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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Helmut Berger (1944-2023)

Hugo Gomes, 19.05.23

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La caduta degli dei / The Damned (Luchino Visconti, 1969)

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Das Bildnis des Dorian Gray (Massimo Dallamano, 1970)

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The Godfather: Part III (Francis Ford Coppola, 1990)

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Il giardino dei Finzi Contini (Vittorio De Sica, 1970)

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Ludwig 1881 (Donatello Dubini & Fosco Dubini, 1993)

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Gruppo di famiglia in un interno (Luchino Visconti, 1974)

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Liberté (Albert Serra, 2019)

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Ludwig (Luchino Visconti, 1973)

"Liberté" e que se abram os portões do Inferno!

Hugo Gomes, 01.05.20

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Perante o puritanismo da corte de Louis XVI, vários aristocratas, confiando os seus mais íntimos desejos no libertino e livre Duque de Walchen (Helmut Berger), refugiam-se num bosque cercado pela escuridão do ocultismo (enquanto no seu interior comemorava-se o devaneio do iluminismo). Aí, após cumpridos os preparativos, estes homens e mulheres de requinte, prestígio e glamour são automaticamente desprovidos das suas “peneiras”, convertidos em seres rastejantes que farejam as fantasias idealizadas. O objetivo é apenas um: antes da morte chegar de madrugada há que matar o desejo, sendo esse envolvido de prazer, dor e humilhação.

De Albert Serra, o cinema é algo inclassificável e despido de qualquer rigor na sua conceção. Desde a sua segunda obra – “Honor de cavalleria” (2006) – o catalão tem inventado, experimentado e tentando com isso descobrir a sua noção de cinema. É uma descoberta sentida ao longo de 15 trabalhos (sejam longas, curtas ou ensaios performativos), que revê na mortalidade das suas personagens, o tremendo travessão para as suas próprias narrativas.

Com a “La mort de Louis XIV”, o antepassado do monarca “invisível” de “Liberté”, Serra confiou num dito ator profissional, a repugna vencida que tem proclamado no seu percurso enquanto cineasta, Jean-Pierre Léaud, da mesma forma que os decadentes elementos da nobreza e os seus serventes cegamente são guiados pela “sabedoria” de Walchen (uma distorção da imagem e filosofia do Marquês de Sade). Foi nesse exato filme que o ator apoderou-se da forma tosca com que Serra se dirige aos seus recontos, e nesse aparato, a morte citada é revelada na queda do enorme “imperador” e do seu legado. Aí, o realizador reinventou-se, mas foi sol de pouca dura, contextualizado pelo decorrer das experiências estampadas no ecrã de “Liberté”.

Há aqui um regresso à sua normalidade improvisada e, como tal, fora Léaud, o ego de Serra paira sobre o mato cerrado, sendo o espectador novamente embatido na experiência como fruto do acaso ao invés de reflexão. O que “Liberté” destaca frente à fase ante-Louis XIV é a sua subliminar linha-guia e o dito experimento que vai ao encontro das fantasias segregadas por Serra. A perversão contínua pontuada por um autêntico “freak show” de masoquistas, sodomia e barbaras resoluções para sedes secretas no foro sexual; o eros e thanatos (amor/vida e morte) que bailam inseparavelmente no breu da noite. A experiência de Serra é um objeto acidental que refresca o sexo como mero estatuto social, sobretudo de poder, assim como Pasolini o entendeu no mais radical dos seus filmes – “Salò o le 120 giornate di Sodoma”.

Portanto, em “Liberté” assistimos com repugna e em modo voyeurista estas excentricidades encenadas, por vezes intermináveis, como parte de uma performance coletiva incrustada e documentada em digital. Os atores parecem deambular sem orientação alguma por parte de Serra (talvez seja essa a libertação requerida de todo este processo), determinado aqui a cometer mais um mimo ao seu imbatível ego. 

Com isto prova que é um piores e simultaneamente melhores cineastas do nosso tempo (eros e thanatos num só, como se consolida a sua obra); um homem refém das suas tentações e fantasias hedonistas que alimentam unicamente o seu paladar, deixando de fora a degustação do espectador.

Os Melhores Filmes de 2017, segundo o Cinematograficamente Falando ...

Hugo Gomes, 03.01.18

Assim seguimos para a já habitual lista de 10 melhores do ano. Começo por referir que fora no geral um ano difícil de Cinema, onde a criatividade escassa e as ideias parecem cansados. Contudo, mesmo assim algumas obras destacaram nesta tremenda época de desilusões. Desde super-heróis adultos até derradeiros adeus a estrelas, passando por poetas motoristas e o sucumbir de gigantes monarcas. E já agora, o cinema português está de parabéns.

 

10) Lucky

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“Mesmo que Stanton aposte no “realismo” que acabara de definir (“realism is a thing”), e nas verdades entre indivíduos que nunca corresponde uma verdade absoluta, este cantinho transforma-se o seu Éden, prevalecendo memórias e garantido o merecedor descanso eterno. Isto acontece porque o sentido alterou com o contexto, a celebração aos vivos é agora uma dedicada canção para os mortos.”

 

09) A Fábrica do Nada

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“As Máquinas não podem parar, e o Cinema deve acompanhar todo esse processo de auto-sustentabilidade. A Fábrica do Nada, a quarta longa-metragem de Pedro Pinho, é esse conceito simultâneo de fazer cinema e falar de política, um retrato de um activismo em pleno passo de reflexão.”

 

08) Verão Danado

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“A verdade é que o cinema tem ido cada vez mais ao encontro dos mais jovens e, com isso rejuvenescido. E esse rejuvenescimento não é um fator que deva ser ignorado, nem sequer desprezado. Verão Danado exibe os dotes dessa tremenda juventude… até Nuno Melo, quando surge, cobiça esse tão inexistente elixir. Ó tempo, porque não voltas atrás?”

 

07) Logan

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A partir daqui, os filmes de super-heróis possuem o mais derradeiro desafio … ressuscitar após a cerimónia fúnebre cometida por Logan, assinada pelo nosso “tarefeiro” predileto, James Mangold. Hugh Jackman calça as garras pela última vez (assim ele promete) para se entregar de total alma a esta desconstrução, ao intimismo que remonta um classicismo cinematográfico bem ao estilo americano. A morte, essa, é apenas o dedo médio a uma das maldições do subgénero: a modelização a ser absorvida na linha de montagem.

 

06) Get Out

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“É fácil cair no erro de considerar Get Out em mais um arquétipo do "bate e foge" como tem sido claro no cinema deste género. Felizmente, os marcos do género aqui incutidos são um embuste, um disfarce para que Peele consiga difundir a sua mensagem através da sua "voz". Voz essa perturbada com o crescente temor sociopolítico que abraça os EUA pela discussão na "praça pública" de temas que se consideravam "enterrados" há anos. Sim, Get Out é um filme sobre o medo. E é também nesse medo que encontramos o ponto de ebulição e o lançamento de farpas às mob flash politicamente corretas que - à sua maneira - são culpadas pela crescente vaga de populismo e de idealismos do arco-da-velha.”

 

05) La Mort de Louis XIV

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Um objeto violento sobre a morte enquanto estado transgressivo. La Mort de Louis XIV é um filme sobretudo sobre o tempo, essa espera eterna pela queda de um gigante monarca, e o desconhecido que o atenta, a si, e aos seus entes e servos. Depois de três experimentações que resultaram em “híbridos” indigestos da linguagem dos atores, Albert Serra resolve apostar na sua primeira grande Obra (até que enfim um estilo encontrado), neste caso servente de um titã do cinema francês (Jean-Pierre Léaud) a mercê de novos “golpes”.

 

04) Paterson

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“Mas é nessa poesia que recorta os dias de Paterson, assim como a sua mente, uma ode às vozes estampadas nas palavras de muitos, e com especial atenção a obra de William Castle William até porque Paterson (cidade) é um signo da sua própria poesia, mesmo que não queira cair em citações de trechos do seu trabalho. Porque, parecendo que não, o filme de Jim Jarmusch já transborda, por si, essas palavras soltas, unidas numa precisa e bela onomatopeia. Como o filme, achamos que não há melhor maneira de terminar aqui do que citar, por uma última vez a personagem misteriosa: "Sometimes an empty page presents more possibilities".”

 

03) 120 Battements par Minute

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“Fora géneros e orientações, 120 BPM é um filme sobre a celebração da vida e o quanto queremos residir nesse “bailado”. Até a morte, maioritariamente induzida como assombração, revela-se uma celebração quando surge, anunciando a chegada de uma nova etapa. Se a vida é na realidade uma compostura de etapas, daquelas que nos comprometem com novos desafios, objetivos e porque não, amores,120 BPM usufrui desta metamorfose cíclica de forma a estruturar uma narrativa aberta, sem a recolha de moralismos-objetivos, mas o de simular a vida em mudança através do seu ritmo desalinhado.”

 

02) The Tribe

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Um filme-choque. É essa a verdade da sua natureza. Mas por vezes a provocação integra a experiência do cinema e porque não pensar que esta nasceu através da arte de provocar como o comboio filmado que assustou uma multidão na projeção de 1896. Enquanto isso, somos deslumbrados com uma lavagem ousada e politicamente incorreta de um filme ucraniano sobre a repreensão social, sobre as sociedades mantidas e vividas no silêncio que encontram na violência a sua liberta forma de expressão. É cliché dizer isto, mas ... é um soco no estômago.

 

01) Aquarius

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Aquarius é tudo num só, menos um "filme" no seu sentido mais simplista. É uma força de expressão filmada em estado de fúria, mas cuja cólera é registada com sapiência. Ao mesmo tempo é uma "mensagem numa garrafa", uma obra para perdurar para futuras gerações, assim como a cómoda que acompanhou todo uma árvore geracional de Clara. Um retrato subliminar do estado brasileiro que por sua vez conserva a riqueza da cultura de Recife e imortaliza Sónia Braga como a maior das divas do Brasil. Será muito cedo para falar em obra-prima? Muito bem, arrisco em declará-lo como tal. Que venha então a primeira pedra.”

 

Menções honrosas – The Little Men, São Jorge, Ma Vie de Courgette, Silence, War of the Planet of the Apes