Bobby Cassidy (1944 - 2022)
Bobby Cassidy : Counterpuncher" (Bruno de Almeida, 2009)
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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...
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Bobby Cassidy : Counterpuncher" (Bruno de Almeida, 2009)
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The State of Things / O Estado das Coisas (Wim Wenders, 1982)
Lisboa, menina e moça, ou será antes, Lisboa, madura e experiente? Quem me conhece, sabe bem do meu fascínio para com a capital. No entanto, não vou fazer disto uma ode à cidade que me viu nascer ou dos pontos “altos” e umbilicalmente turísticos que levam, e muitos, a encontrar deleite nas paisagens banhada do rio Tejo (ouve-se em "língua estrangeira" a denominação Tagus, um ser corrente e mítico, ou lá o que seja). A cidade com que me apaixonei e que cada vez mais me leva a procurar nela uma razão para permanecer nesse estado de encantamento, contrariando o “destino” que parece relembrar das impossibilidades do mesmo, é a mesma cidade “pintada” em muito do cinema mais crítico sobre da região, aquela sem medo de demonstrar a sua decadência mergulhada em noites soturnas, uma reunião de criaturas errantes e mal-amparadas prontas para aquele “copo” duradouro no balcão contínuo e estendido em cantos do Galeto, ou do sempre resistente (ou será “resiliente”, essa palavra em voga?) Cais Sodré, a agora ruela rosada situada a poucos metros das margens “ribeirinhas”.
Uma noite de bons vivants, ou assim pensam ser, de perversos ou simplesmente incompreendidos que penetram nos peepshows de becos, “vejam, mas não tocam”, ou dos esquecidos, amargurados, os solitários vencidos pela derrota que olham com tamanho pessimismos à bebida servida à sua frente. A noite de Lisboa não é mágica, mas é saudosista por tempos áureos, o qual nunca existiram, apenas perpetuam como lendas inconformistas entre os “trovadores de tasca”. O cenário em desenvolvimento e de expansão em “Os Verdes Anos” (Paulo Rocha, 1963), com Rui Gomes e Isabel Ruth perdendo no seu interior - por entre labirintos de árvores em jardins de refúgio a salões de dança (num travelling único que desde a sua prova nunca mais o esqueci) - e cuja incompatibilidade de ambos leva o protagonista a procurar companhia numa cidade noturna cuja sua divulgação era impedida pelos altos-órgãos (“uma afronta à boa moral lisboeta”, imagino que pensaram desta forma).
Mais tarde, nos últimos sopros do Estado Novo, essa Lisboa é capturada por personagens sem eira, nem beira, pontuadas pelas sardas de Maria Cabral como distrações para a sua crise existencial na “modernidade” levada da breca em “O Cerco” (António da Cunha Telles, 1970) ou do jovem curioso que resiste ao sedentarismo extraindo desse quotidiano falsos-profetas e Dulcinéias sem brilho em “Perdido Por Cem” (António-Pedro Vasconcelo, 1973), essa primeira longa-metragem contagiada pelos tiques da fervorosidade da Nouvelle Vague conservava uma noite sem dormidas, de encontros imediatos e espontâneos entre teatros à beira da ruína, residenciais de urgência para noctívagos sob o cuidado de um João César Monteiro de cerveja na mão e de jogos de póquer ilegais na companhia de Paulo Branco, aquelas apostas anteriormente acordadas em salões de bilhar.
Perdido por Cem (António-Pedro Vasconcelo, 1973)
Já na década de 80’, nos seus primeiros passos, Lisboa cedente à sua autodestruição, ilustrava-nos uma noite de atrasos culturais perfeita para “quem parou no tempo”, ou que devaneia com o inatingível. “Kilas, o Mau da Fita”, obra de sucesso de José Fonseca e Costa, título escorraçado pelo crítico da altura [Augusto Seabra], cercava ainda mais essa cidade cinzenta, de sex appeal pacóvio e de brandos costumes fingidos por uma libertinagem de moda. Os fura-vidas ou o típico alfacinha absorvido pela tentações de uma "metrópole" de bairrismo evidente e dos locais vincados não como passagem, mas de “segundas casas”. De braços abertos para receber os “fugitivos do dia” e aprisioná-los nos seus vícios. Esta capital caberia num dos êxitos da banda "Táxi" - “Sozinho” - onde a noite é mais que uma noite, uma cidade na camada de outra cidade, com os habitantes alternativos, hábitos alternativos e habitações alternativas, e a manhã indesejada porque nela pronuncia-se o fim de uma Lisboa oculta para o renascimento da Lisboa de postal.
Os “estrangeiros”, de certa forma, captaram esse “fado” proeminente, seja o escape de Wim Wenders ou de Christine Laurent, por entre rodagens e ensaios (“The State of Things”, “Vertiges”) respetivamente, os bares de cheiro a mofo soam abrigos para almas perturbadas, ou da transformação da cidade-portuária num porto imaginário onde marinheiros anseiam conhecer a sua derradeira sereia, em “A Cidade Branca” (Alain Tanner, 1983). Lisboa, o resgate de todos os pecados do mundo entranhados numa só arquitetura, com o Café Império, orgulhoso do seu vazio e ao mesmo tempo dos ocasionais clientes que aguardam sem vez, uma imagem imortalizada numa outra primeira metragem, “O Sangue” (Pedro Costa, 1989). "Sabes qual é a maior invenção do Homem?", a pergunta é feita repetidamente, do meu lado respondo Lisboa, sem sucesso. A década de 90 instalou-se, o encantado desencanto não vinga mais, a marginalidade revelou um outro tipo de “criaturas”, “leprosos” que servem como avisos por parte dos nossos pais para que as noites tivéssemos. Lisboa mudaria nestes anos e no fim dos mesmos, abrindo para a multiculturalidade e para o capital de outras coordenadas, o turismo em máximo expoente da ação. Paulo Abreu elaborou no seu ensaio docuficcional - “Alis Ubbo” - uma cronologia a essas metamorfoses, realçando a anterior “menina e moça” como uma resistente entre épocas.
Ramiro (Manuel Mozos, 2017)
Mas a noite, essa mesmo, regressou ao seu estado de desencanto, obviamente orbitando nos arredores dos eventos promovidos de uma cidade-modelo Time Out. Um público “fiel” aos “comícios improvisados” no interior do Galeto, “dois dedos de conversas” que se alargam para imperiais e snack-bar de horas “ordinárias”. Um público fiel aos últimos redutos do Cais’, observando a sua juventude a fugir por entre os seus dedos, ao mesmo tempo que mentaliza o término dessa longa noite, de lábios aquecidos enquanto saboreiam um pão com chouriço. Um público fiel à última sessão do Nimas, após a projeção percorrem a Avenida do 5 de Outubro procurando o “cantinho aberto” para prosseguir a tertúlia cinematográfica, até porque são nessas mesmas noites que nascem as melhores dissertações sobre o Cinema, aquelas histórias ocultas ou as revelações sinceras, tudo isso acompanhado por aquele hambúrguer pós-meia-noite e da imperial tirada ao sabor da praxe.
Esta é a Lisboa que muitos preservam, que dialogam em segredo e em código, e que lamentam pelas drásticas mudanças, aquele fecho ou figura sucumbida, a noite de outrora cada vez para lá da miragem. Essa mesmo, convertida em não-lugar nas mãos de Bruno De Almeida (“Cabaret Maxime”, 2018), ou na passividade rústica a mercê do seu desaparecimento em “Ramiro” de Manuel Mozos, aliás, o homem, que talvez por outra via, pensa em Lisboa como um território cinematográfico [“Lisboa No Cinema, Um Ponto De Vista”, 1994], e através dele recita os seus mais requintados contos. Ou será antes, pontos de vista?
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Quando um realizador de cinema tenta convencer um pugilista profissional a perder perante um ator de pelicula, eis um momento que, não só celebriza The Lovebirds, de Bruno de Almeida, mas como também resume a resistência prolongada do cinema português na sua longevidade. A soturnidade, o saudosismo e o nosso eterno fatalismo, elementos e vários que se aliam dando origem a uma utopia que se dá pelo nome de Portugal cinematográfico. Aqui, o realizador, de cigarro na mão e brandy na outra, é nada mais, nada menos que Fernando Lopes, um dos guerreiros da primeira frente do Cinema Novo e um experiente no que requer ao derrotismo enquanto signo de vivência.
“There’s a certain beauty in defeat” – a tradução universal para todo um estado de alma que apenas o português conhece e bem. Gostamos de pensar na derrota porque é através dela que deparamos com a nossa (i) mortalidade.
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Florida Project (Sean Baker, 2017)
A memória levou-nos à viagem, e em consequência disso, guiou-nos ao Lugar. Mas qual lugar? O Cinema encaminha-nos para espaços, não-lugares, cenários, etapas que resumem a leitmotiv cénicos. Neste terceiro episódio de Close-up: Observatório de Cinema, prosseguimos na jornada de desestruturação do Cinema propriamente dito. De que matéria é feita? Para onde segue? Quais as suas convergências e divergências? Com o Lugar, tema desta nova edição, chegamos, não ao destino, mas possivelmente a uma nova partida.
A decorrer entre os dias 13 a 20 de outubro, Close-up tem convertido num seminal evento em aproximação daquilo que chamamos de ano cinematográfico em revista, sem com isso reduzi-lo a um catálogo de estreias recentes repostas, mas um núcleo de temáticas e capítulos no nosso encaminhar cinéfilo. Prova disso, é a abertura oficializada com a projeção de “Lobos”, o grande trabalho de Rino Lupo, realizador italiano que na sua passagem em Portugal inseriu todo um novo olhar cinematográfico. A sessão será acompanhada por Paulo Furtado, o Legendary Tigerman, uma autêntica ousadia em cruzar a História de um passado remoto com os acordes atualizados do músico. Como encerramento, outro clássico e cruzamento, “Sherlock Holmes Jr.”, o qual Buster Keaton irá adquirir novo fôlego ao som de Noiserv.
Neste terceiro tomo há espaço para novas rubricas, o Café Kiarostami será inaugurado, uma mesa-redonda onde convidados de diferentes sectores do Cinema (realizadores, investigadores e críticos) reunirão para debater sobre os variados cantos e recantos da Sétima Arte. Contudo, serão os filmes, as verdadeiras estrelas destes sete dias rodeados de Cinema e a sua respectiva vénia.
Este ano, alguns dos destaques evidentes será a apresentação de “Cabaret Maxime” pelo próprio realizador, Bruno De Almeida. Possivelmente o melhor exemplo de Lugar neste espaço, um filme em que o cineasta transforma uma Lisboa noturna e soturna em “nenhures”, um território imaginário e igualmente real. A guerra entre cabarés é só o pico do iceberg, que é constituído pelas reposições de “Isle of Dogs”, de Wes Anderson (novamente frisando o “não-lugar”, neste caso inserido num Japão neofeudal e industrial), “Ramiro” de Manuel Mozos, a Lisboa saudosista e melancolizada no qual é embebido o espírito do homónimo protagonista e um dos grandes filmes do ano - “Florida Project”, de Sean Baker - um oásis situado nas fronteiras da Disneyland. Todas as sessões contarão com participações de personalidades ligadas ao Cinema, que debaterão com o público, a questão de espaço e lugar na compostura cinematográfica.
Sansho, The Bailiff (Kenji Mizoguchi, 1954)
Apesar dos lugares serem vários e indeterminados, existe um específico que promete ser paragem obrigatória neste evento – a América Latina. O Close-Up irá exibir um leque de filmes recentes das diversas cinematografias latino-americanas, passando pela esplendorosa escuridão das minas bolivianas de “Viejo Calavera”, de Kiro Russo, pelos paraísos perdidos das promessas nucleares em “La Obra del Siglo”, de Carlos Machado Quintela, e as fantasmagóricas selvas em busca de Vicuña Porto em “Zama”, a mais recente longa-metragem de Lucrecia Martel.
Mas a História (H grande aplica-se) é também ele um lugar de obrigatória paragem, dando continuação à rubrica, este ano Close-Up aprofunda no Japão assombrado de Kenji Mizoguchi, projetando quatro das suas principais obras (“Sansho, The Bailiff”, “The Crucified Lovers”, “Ugetsu” e “The Street of Shame”). A lição de História passará pelos influenciados, e precisamente os portugueses que espelharam esses signos mizoguchianos nas suas respectivas filmografias. Nesse leque poderemos contar com Pedro Costa (“O Sangue”), Paulo Rocha (“Mudar de Vida”) e João Pedro Rodrigues (com a curta documental, “Allegoria Della Prudenza'').
Já na secção Fantasia Lusitana, serão destacados Diogo Costa Amarante, vencedor do Urso de Ouro da Curta-Metragem no 67º Festival de Berlim e visto como um dos mais promissores nomes da cinematografia portuguesa, e Mário Macedo, jovem realizador que também tem feito um premiado e igualmente promissor percurso em festivais. Ambos realizadores serão frutos de retrospectiva (no caso de Macedo, haverá estreia absoluta de um novo trabalho). Como anexo deste espaço, Diogo Costa Amarante teve direito a Carta Branca e a sua escolha recaiu na obra de Agnès Varda, “Vagabond” (1985).
Close-Up ocorrerá, como é habitual, na Casa de Artes de Vila Nova de Famalicão. Por entre o Cinema e os debates, ainda haverá “lugar” para a Exposição Fotográfica e de Vídeo de Ana Cidade Guimarães e Virgílio Ferreira intitulado de A Natureza do Lugar e o Lugar da Natureza.
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“Existe uma beleza triste na derrota”, Fernando Lopes numa das suas viradas a ator, neste caso, em uma presença num dos filmes de Bruno de Almeida [“The Lovebirds”], condensou toda uma obra a um singelo e sentido reparo. Foi nas recordações ao seu “Belarmino” que Lopes, envergado a personagem-tributo, falou-nos do boxe com uma “vivaça melancolia”, um fado essencial, mas destruidor da alma humana. Não é preciso ser pugilista para encarar o boxe como o mais romantizado dos desportos no cinema e Bruno de Almeida guardou para si tais signos para impor a sua investigação no projeto seguinte – “Bobby Cassidy” – um documentário por si vergado em melancolia e compaixão a “Belarmino”.
De boxe e pugilistas o seu novo filme nada tem, mas o desporto de “murraças” e “ganchos” é somente uma aura metaforizada neste “Cabaret Maxime”, o tango entre dois e o pesar do derrotado, não pelo ringue, mas pela vida, mais precisamente, as mudanças que o atingem. Porém, foi no exato filme que Fernando Lopes debitou tal citação, que Michael Imperioli, entre o quotidiano lisboeta, é encantado por uma das sereias da cidade, Ana Padrão. O encontro dos dois levará ao desfecho do filme-mosaico de 2007. O casal reencontra-se, ou diríamos antes, nós o reencontramos, agora envelhecidos e cansados. Ele, Imperioli, o gerente de um cabaret em vias de extinção, mas que resiste arduamente às “modernizações” da noite hedonista. Ela, Padrão, é agora uma “velha” estrela de palco, Stella (“que significa estrela”), perdida e sem norte, por entre o passado glorioso e o futuro incerto.
O casal “brilhante” de “The Lovebirds” é transformado agora em dois seres autodestrutivos que deambulam por entre um Cais do Sodré convertido a “não-lugar”. Atmosférico e sobretudo fascinado pelo seu próprio universo, Almeida assume-se como náufrago nestas andanças noturnas, por entre o veludo vermelho que compõe o pano do seu espetáculo e pelos novos freaks que se pavoneiam em iluminações-holofotes. São os circos dos novos tempos … correção … dos tempos passados. Se existe em “Cabaret Maxime” a apetência de recriar um biótopo que nos agarre enquanto espectadores, sem esquecer pelo meio as menções do cinema narrativa (storyteller como muitos gostam de “estrangeirar”), existe também uma melancolia derrotista que nos confronta, mais do que confortar (apesar de desejarmos que a nossa vida contenha as intervenções de John Ventimiglia). É deixar para trás os vestígios de épocas expiradas para prevalecer o modernismo ou o modismo de ocasião, temática que parece afrontar as divagações de Imperioli por entre a montra de bares e danceterias.
O grande senão destes convites irresistíveis por ambientes povoados de criaturas fora de horas é o fascínio em demasia de Bruno de Almeida na sua criação cénica – não continuando, sobretudo, essa experimentação sensorial sem cortes nem espaços para acolher a dita narrativa, completamente enfaixada em finais fáceis. Porque tal como acontece nos contos da noite, o fácil não é propriamente a palavra que nos acompanha nestas ruas da “amargura”.
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Num dos retalhos do documentário de Pedro Fidalgo e Nelson Guerreiro, “Mudar de Vida” (que integrou a programação do último Indielisboa e a primeira edição do MUVI Lisboa), vemos o produtor musical José Mário Branco - que sempre havia “condenado” o fado, considerando-o numa obra salazarista de “calar um povo oprimido” ou simplesmente vaidade burguesa - a trabalhar com o fadista Camané na gravação do seu álbum “Sempre de Mim” (2008). Estranho, não? O que parece ser hipocrisia é explicado pelo anterior músico de intervenção como uma alteração do seu próprio juízo. A ideia demoníaca foi drasticamente abalada com o contacto e a descoberta da voz do fadista Camané, desde o seu timbre até à sua identidade perfeccionista em busca do tom irrepreensível e dos poemas cantados mais belos que se dão pelo nome de letras.
No novo filme de Bruno de Almeida, “Fado Camané”, somos remetidos ao “fadismo” do próprio artista, desde o seu próprio processo criativo (as imagens da gravação do álbum anteriormente mencionado, ao lado de José Mário Branco), até à dissecação do homem por detrás da arrepiante e emocionante voz, através de uma entrevista efetuada pelo jornalista João Bonifácio para o jornal O Público. Sobre tons cinza e de imagens propositadas de baixa resolução, a obra busca criar uma modesta aproximação do espectador com a sua figura central, convidando-o a conhecer a mesma através do seu vórtice artístico, a sua cumplicidade para com a melodia libertada da guitarra portuguesa e a coordenação de seu novo produtor musical.
Aqui não somos remetidos aos segredos de Camané e o porquê a sua razão de ser fadista como algo mais de teor pessoal e intimista como se adivinhara, mas sim, o avistar a sua complexidade como figura incontornável do fado, o observar a sua atividade na recriação e o processo vocal para a complementação da sua arte. Ponto curioso é que a certo momento, durante a entrevista, o jornalista o questiona de se “aprende-se a sentir“. Mais tarde, Camané canta o tema “O Bicho de Conta”, respondendo indiretamente à pergunta exposta.
Nesses termos, “Fado Camané” é uma obra humilde ao mesmo tempo que tece pretensão limitada quanto aos seus esquemas de alcance. Mas a voz de Camané continua a arrepiar, a invocar deuses frágeis melodicamente acorrentados. Talvez seja ele um dos últimos da sua espécie, visto que depois de Amália Rodrigues são poucos aqueles que ousam transgredir as fronteiras tradicionais do fado cantado. Como aclama o próprio a meio do documentário – “eu não quero ser Amália, eu quero ser o Camané, e eu canto como o Camané“.
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