Ryuichi Sakamoto (1952-2023), da banda-sonora ao grande ecrã
The Last Emperor (Bernardo Bertolucci, 1987)
New Rose Hotel (Abel Ferrara, 1998)
Merry Christmas, Mr. Lawrence (Nagisa Oshima, 1983)
Ryuichi Sakamoto: Coda (Stephen Nomura Schible, 2017)
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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...
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“É impossível viver sem razão”
A razão, essa fonte irredutível de vida, é matéria maleável para Abel Ferrara, cada vez mais distantes dos padrões que havia regido décadas antes, assombrar e distorcer tendo como fruto colhido mais um ensaio esotérico sobre o solipsismo. Relatos e tormentos de solidão são plâncton no vasto oceano que é o Cinema, abundante, próspero e incansável no seu ressurgimento.
Nada contra esse tipo de introspecção, em grande tela o reflexo do Homem só continua a ser uma das suas melhores historietas, porém, chegamos a esta nova utilização do ator Willem Dafoe numa enésima experiência pedante de Ferrara, o de colocar o ator na representação óbvia do eremita global. Sibéria, a taiga gelada onde parece não albergar vida alguma é palco para o nosso protagonista, um estrangeiro em terra de ninguém, que gere um ainda mais remoto bar. Dafoe, sob o corpo e a alma fragmentada de Clint, lamenta-se e augura da sua própria sorte, ansiando por confessar os pecados ocultos que o forçaram a refugiar-se de todo, quer dizer, restante mundo.
Por entre a vodca servida como conforto em manhãs e noites gélidas, o nosso alienado procura paz e regalo no corpo feminino, acariciando e degustando os cantos e recantos desse prazer lascivo. Mas é quando uma grávida mal amparada entra no seu decadente estabelecimento, que Clint revive a luz que lhe havia faltado, a da vida, clarificada nesse “fenómeno” chamado maternidade (“Je vous salue, Marie”?). O encontro com este “milagre da natureza” o leva a refletir sobre a sua própria vivência, legado e através disso o destino da Humanidade, hipérboles geradas pelos seus “problemas de primeiro mundo”.
Sonhos correntes, esoterismo variados por entre febris e ocasionalmente molhados fantasias, memórias ripadas e replicadas, entidades que o visitam e os quais são visitados, elementos que trazem à jornada de Clint uma certa interiorização, mas sem razão de existência. A este protagonista o espectador é levado a seu egoísmo, narcisismo e egocentrismo de forma martirológica. Abel Ferrara já havia comprometido tais laivos na incorporação do seu parceiro (já vão na sexta longa-metragem juntos) desde que Asia Argento o assombrou em “New Rose Hotel” (1998).
O corpo de Dafoe é o mais próximo que se tem do divino e nas mulheres do Santuário, é tudo uma questão de representação e a sua atribuição em calores xamânicos, mais do que propriamente poéticos ou centrados em doutrinas do foro psicanalista. E esta viagem pelo entender de Clint e, em contrapartida, o reflexo de um realizador torturado plenamente ciente da sua insaciável insatisfação para com o Mundo ao redor e aquele o qual cria. Infelizmente, as promessas de Ferrara são em vão, ele não constrói nem re-imagina nova linguagem, tal já havia sido apropriada por Andrei Tarkovsky que sob as suas metas temporais induzia na sua história hereditária um fundido e ambíguo caudal entre realidade / surrealidades, sonho / fantasia, ficção / poesia. Todas as servidas dicotomias entrelaçavam e geravam a sua utopia (neste caso, nota-se uma gesto inspirado nesta viagem de Ferrara com a autognose em “Mirror” de Tarkovsky).
Em “Sibéria” presume-se a densidade, mas não sai do faz-de-conta. É umbiguismo revelador que parte de lado nenhum para chegar a “nenhures”, e nem a viagem compensa a trajetória. No fundo, Clint … aliás Dafoe, como ninguém, sendo Dafoe, resulta no espetáculo já confirmado de um ator de corpo e alma. Se é através dele que o filme se apoia incondicionalmente, então há capacidade, porque fora da sua órbita é somente fogo-de-vistas.
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