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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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"Velvet Buzzsaw": o filme que olha para o umbigo da crítica sem nada para fazer

Hugo Gomes, 04.02.19

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Critique is so limiting and emotionally draining.” Qualquer que seja a “arte”, o campo de procura de um vínculo entre o coração palpitante do maior dos apreciadores para com o objeto pretendido, o crítico, essa “vil criatura”, não é mais que um ser exausto que mexe e remexe na esperança de ir ao encontro duma nova forma de vida.

Para o crítico de arte Morf Vanderwalt (Jake Gyllenhaal), a surpresa de observar um novo artista, completamente desconhecido, mas talentoso e igualmente enigmático, converte-se numa oportunidade para demarcar uma nova etapa na sua visão intelectual, que segundo este,trata-se do recomeço para se deparar com um novo início e assim persistir em algo mais do que a simples opinião. Ou seja, conforme a “arte” aplicada, todo o crítico esforça-se para preencher um vazio cometido pela saturação de esforços (o universo pelo qual se inserem), de forma a dar de caras com um diferente OVNI que incentiva a escrever as mais derradeiras palavras e mirabolantes teses que se atentam como achados iluminados de uma verdade fabulista. Enfim … spoiler alert … esse Santo Graal não está em “Velvet Buzzsaw”, a segunda longa-metragem do argumentista Dan Gilroy, que após conquistar tudo e todos com Nightcrawler, essa volta pela imunda guerra entre os medias pela liderança do horário noturno, desilude-nos com este pedaço de veludo contrafeito.

Gilroy torna-se então num charlatão, utilizando e reciclando matéria para gerar um objeto inanimado, uma quimera em nome de uma apreciação ingrata, um tipo de objeto que nos faz questionar se “Nightcrawler” foi mesmo um caso isolado e se o realizador apenas se reduz a uma mediocridade, ou simplesmente encontra-se numa posição que não lhe cabe. Possivelmente melhor no papel que no ecrã, o filme que nos presenteia evolui de uma crítica falível à indústria da Arte e todos os rodriguinhos da sua transação duvidosa (com umas quantas denúncias à amoralidade do crítico, algo a questionar em próximos episódios) para um enredo de um terror dito industrial.

Apesar do gozo pelo visual e as brincadeiras trazidas pela gratificação do CGI, “Velvet Buzzsaw” falha em quase todos os campos, desde a narrativa que avança em passo lento para a trama sobrenatural alicerçada numa técnico-narrativa saída da instantaneidade televisiva até ao desenvolvimento trapalhão das suas personagens (Gyllenhaal tão deslocado da intriga que soa estar num filme próprio). Além de tudo, temos em demasia estas que não são mais que vítimas para a alimentação a uma máquina splatter / slasher digna da passagem do novo milénio (sim, nesse território é fácil recordar os sucessos de “Final Destination” e “The Ring por aqui) com claras inspirações à “maldição” do pintor italiano Giovanni Bragolin.

É frustrante que “Velvet Buzzsaw” seja reduzido a um saco de pancada para críticos (“A bad review is better than sinking into the great glut of anonymity”), sem a esperança de reavaliação, visto que não ostenta novas linguagens nem um modernismo indigestível que acompanha o seu tempo.

Porém, seja isso o pretendido ou não, o que justifica a existência do universo de Dan Gilroy é o facto de servir de um urgente santuário para Rene Russo, atriz atualmente desaproveitada e reduzida a adereço, que encontra aqui o seu atelier performativo. Fica a piada final. O realizador/argumentista poderia seguir os conselhos da sua personagens e partir para um retiro para gestação, uma hipótese de se inovar.

Pelos vistos todos procuram o mesmo; sejam críticos, artistas, realizadores e … porque não … espectadores.

Critique is so limiting and emotionally draining.I've always wanted to do something long-form, beyond opinion.Dip my toe into an exploration of origin and essence.A metamorphosis of spirit into reality."

Os Melhores Filmes de 2014, segundo o Cinematograficamente Falando ...

Hugo Gomes, 15.01.15

É com algum atraso que revelo aqueles que foram para o Cinematograficamente Falando …, as 10 melhores obras cinematográficas de 2014. Distopias alternativas, relações complicadas, passeios pela História e visões únicas do Mundo em que vivemos, são estas os derradeiros filmes, tendo como base as obras estreadas comercialmente em Portugal nesse mesmo ano.

 

#10) Her

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"Talvez seja um pouco herege enunciar Her como um dos melhores romances dos últimos 5 anos, porque mesmo sentindo a sua vertente romântica e deliciosamente encantadora há que reconhecer a sua discreta, mas mesmo assim, determinada faceta negra. Com uma banda sonora daquelas que fascina qualquer um, The Moon Song de Karen-O é um prazer lírico e poético, em Her de Spike Jonze é um prazer apaixonar, contudo refletir sobre os caminhos que o nosso mundo social segue a fortes passos."

 

#09) Enemy

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"Em Enemy, Denis Villeneuve aposta e vence, um thriller de atributos invejáveis ditado por um estilo único e labiríntico. E voltando à questão inicial, sim, Saramago era bem capaz de adorar esta visão libertina e simultaneamente inerente da sua criação literária, uma tese de autor sobre outro autor. O regresso do cinema provocador num filme para quem acredita que o cinema pode ser profundo e ao mesmo tempo, esteticamente cativante."

 

#08) Nightcrawler

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"Jake Gyllenhaal veste a pele de um "abutre humano" em cenário desumano de oportunidade e hipocrisia. Nightcrawler é o Taxi Driver da nova geração, porém, mais agressivo, negro e sem um ponta de esperança numa humanidade cada vez mais regida à fama imediata e aos enclausuramentos estabelecidos pelos tempos televisivos."

 

#07) Ida

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"Ida é um filme diatómico, um projeto amargurado e melancolicamente simbólico que nenhum país gostaria de ostentar na sua filmografia, mas que por um lado este é um trabalho de união que a Polónia tão bem concretizou. Uma jornada ao passado isentes de glória e drama digno hollywoodesco, existem poucos filmes assim."

 

#06) The Grand Budapest Hotel

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"Depois desta demanda, talvez a mais próxima da perfeição por parte de Wes Anderson, será difícil ultrapassar-se sem cair na limitação do seu estilo (fazendo lembrar o misterioso Terrence Malick). Enquanto não chega essa futura obra que irá ditar o rumo enquanto cineasta verdadeiramente acarinhado na indústria, Grand Budapest Hotel é uma fantástica aventura que nos remete ao misticismo do cinema, algo que parecia perdido.

 

#05) Mommy

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"(…) em Mommy nem nos interessamos em salvações musicais, porque neste mundo confinado à entrega de um aos outros, Dolan é um "Deus" nada misericordioso, que não executa castigos divinos nem sequer recompensas. O magnetismo maternal, os fantasmas por trás desse mesmo deslumbramento, fazem de Mommy um filme de linguagem, de respostas sem perguntas e da afirmação de um realizador que por direito merece ser relembrado. Desencantado mas primoroso."

 

#04) Nebraska

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"Agora também é verdade que esta pequena grande produção a preto-e-branco não funcionaria na totalidade se não fosse o seu elenco; um natural e simultaneamente soberbo Bruce Dern a apresentar a decadência temporal e Will Forte a surpreender no seu papel mais dramático, sem esquecer de uma divertida e arrogante June Squibb (impagável). Nebraska é um retrato humanista, emocionante e delicado, uma futura obra-prima do cinema independente norte-americano. Must see!"

 

#03) The Congress

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"The Congress é um filme genial, extenso e nada tímido para com as suas próprias expressões e ideais, o anúncio da morte do cinema e da sociedade são arranques imaginativos e profundos para a confirmação de um dos mais proeminentes cineastas da actualidade. Depois da Valsa', chega-nos a solicitude."

 

#02) The Act of Killing

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Praticamente toda gente está a habituado a encarar o género do documentário com o formato das produções televisivas, mas enganem-se quem pensa que tal é apenas serviço pedagógico. The Act of Killing é o grande exemplo disso, uma veia onírica que abate o panorama real dos nossos dias, os medos de uma sociedade estampados sob um selo fantasmagórico. Aqui não há julgamentos, a ética é mera inutilidade perante a grandiosidade deste filme que nos remete ao mais negro da natureza humano. Corajoso, incisivo e na sua maneira de ser, poético

 

#01) La Grande Bellezza

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"(…) Sorrentino é multifacetado na sua direção, quer pela mimetização (segundo as más línguas), onde consegue invocar Federico Fellini e o seu neorrealismo de fase circense, como também a veia satírica de “La Dolce Vita” (o falsete da burguesia para cima, por exemplo), até aos planos algo simétricos e renascentistas que um Peter Greenaway saturaria. Ou seja, até na sua realização, Sorrentino incute a diversidade cultural, homenageando alguns dos novos artistas, aqueles desprezados pelos puristas das artes, que são os cineastas. Nisto tudo, sente-se em simultâneo uma mise-en-scene por vezes digna de teatro de farsas em malabarismo com um intimismo de quebrar verniz ou de ser envernizado." Ler texto

 

Menção Honrosa: Nymphomaniac Part 1, The Broken Circle Breakdown, Gone Girl, Boyhood, Philomena