Personagens gays na Disney ... ou muito barulho para nada
"The Beauty and the Beast" (Bill Condon, 2017)
No ano passado, num divulgado trailer de “Finding Dory”, era possível ver duas mulheres com uma criança, imagem essa, que instantaneamente foi deduzida como um casal de lésbicas. A homossexualidade iria por fim entrar no universo Pixar, um prenuncio que suscitou euforia para a comunidade LGBTQ e profecias de destruição moral por parte do leque mais conservador. Até à sua estreia, “Finding Dory” usufrui deste tipo de publicidade, positiva ou negativa, consoante a perspetiva e ideologia de cada um. O resultado foi, simplesmente, fogo de artifício, as duas personagens nada de relacionado davam a entender. Para algumas publicações e órgãos de comunicação, a oportunidade foi vista como um total desperdício.
Um ano depois, não propriamente no seio Pixar, mas nos estúdios Disney, o anúncio de por fim, uma personagem gay neste Universo, levantou, igualmente, muitos festejos como também reações espontaneamente negativas em relação à nova versão de “The Beauty and the Beast” (“A Bela e o Monstro”). Desde a boicotes, censuras em cinemas norte-americanos, alterações da classificação etária em território russo, adiamentos na estreia em alguns países como a Malásia, de forma a conseguir cortar a respetiva sequência, ou seja, o Mundo ficou de pantanas ao ter conhecimento numa persistência homossexual nas produções dirigidas a famílias.
Será isto uma ameaça real aos velhos valores morais, ou tudo se deve ao facto de vivermos num Mundo cada vez mais governado pelo populismo e por mentalidades arcaicas? Que perigo encontraremos numa personagem destas num filme orquestrado para uma vasta gama de audiências? Caros leitores, antes de mais, não existe qualquer perigo nisto. Mais uma vez, a oportunidade foi desaproveitada, a dita cena “homossexual” é vista por breves segundos e utilizado como um veículo cómico (quantas comédias é que utilizam a homossexualidade como gag e são devidamente aceites em sociedade conservadoras?), provavelmente de forma a não prejudicar o frame-to-frame que o filme ousa em assumir-se. O veredito é que até nesta vertente de ser avant-garde do cinema familiar, “A Bela e o Monstro" converte-se igualmente conservador e reservado nesta matéria.
Sendo assim, a Disney provou ser capaz para tocar no tema, e sem precisar de grandes anúncios, veja-se por exemplo na chuva de beijos num segmento da série infanto-juvenil “Star Vs the Forces of Evil”, que sim, passou na televisão e não usufrui de igual mediatismo.
Star vs. the Forces of Evil (2015 - 2019)