Xeque-mate ...
Charlie Chaplin dirigindo Marlon Brando e Sophia Loren em "A Countess from Hong Kong" (1967)
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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...
Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...
Charlie Chaplin dirigindo Marlon Brando e Sophia Loren em "A Countess from Hong Kong" (1967)
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La loi du marché / The Measure of a Man (Stéphane Brizé, 2015)
Trabalhar Cansa (Juliana Rojas & Marco Dutra, 2011)
La mano invisible / The Invisible Hand (David Macián, 2016)
North Country (Niki Caro, 2005)
Sorry We Missed You (Ken Loach, 2019)
Stachka / Strike (Sergei Eisenstein, 1925)
Ressources Humaines / Human Resources (Laurent Cantent, 1999)
Labour of Love (Aditya Vikram Sengupta, 2014)
A Fabrica do Nada (Pedro Pinho, 2017)
Vida Activa (Susana Nobre, 2014)
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Big Fish (Tim Burton, 2003)
Like Father, Like Son (Hirokazu Koreeda, 2013)
Star Wars: Episode VI - Return of the Jedi (Richard Marquand, 1983)
Adeus, Pai (Luís Filipe Rocha, 1996)
The Lion King ( Roger Allers & Rob Minkoff, 1994)
The Son (Florian Zeller, 2022)
Life is Beautifull / La Vita è Bella (Roberto Benigni, 1997)
Ladri di Biciclette ( Vittorio De Sica, 1948)
The Pursuit of Happyness (Gabriele Muccino, 2006)
The Kid (Charlie Chaplin, 1921)
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The Great Dictator (Charlie Chaplin, 1940)
Já tentei começar este texto de várias maneiras, mas não há como evitar a mesma ideia, pouco cinéfila, que me está na cabeça: não é a cena de um filme, uma história engraçada de bastidores ou uma citação imponente de um dos grandes cineastas. É, antes, um sketch do Gato Fedorento em que nos deparamos com um curso de literatura para porteiras. Depois de uma pequena introdução do professor a “Madame Bovary”, uma das alunas decide intervir:
“’Tá bem ‘tá, filho. Olha, eu é que não tenho pena nenhuma dela, ‘tás a perceber? Porque a Madame Bovary se quer ser respeitada primeiro tem que se dar ao respeito, ouvistes? (…) É ela e a outra que vamos dar pr’a semana, essa Maria Eduarda da Maia. É da Damaia… da Damaia sou eu e não sou tão badalhoca!”
Esta menção pode parecer descabida: mas por que raio é que alguém se lembraria disto para começar um texto sobre os 15 anos do blog do Hugo Gomes, que me pediu uma reflexão toda supimpa e, se possível, revolucionária, sobre a cinefilia?
Por duas razões: a primeira é porque fica muito giro. Quebra expectativas, tira-me um certo peso dos ombros, quebra o gelo entre mim e vós, leitores. A segunda, mas não menos importante, é que eu me identifico um pouco com esta personagem no que à cinefilia diz respeito. Na verdade, eu sou mesmo aquela porteira ficcional, menos o lenço na cabeça e a verruga no rosto.
Recuemos agora a 2007. Quando o blog Cinematograficamente Falando surgiu, eu estava a dar os meus primeiros passos pelo cinema adentro. Foi por essa altura, no quinto e no sexto ano, que comecei a ver os filmes de outra forma. Não estou a querer dizer que era precoce, a papar sete Bergmans por semana enquanto lia a obra completa de Dostoievski e compunha sinfonias para a orquestra da Gulbenkian. Muito pelo contrário: tal como a maioria dos miúdos da minha geração, passei demasiado tempo a ver desenhos animados - quanto aos videojogos cresci somente com um daqueles primeiros Game Boys a preto e branco (ou a preto e verde?), herdado da irmã mais velha, com o qual joguei tanta vez ao Tetris e ao Super Mario.
Mas foi por volta desse ano que me iniciei, aos poucos, a olhar os filmes com outros olhos. É em 2007 que vejo, pela primeira vez, as “20 000 Léguas Submarinas”, a versão que Richard Fleischer realizou para a Disney do livro de Júlio Verne, com um elenco fabuloso encabeçado por Kirk Douglas, Peter Lorre e James Mason. É nesse mesmo ano que vejo, e revejo, e re-revejo, “O Grande Ditador” de Chaplin, oferecido no Natal anterior em DVD, cuja magnífica selecção de conteúdos extra devorei até à exaustão.
Foi por essa altura que não me tornei um cinéfilo nem uma sumidade na matéria (que ainda hoje não sou, e que nunca serei), mas que comecei a querer ver os filmes para lá dos filmes, a querer analisar porque é que esta cena era feita com aqueles planos, o que era a montagem, etc etc etc. Não fossem esses dois encontros imediatos e hoje não teria a casa cheia de DVDs, discos de bandas sonoras e livros sobre cinema.
Aos poucos, e da forma mais irregular possível, fui aprendendo, vendo mais, lendo muito, escavando, qual arqueólogo pouco realista, em busca de uma arca perdida metafórica que mais não era o conhecimento, para ter mais informação sobre realizadores, actores, argumentistas, diretores de fotografia, montadores…
E uma das melhores fontes dessa incessante e infinita pesquisa, além das bibliotecas e da crítica especializada, estava nos fóruns e na blogosfera, que trouxeram outras maneiras de compreender os filmes, outras vozes dissonantes, um coro de escritores que também me serviram (e ainda servem) de guias por esses caminhos sinuosos e cheios de armadilhas que são os do simples acto de escolher um filme para ver depois do jantar. Também me aventurei pela escrita, ou algo parecido a isso, durante uma porção de tempo em blogs e sites, mas felizmente já me deixei dessas coisas, não sou drogado* o suficiente para acrescentar alguma coisa realmente importante nesse campo.
(* sempre ouvi dizer que é melhor gastar dinheiro em filmes, livros e discos do que na droga, mas há cinéfilos que são autênticos “junkies”. É preciso ter cuidado com eles: uma pessoa aproxima-se e depois já só quer passar todos os seus dias na Cinemateca.)
Voltamos agora ao presente (cuidado com os prováveis enjoos causados por tão repentinas viagens no tempo!). Continuo a aprender todos os dias e a testemunhar a minha crescente ignorância perante tanta coisa do cinema. Quando descubro um filme maravilhoso que ninguém conhece, partilho a informação com os meus comparsas e logo me recomendam sete ou oito títulos que eu próprio desconhecia.
Continuei, e continuo, sempre a aprender, nunca deixando de me sentir um valente ignorante perante todos os sabedores da matéria que fui conhecendo ao longo dos anos.
Mas eu gosto de ser ignorante. Ao contrário daquele núcleo de pessoas que acredita que não fomos à Lua e que a Terra é plana, esta é uma ignorância saudável que nos faz querer sair da nossa zona de conforto e, graças a uma curiosidade inesgotável, descobrir sempre mais. E nesta parte é sempre importante termos pessoas que nos fazem evoluir. Gosto de me poder rodear de gente que sabe mais do que eu e com quem posso trocar ideias. Se algum dia parar de aprender, a vida perde um pouco do seu significado.
Creio, por tudo isto, que se a minha cinefilia pudesse ganhar carne e ossos e falar, seria como aquela porteira dos Gato Fedorento. Rude, a falar de coisas sérias e canónicas com uma grande, mas acidental, falta de respeito.
Sinto-me sempre pequenino ao redor de outros cinéfilos, e o convite para participar nesta celebração de 15 anos de Cinematograficamente Falando deixou-me perplexo (o que é que uma aventesma como eu tem a acrescentar perante o painel de restantes convidados?). Daí que não consigo fazer “aquele texto que vai ficar para a História” sobre a cinefilia. A única coisa que posso acrescentar é que ela é um processo em construção, hoje com mais possibilidades do que nunca por termos todos os filmes do mundo à distância de um clique, de um torrent ou de um disco.
E que bom que é ser eu um ignorante em contínua desconstrução.
* Texto da autoria de Rui Alves de Sousa, grumete da Antena 1, autor do programa sobre BD “Pranchas e Balões” e do futuro programa sobre bandas sonoras “De Olhos Bem Fechados”.
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Às portas do paraíso, os festejos de mais um dia na suposta eternidade ocorrem. “Festa é festa” dirão, silenciosamente, estes, os anjos, alados e aliados de Deus. Na celebração interminável um esquivo intruso esgueira-se por entre as presenças divinas, com intuições de incentivar o caos na mais harmoniosa das festividades. A vítima, voluntariamente colocada de parte do centro do festivo alvoroço de anjos, Charlot, agora personificado na astral criatura é instigada pelas tentações do indesejável emplastro, um diabrete que sussurra ao seu ouvido, despertando-o para os seus carnais impulsos - o desejo. Assim, como peças de dominó que tombam consequencialmente e sequencialmente, o desejo trará ciúme, e os até então eunucos anjos adquirem, por fim, o sexo e a vontade alicerçada. Bem, há problemas no paraíso! E como na sua presença terrena, como na espectral, Charlot sempre será um infortunado vagabundo numa tremenda correria para se livrar impunemente das suas desventuras, porém, a sorte não lhe sorri desta vez, o estrago já fora feito, a punição é a sua expulsão dos Reinos do Céu. Charlot tomba assim como acontecera a Gabriel, o arcanjo, que caiu de desgraça sobre a terra dos mortais. Por sua vez, o nosso errante encontra o forçado descanso à porta do edifício que o acolhera nas suas aventuras de final incerto.
Um sonho? Uma passagem? Uma moral materializada em soneto bíblico? Este prenúncio de final que tanto dividiu os críticos da altura e que rompera com a tragédia chaplinesca até então praticada na narrativa. O paraíso violado de “The Kid” (1921) é mais cruel que um suposto gag, é uma onírica passagem que contagia o lado proto-neorrealista do filme, do seu miserabilismo contextualizado, e que, sob a lente, nos revela uma perversão dúbia e encriptada. Ora, como parece ter reparado, em tempos, João Benárd da Costa, a poligamia reina o extenso quintal de Deus e que a virada para bancada monogâmica gerou discórdia, conflito e por sua vez a retirada forçada dos catalisadores para lá do Céu. É pertinente pensar nesse estilo como estrutura sociológica dos anjos, ou como receita perfeita para a “Paz Mundial”. De facto, tal não está contra os ideais do “amar o próximo” como prega melodicamente as doutrinas cristãs, mas é uma provocação envolver-se em princípios pagãos, quase como uma tentativa de sexualizar o assexuado. Isto, se debatermos nas armadilhas deixadas por Charlie Chaplin quanto ao seu estranho arco narrativo, e como bem sabemos o ator / realizador … desculpem, o autor, eternizado foi, possivelmente, um dos mais inteligentes e criativos seres a operar no cinema, mas se atentarmos pelo simplismo, a crueldade deste não possui limites.
Depois de empatizarmos com Charlot na sua perseguição (o conflito do filme é o de evitar o recambiado do seu “garoto” para o orfanato), somos repentinamente levados para esta dimensão alternativa. O conto que vos acabo de narrar descamba por um suposto final feliz, o nosso herói vagabundo é recompensado pela sua trapalhona determinação. Porém, essa satisfatória elipse e tão, como diríamos, Deus Ex Machina, chega-nos a ser mais surreal que o forrobodó paradisíaco. Será que tudo isto não aconteceu e ao mesmo tempo aconteceu? Ou seja, a imagem do anjo chaplinesco caído no degrau da entrada 69 é um substituto do trágico fim de um sem-abrigo vencido pelo cansaço, fome, frio e quem sabe, desespero? Será que o dito final é apenas areia atirada aos olhos do espectador, poupá-lo da impiedade deste mundo?
Bem, se não conseguimos lidar com o infortúnio, sempre podemos acreditar em desfechos afortunados, da mesma maneira que, passados 80 anos, há quem ainda crê que foram os cintilantes "extraterrestres" que visitaram David em “A.I. Artificial Intelligence” (Steven Spielberg, 2001).
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Good Morning (Yasujiro Ozu, 1959)
The Childhood of a Leader (Brady Corbet, 2015)
Capernaum (Nadine Labaki, 2018)
Wadjda (Haifaa Al-Mansour, 2012)
Home Alone (Chris Columbus, 1990)
The White Ribbon (Michael Haneke, 2009)
Let the Right One in (Thomas Alfredson, 2008)
Little Fugitive (Ray Ashley & Morris Engel, 1953)
The Florida Project (Sean Baker, 2017)
The Sixth Sense (M. Night Shyamalan, 1999)
The 400 Blows / Les Quatre Cents Coups (François Truffaut, 1959)
The Kid (Charlie Chaplin, 1921)
The Last Emperor (Bernardo Bertolucci, 1987)
Zero to Conduite / Zéro de conduite: Jeunes diables au collège (Jean Vigo, 1933)
Bicycle Thieves / Ladri di Biciclette (Vittorio di Sica, 1948)
Village of the Damned (John Carpenter, 1995)
My Life as a Zucchini / Ma vie de Courgette (Claude Barras, 2016)
The Boy with Green Hair (Joseph Losey, 1948)
Aniki Bóbó (Manoel de Oliveira, 1942)
The Shining (Stanley Kubrick, 1980)
Cinema Paradiso / Nuovo Cinema Paradiso (Giuseppe Tornatore, 1988)
Come and See (Elem Klimov, 1985)
Pather Panchali (Satyajit Ray, 1955)
E.T. the Extra-Terrestrial (Steven Spielberg, 1982)
André Valente (Catarina Ruivo, 2004)
Ivan's Childhood (Andrei Tarkovsky, 1962)
Nana (Valérie Massadian, 2011)
Pixote, a Lei do Mais Fraco (Hector Babenco, 1981)
Poltergeist (Tobe Hooper, 1982)
800 Balas (Álex de la Iglésia, 2002)
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"What do you want meaning for? Life is a desire, not a meaning. Desire is the theme of all life!"
Charlie Chaplin, Limelight (Charles Chaplin, 1952)
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Como é bom rever "O Desprezo" (“Le mépris”) passados anos e como é triste olhar para um Godard que já não existe.
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