Sonhar com "Dom Roberto" ou Sonhar como "Dom Roberto"
Respondendo ao convite de Roni Nunes e o seu Cultura XXI, abordei sobre um dos mais debatidos filmes do início do chamado Cinema Novo Português - "Dom Roberto", de Ernesto de Sousa, com Raul Solnado como o eterno e errante sonhador.
"Dom Roberto é sobretudo um filme cansado. Cansado por ter “nascido” num país atrasado sem desejo do avanço (veja-se o subenredo do mecânico improvisado que monta o seu carro de raíz e o vizinho que constantemente o agoira). Um país sem apoios sociais, que despreza os desfavorecidos fervorosamente e os trata como marginais. Aliás, o filme demonstra-nos isso mesmo, um país de marginais, subsistido na sombra da capital e que só as suas fantasias oníricas a libertam das amarras do seu miserável quotidiano. E não sei se repararam, mas o Dom Roberto é um fantoche, limitado ao seu palco e comandado por quem sonha com o conforto do razoável. No fim de contas, o “boneco” sobrepõe-se a João, o fantoche diário de uma estendida “palhaçada” operada por uma mão dominadora. Mais do que propaganda escancarada, o filme transporta-nos para a luta nos seus diversos subtextos e contextos, até chegarmos àquela declaração de Glicínia Quartin acompanhadas pelo garrafal “Fim” – "Mas … ainda não é o fim. O fim é para aqueles que desistem'' '."