Quem não tem cão, caça com "boneco" ...
Não apenas no género de terror, mas também em muitos outros, incluindo os prestigiados de classe A, a limitação orçamental geralmente estimula a criatividade, tornando-se o atalho possível para atingir os mesmos fins, o qual “carinhosamente” apelidamos de "know-how" (um dos exemplos mais citados desta via, é a de "Jaws", de Spielberg, onde a falta de recursos levou a que o tubarão fosse mostrado apenas parcialmente, criando suspense e eficácia no terceiro ato). "Oddity", escrito e realizado por Damian McCarthy, segue este princípio, utilizando o orçamento disponível sem comprometer a sua narrativa. No entanto, o que promete em teoria nem sempre se concretiza no ecrã. Mas já lá iremos...
A narrativa acompanha uma médium, proprietária de uma loja de relíquias e artefactos amaldiçoados (Carolyn Bracken), que, de luto pela sua irmã gémea assassinada, investiga o homicídio. Esta busca leva-a a um manequim de madeira da sua coleção como objeto dessa vingança, que inevitavelmente invoca a imponente figura da mitologia judaica: o Golem, a estátua de barro que ganha vida para proteger ou vingar o seu criador, presente em várias obras cinematográficas, principalmente como parte da passerelle monstruosa do expressionismo alemão (em 1915 e 1920). Contudo, em "Oddity", esta entidade simbólica é subaproveitada, resultando numa sensação de adereço supérfluo neste conto cocktalizado de vendettas e fantasmas.
Fica-se com a sensação de uma criação de um universo mais amplo, alinhado com as tendências atuais, o que faz com que o filme, por vezes, soa como um episódio-piloto de algo maior do que é. No entanto, acerta naquilo que “carradas” e “carradas” de produções do género falha abruptamente: na criação de uma atmosfera sinistra, uma tapeçaria de tensão que nunca se quebra completamente e isso deve-se a esse tostões contados que nunca atentam ao puramente visual, e sendo o sugestivo como ambição principal.
"Oddity" destaca-se pela sua ambiência e assim ficamos...