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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

O farrapo humano

Hugo Gomes, 30.05.24

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Eis o salto triunfal de André Marques ao ambicionado território da longa-metragem - após anos e anos dedicados ao formato curta, numa trajetória elogiada nos círculos cinéfilos, críticos e até mesmo académicos [“Yulya”, “Luminita”] - "O Bêbado", um título que por si sugere o tom cruel acarretado pela obra, é um exemplo a merecer ser replicado de como o cinema português poderá adquirir a capacidade de cativar um vasto público sem o auxílio (ou lê-se rendição) da linguagem televisiva. 

Na verdade, deparamos com uma anti-telenovela, um ensaio incorporando em formalismos e terminologias identificáveis do cinema romeno - focando-se no quotidiano e extraindo dele uma crítica social, a estética crua e a câmara predatória para com o protagonista -, ostentando um guião minuciosamente trabalhado, verossímil e silenciosamente eufórico, refletindo o desespero sufocado do protagonista, Rogério (interpretado por Vítor Roriz, arrebatadoramente lacónico e corpóreo), o nosso “bêbado”, um constante refugiado no álcool com intuito de "anestesiar" a sua existência fragmentada e silenciosamente torturante (curiosamente a imagem do filme torna-se mais enevoada de forma a acompanhar o estado de embriaguez da personagem). 

Recebemos como cartão de “boa-vindas” nesse seu mundo ao som de "Quero Viver", a música póstuma de António Variações, interpretada pelo grupo Humanos, uma representação desses desejos ardentes escondidos sob a sua carcaça desanimada, contrastando com o retrato miserabilista de uma decadente Setúbal, aqui equiparada a periferia de sonhos nunca alcançados. Contudo, o filme evita cair no cliché do "farrapo humano" e no moralismo declaradas em guerras contra o alcoolismo, foge do panfletarismo, estabelecendo a sua fixação pela ficção. A sua ambiência é dotada por detalhes de um quotidiano identificável, acreditamos piamente naquele registo, naquele personagem, naquelas dores e naquela realidade, e é por essa via que Marques marca o seu devido ponto, mas não termina aqui. 

É que quadros dardaneanos encontram-se demasiado presos a um cansado discurso social, aqui, é o ‘brinde’ que surge na passagem do primeiro ao segundo ato que apimenta a narrativa, fazendo dirigir por outros caminhos, meio revoltosos é verdade, de um tom de vigilantismo acidental, o “Taxi Driver” à portuguesa que muitos adorarão descrever. O ponto extra deve-se aos seus minimalistas diálogos, principalmente oriundos da personagem de Rogério, mais performativo e expressivo que apenas um debitador-de-texto, um filme que funcionalmente comunica através das suas imagens, não dependendo da verborreia. 

Uma lição estudada, executada e bem-sucedida, do qual “O Bêbado” se orgulha de apresentar como artifício de uma estreia fulgurante no formato longa. André Marques consegue um crível conto de mártires residentes da nossa contemporaneidade. Brinde por isso!

Curte a Curta: 2ª edição dos Prémios Curtas

Hugo Gomes, 10.04.24

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Fotografia.: Ricardo Fangueiro

Após o seu nascimento e os primeiros passos, chegou a tão aguardada segunda edição dos Prémios Curtas, que teve lugar no Cine-Turim no passado dia 6 de abril, num sábado à noite em Lisboa, cidade com "400 e tal coisas para fazer", como citou o anfitrião da cerimónia, Rui Alves de Sousa. Apesar disso, a sala estava praticamente cheia. Sentia-se no ar o ambiente de premiação, mas acima de tudo um espírito de camaradagem cinematográfica entre produtores, realizadores, atores e outros técnicos, todos ansiosos pelos títulos conquistados e pela promessa de uma terceira edição (provável, mas quem sabe). Aceitei o convite de André Marques (o "outro", não o realizador) em integrar uma equipa de jurados* ainda na sua génese, sempre com o intuito de contribuir e opinar para a formação de um júri de excelência e referência. Já no final da primeira edição e perante uma segunda edição à vista, voltei a aceitar o convite, quanto à terceira, ainda espero por um pedido oficializado. Contudo, saindo do parênteses e voltando ao que “aconteceu”, poderemos encarar a adesão e o falatório (principalmente o gerado na comunicação social) como sinais de estarmos no caminho certo.

Quanto à premiação propriamente dita, apesar de “Monte Clérigo” de Luís Campos ter sido o vencedor da categoria de Melhor Curta de Ficção, foi a animação de Maria Hespanha, “A Rapariga de Olhos Grandes e o Rapaz de Pernas Compridas" que se autointitula de grande vencedor da noite. Foram quatro os prémios atribuídos; Animação, Argumento, Direção Artística e Banda Sonora [Pedro Marques]. Seguido pela também animação “Ana Morphose” de João Rodrigues (Som / Efeitos sonoros e Efeitos Visuais), “Maria José Maria” de Chico Noras (Montagem e Caracterização), “Natureza Humana” de Mónica Lima (Realização e Direção de Fotografia [Faraz Fesharaki]) e “Febre de Maria João” de Afonso e Bernardo Rapazote (Ator Secundário para António Mortágua e Guarda Roupa). Já os restantes, foram para a atriz Teresa Sobral pela sua interpretação em “Sagrada Família” de Diogo S. Figueira, Isac Graça como Ator em “Heitor Sem Nome” de Vasco Saltão, Maria Leite como Atriz Secundária por “Abafador” de Silvana Torricella, Gabriel Pêra vence Interpretação Infantil por “Capa de Honras, La Cuonta de L Garotico I L Bielho” de Rui Falcão, e “Défilement” de Francisca Miranda como Curta Documental.

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Os premiados e os jurados / Fotografia.: Ricardo Fangueiro

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Fotografia.: Ricardo Fangueiro

*Bruno Gascon (realizador), Inês Sá Frias (atriz e radialista), Edgar Morais (ator), Inês Moreira Santos (crítica e blogger), Teresa Vieira (curadora, crítica e radialista da Antena 3), Bernardo Freire (crítico), André Pereira (videografo e editor de vídeo), Filipa Amaro (realizadora), Carolina Serranito (programadora), Hugo Azevedo (diretor de fotografia), Bruno Bizarro (compositor).

Prémios Curtas - 2ª Edição

Hugo Gomes, 05.04.24

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É já amanhã (05 de abril) que decorrerá a 2ª Cerimónia de entrega dos Prémios Curtas, Cine-Teatro Turim em Benfica (Lisboa), apresentado por Rui Alves de Sousa (jornalista e radialista da Antena 1) e com exibição de três curtas-metragens (“Azul” de Ágata de Pinho [o grande vencedor da edição passada]), “O Peculiar Crime do Estranho Sr. Jacinto”, de Bruno Caetano, “Fora de Jogo”, de José Freitas, “Comezainas”, de Mafalda Salgueiro e “As Feras”, de Paulo André Ferreira [vencedor do Prémio Curta de Melhor Atriz Secundária da 1ª edição]). Integrei o júri em conjunto com Bruno Gascon (realizador de “Carga”, “Sombra” e “Pátria”), Inês Sá Frias (atriz e radialista), Edgar Morais (ator), Inês Moreira Santos (crítica e blogger), Teresa Vieira (curadora, crítica e radialista da Antena 3), Bernardo Freire (crítico), André Pereira (videografo e editor de vídeo), Filipa Amaro (realizadora), Carolina Serranito (programadora), Hugo Azevedo (diretor de fotografia), Bruno Bizarro (compositor).

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Os nomeados poderão ser conferidos aqui.

Curtas, curtinhas, a origem: 1ª edição dos Prémios Curtas

Hugo Gomes, 13.03.23

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Os premiados e os jurados / Fotografia.: Ricardo Fangueiro

Foi através de uma curta que Portugal desbravou caminho em direção à Kodak Theater, a nomeação à tão cobiçada estatueta norte-americana automaticamente entrou para a História audiovisual do nosso país, e então porquê de estarmos constantemente a reduzi-los a "protótipos" de futuras longas-metragens?

André Marques teve um sonho, criar uma cerimónia de festividades, premiações e de comunhão a esse universo bem português, a resistência do Cinema na sua mais natural essência, a simples e de rápida dicção, a curta. Para isso juntou oito magníficos* e fundou um júri, aliciou e arrecadou apoios, e “convidou” a todos os participantes a inscrever o seu trabalho. A sua vontade fez com que o seu desejo se materializasse. No passado dia 10 de março, sexta-feira nervosa devido à nomeação de “Ice Merchants”, cujos Óscares seriam revelados no domingo seguinte (“será desta?” pensavam todos os que presentes), o Auditório Fernando Pessa em Lisboa encheu-se (deve-se sublinhar), para receber a primeira edição, modesta, ainda com o seu quê de improviso, muitas vezes ocultado graças ao malabarismo e carisma de Rui Alves de Sousa, radialista da Antena 1, que assumia o papel de anfitrião. Intercalado pela dita premiação e pela projeção de três curtas referentes aos três géneros-base (ficção, documentário e animação), a cerimónia ficou marcada pelas promessas do seu fundador, ambicionando seguintes edições em maior escala e a ambição de um “microfestival” em celebração daquilo que a curta-metragem tão bem representa - o Cinema, aqui e agora.   

Quanto à premiação, a noite consagrou “Azul” de Ágata de Pinho com cinco prémios, no qual incluem as categorias de Curta de Ficção, Realização, Argumento, Atriz (também Pinho) e Fotografia (assinado por Leonor Teles). “O Homem do Lixo” de Laura Gonçalves arrecada três distinções (Curta de Animação, Curta Documental, Banda-Sonora), igualando com “Punkada” de Gonçalo Barata Ferreira (Montagem, Caracterização, Guarda-Roupa). Os outros prémios; Vítor Norte recebe o de Melhor Ator (“O Caso Coutinho” de Luís Alves), Nuno Nolasco como Ator Secundário (“Tornar-se um Homem na Idade Média” de Pedro Neves Marques), Rita Tristão na categoria de Atriz Secundária (“As Feras” de Paulo André Ferreira), Rodrigo Manaia em Interpretação Infantil (“By Flavio” de Pedro Cabeleira), e ainda a animação “Garrano” de David Doutel e Vasco Sá no campo dos Som / Efeitos Sonoros juntamente com a ‘dobradinha’ de “2020: Odisseia no 3.º Esquerdo” de Ricardo Leite (Direção Artística, Efeitos Visuais).

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Rui Alves Sousa e eu / Foto.: Ricardo Fangueiro

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Vítor Norte brama ao Cinema após vencer o Prémio de Ator / Foto.: Ricardo Fangueiro

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André Marques, fundador do evento, discursa / Foto.: Ricardo Fangueiro

*Bruno Gascon (realizador de “Carga” e “Sombra”), Mia Tomé (atriz e radialista), Edgar Morais (ator), Inês Moreira Santos (crítica e blogger do Hoje Vi(Vi) um Filme), Teresa Vieira (curadora, crítica e radialista da Antena 3), Rafael Félix (crítico e fundador do Fio Condutor) e André Pereira (videografo e editor de vídeo da Renascença).

Prémios Curtas - 1ª Edição

Hugo Gomes, 07.03.23

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Na próxima sexta-feira (10 de março) irá decorrer a 1ª Cerimónia de entrega dos Prémios Curtas, Auditório Fernando Pessa (Lisboa), apresentado por Rui Alves de Sousa (jornalista e radialista da Antena 1) e com exibição de três curtas-metragens (“Glória de Fazer Cinema em Portugal” de Manuel Mozos, “Arena” de João Salaviza e a animação “Nestor” de João Gonzalez [o mesmo de “Ice Merchants”, nomeado ao Óscar]). Integrei o júri em conjunto com Bruno Gascon (realizador de “Carga” e “Sombra”), Mia Tomé (atriz e radialista), Edgar Morais (ator), Inês Moreira Santos (crítica e blogger), Teresa Vieira (curadora, crítica e radialista da Antena 3), Rafael Félix (crítico) e André Pereira (videografo e editor de vídeo). 

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Os nomeados poderão ser conferidos aqui.

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