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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Um pássaro sem asas não voa

Hugo Gomes, 18.10.21

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Há uns tempos um debate lançado por uma distribuidora (a ex-maior do país) tentou culpabilizar os filmes portugueses pela sua falta de adesão pública. A questão foi "O que os portugueses desejam ver no seu cinema?". Mas antes que haja respostas à pergunta de "milhões", há que entender que os filmes não caem do céu. Muitos necessitam de outros fatores, entre os quais a dita distribuidora falhou ou indiferentemente negligenciou, ou seja, não se faz "omelete sem ovos". O crítico João Lopes utilizou o Diário de Notícias para incentivar esse pensamento ou simplesmente facto.

Goodbye, Mr. Bond

Hugo Gomes, 30.09.21

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A esta altura do campeonato, os potenciais espectadores estão mais do que informados sobre este “007: No Time to Die” ser o adeus definitivo de Daniel Craig à personagem a que emprestou o seu corpo ao longo de cinco filmes durante 15 anos. Na hora da despedida, vale a pena recordar que o ator, hoje desassociável da pele do famoso agente secreto criado por Ian Fleming, não obteve uma pacífica promoção a “00” em 2006, naquele que foi um dos inovadores capítulos deste duradouro "franchise", o inesperado “Casino Royale”. Contra tudo e contra todos, até porque Daniel Craig não correspondia aos padrões tradicionalmente aceites para o papel de James Bond (houve quem se referisse à sua “cara de pugilista”), o filme de Martin Campbell marcou o início de algo inédito para este espião com licença para matar: continuidade narrativa e não as episódicas missões a que os seus antecessores estavam agregados. 

Hoje, uma ‘coisa’ é certa: independentemente das discussões sobre o próximo passo de um “novo Bond” (fala-se de atores negros a mulheres), “007: No Time to Die”, mesmo com o atraso de mais de um ano na estreia por causa da pandemia, ficou responsável por cumprir uma passagem de testemunho da forma mais (re)criativa possível. Nesse sentido, e para quem ainda receia pela visão “woke” que se vai entranhando na indústria cinematográfica e nas sociedades, desde o seu tratamento em relação às mulheres – as “bond girls” –, passando pela quebra da masculinidade tóxica que estava sempre associada a esta fantasia, "Casino Royale” fez mais pela personagem para as novas gerações do que esta missão a quente propriamente dita. Ainda assim, a pressão da "modernização" levou a produção a contratar a consagrada argumentista e também atriz Phoebe Waller-Bridge (da série “Fleabag”) para "aperfeiçoar" o guião e atribuir-lhe o “ar da sua graça”, descartando qualquer “male gaze” em relação aos corpos femininos. Sim, “007: No Time to Die” é um filme cordial e a condizer com os novos tempos, sem com isso sacrificando a pomposidade da sua produção nem o capricho das suas sequências de ação.

Sucedendo a Sam Mendes na cadeira de realizador, Cary Fukunaga (“True Detective”, “Beasts of No Nation”) mantém o virtuosismo orgânico do "franchise" e, por vezes, com alguma classe referencial. O resto... bem, o resto e com alguns bónus, é o que se espera neste universo: automóveis, relógios de marca, cocktails e vilões miseráveis e igualmente megalomaníacos. Nota-se que o filme é um tributo, não só à personagem, por fim humanizada, mas a um ator que vestiu o smoking e bebeu martinis secos com rigor, sem nunca ceder ao peso do legado. Há aqui uma atitude de mudança e, ao mesmo tempo, é na sua lógica conservadora que se encontra a derradeira dignidade da personagem. 

007: No Time to Die” presta a homenagem, fechando (mesmo com algum material para expandir estas narrativas) esta "dinastia" de James Bond como quem termina uma epopeia com pós de “perlimpimpim”...

Bond até uma próxima

Hugo Gomes, 29.09.21

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James Bond versão politicamente correta mais incorreta possível para não ofender nem a gregos nem a troianos. No fundo No Time to Die é uma produção de ação musculada em constante vénia a Daniel Craig e o seu modelo redefinido de 007 para um futuro mais que certo. Mesmo assim, esperava-se sofisticação, mas grande parte desta ficou num Casino em 2006.