"18 Presents": feito para chorar, como parece ser o novo mandamento da Netflix
Não tem contestação: as plataformas de streaming, muito por causa da sua acessibilidade, tornaram pequenas produções (e não estamos a reduzir isso a uma questão meramente orçamental) em grandes fenómenos de popularidade. Eis que, depois do "remake" turco de "Miracle in Cell No. 7", que apanhou boleia do confinamento e da fragilidade emocional dos espectadores para se transformar num assunto de conversa para milhares, chega-nos outro drama lacrimejante que dá pelo nome de “18 Presents”, filme italiano que cruza ilusões, diluições temporais, metafísica e muita emoção de fácil consumo para dar e vender.
Eis um filme calculista, que quer arrancar a lágrima ao público como quem rouba o doce a um bebé. E essa estratégia de ir diretamente ao coração faz-se pela mais destruidora das armas, o sempre identificável amor maternal (e claro, paternal à mistura). É a família como tour de force, com um brinde lá pelo meio que procura o efeito da "doença da semana". Ou seja, “18 Presents” é todo ele traçado, na sua teoria, para nos conquistar através de truques já comprovados.
O que falta mesmo saber é se a prática é melhor do que a encomenda. E nesse aspecto, em relação ao "Miracle in Cell No. 7", o realizador Francesco Amato constroi um filme numa linguagem bastante formatada e “profissional” (como manda a indústria audiovisual seguidora do seu restrito manual). Os atores, por sua vez, tentam levar o projeto a bom porto, não tornando a experiência milagrosa, mas digna de prestar o seu serviço num streaming de bom samaritano.
Resumidamente é a plataforma que o distingue, porque “18 Presents” é um mero telefilme, tanto na sua estrutura como na temática e ambição. Pode emocionar, mas não é isso que o torna em algo memorável para um futuro que se avizinha cada vez com menos filmes criativos e novas linguagens cinematográficas...