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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Ímpares - Ciclo de Conversas / Double Bill: Abel Ferrara - Bacurau & Vazante

Hugo Gomes, 09.04.24

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Na próxima segunda-feira (15 de abril), estarei na sétima sessão da iniciativa Ímpares - Ciclo de Conversas enquanto moderador. Vai-se discutir a filosofia “desesperante” de Søren Kierkegaard em cruzamento com o filme de Abel Ferrara (“The Addiction”), com responsabilidade do Dr. Telmo Rodrigues, e ainda, do outro lado do Atlântico com “Bacurau” de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles com “Vazante” de Daniela Thomas, sob a batuta da poetisa e ensaísta Patrícia Lino. A ter lugar na Cinemateca Portuguesa, mais concretamente na Livraria Linha de Sombra, pelas 18h30. A entrada é livre.

Mais informação, ver aqui

Nas tristezas e alegrias do homem mais solitário do Mundo

Hugo Gomes, 30.12.20

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“É impossível viver sem razão”

A razão, essa fonte irredutível de vida, é matéria maleável para Abel Ferrara, cada vez mais distantes dos padrões que havia regido décadas antes, assombrar e distorcer tendo como fruto colhido mais um ensaio esotérico sobre o solipsismo. Relatos e tormentos de solidão são plâncton no vasto oceano que é o Cinema, abundante, próspero e incansável no seu ressurgimento.

Nada contra esse tipo de introspecção, em grande tela o reflexo do Homem só continua a ser uma das suas melhores historietas, porém, chegamos a esta nova utilização do ator Willem Dafoe numa enésima experiência pedante de Ferrara, o de colocar o ator na representação óbvia do eremita global. Sibéria, a taiga gelada onde parece não albergar vida alguma é palco para o nosso protagonista, um estrangeiro em terra de ninguém, que gere um ainda mais remoto bar. Dafoe, sob o corpo e a alma fragmentada de Clint, lamenta-se e augura da sua própria sorte, ansiando por confessar os pecados ocultos que o forçaram a refugiar-se de todo, quer dizer, restante mundo.

Por entre a vodca servida como conforto em manhãs e noites gélidas, o nosso alienado procura paz e regalo no corpo feminino, acariciando e degustando os cantos e recantos desse prazer lascivo. Mas é quando uma grávida mal amparada entra no seu decadente estabelecimento, que Clint revive a luz que lhe havia faltado, a da vida, clarificada nesse “fenómeno” chamado maternidade (“Je vous salue, Marie”?). O encontro com este “milagre da natureza” o leva a refletir sobre a sua própria vivência, legado e através disso o destino da Humanidade, hipérboles geradas pelos seus “problemas de primeiro mundo”.

Sonhos correntes, esoterismo variados por entre febris e ocasionalmente molhados fantasias, memórias ripadas e replicadas, entidades que o visitam e os quais são visitados, elementos que trazem à jornada de Clint uma certa interiorização, mas sem razão de existência. A este protagonista o espectador é levado a seu egoísmo, narcisismo e egocentrismo de forma martirológica. Abel Ferrara já havia comprometido tais laivos na incorporação do seu parceiro (já vão na sexta longa-metragem juntos) desde que Asia Argento o assombrou em “New Rose Hotel” (1998).

O corpo de Dafoe é o mais próximo que se tem do divino e nas mulheres do Santuário, é tudo uma questão de representação e a sua atribuição em calores xamânicos, mais do que propriamente poéticos ou centrados em doutrinas do foro psicanalista. E esta viagem pelo entender de Clint e, em contrapartida, o reflexo de um realizador torturado plenamente ciente da sua insaciável insatisfação para com o Mundo ao redor e aquele o qual cria. Infelizmente, as promessas de Ferrara são em vão, ele não constrói nem re-imagina nova linguagem, tal já havia sido apropriada por Andrei Tarkovsky que sob as suas metas temporais induzia na sua história hereditária um fundido e ambíguo caudal entre realidade / surrealidades, sonho / fantasia, ficção / poesia. Todas as servidas dicotomias entrelaçavam e geravam a sua utopia (neste caso, nota-se uma gesto inspirado nesta viagem de Ferrara com a autognose em “Mirror” de Tarkovsky).

Em “Sibéria” presume-se a densidade, mas não sai do faz-de-conta. É umbiguismo revelador que parte de lado nenhum para chegar a “nenhures”, e nem a viagem compensa a trajetória. No fundo, Clint … aliás Dafoe, como ninguém, sendo Dafoe, resulta no espetáculo já confirmado de um ator de corpo e alma. Se é através dele que o filme se apoia incondicionalmente, então há capacidade, porque fora da sua órbita é somente fogo-de-vistas.

Room Service!

Hugo Gomes, 09.06.20

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Chambre 212 (Christophe Honoré, 2019)

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Anomalisa (Duke Johnson & Charles Kaufman, 2015)

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The Best Exotic Marigold Hotel (John Madden, 2011)

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Don't Bother to Knock ( Roy Ward Baker, 1952)

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Four Rooms (Allison Anders, Alexandre Rockwell, Robert Rodriguez & Quentin Tarantino, 1995)

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The Grand Budapest Hotel (Wes Anderson, 2014)

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Home Alone 2: Lost in New York (Chris Columbus, 1992)

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1408 (Mikael Håfström, 2007)

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2046 (Wong Kar-Wai, 2004)

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The Shining (Stanley Kubrick, 1980)

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Some Like It Hot! (Billy Wilder, 1959)

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Room 304 (Birgitte Stærmose, 2011)

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The Bellboy (Jerry Lewis, 1960)

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The Million Dollar Hotel (Wim Wenders, 2000)

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Chelsea on the Rocks (Abel Ferrara, 2008)

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Hotel (Jessica Hausner, 2004)

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Love Steaks (Jakob Lass, 2013)

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Mekong Hotel (Apichatpong Weerasethakul, 2011)

Go where?

Hugo Gomes, 23.05.14

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"Listen to me, Steve. Go where? Steve, this is important. Go where? That's right, go where? What happened in your room... Are you listening? What happened in your room is not an isolated incident. It is something that is happening everywhere. So, where you gonna go? Where you gonna run? Where you gonna hide? Nowhere, 'cause there's no one like you left. That's right..." Carol Malone (Meg Tilly)

- Body Snatchers (Abel Ferrara, 1993)