envolver-se nesse coito com os elementos reconhecidos, saltitando em preliminares dedicados e terminando na previsibilidade do seu coito (existe também uma perda de consequência neste turbilhão, deixando claro que Argento assume, ainda mais, a sua obsessão). O mesmo parece acontecer com a música de Arnaud Rebotini, progressiva e psicadélica, bem ao seu gosto, não mais que uma variação às reconhecíveis cumplicidades com a banda “Goblin” (e umas "pitadinhas" de John Carpenter, se a minha audição não enganar). 

Ou seja, poderíamos andar aqui a petiscar e a saborear neste buffet de suspiros e fenómenos à mercê da recordação, mas o resultado é isso, não desprezando o nosso maestro perante tão simplista diagnóstico. Enfim, Argento não esquece, de maneira alguma, o passado (porquê? Visto que as memórias eram louros e ouro), porém, poderia o fazê-lo sem “olvidar” que fora um artista de um giallo em mutação. Agora, a necessitar de renovação.    

Suspirar ... pelo Suspiria

Hugo Gomes, 07.04.17

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Hoje, o cinema de terror tem que se apresentar fiel ao realismo, ao grotesco, à tendência de criar no espectador a sensação de "vivência". Mas houve um tempo em que o artificialismo e o género encontravam-se de mão dada. Suspiria é esse exemplo, onde a estética prevalece frente ao virtuosismo argumentativo e interpretativo. Ai ... que saudades deste Dario Argento, tão série B e ao mesmo tempo tão A!