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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Ser convencional? Há que possuir uma fria relação acerca de tudo!

Hugo Gomes, 20.06.18

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Acreditar em narrativas aristotélicas? Para Hlynur Palmason, um agnóstico preso a um sistema autoritário de narrativa visual, a resposta é resistir como rebelde “encarapuçado”. Em “Vinterbrødre” (“Winter Brothers”), a sua primeira longa-metragem, o realizador interessa-se na história de dois irmãos que vivem e trabalham numa comunidade mineira, porém, longe do que qualquer sinopse anuncia, este não é o mero conto de fraternidades, aliás, o que testemunhamos é uma ode às marginalidades.

Essas, inteiradas em sujeitos que tentam ingressar numa rotina quotidiana e que fracassam, um pouco como o realizador que revolta-se contra a estrutura clássica do somente “contar uma história de forma percetível” para endereçá-la por vias de signos semióticos e um atentado às iminências e omnisciências do clímax. Ou seja, para qualquer descrente da estética e crente absoluto do argumento (uma das oligarquias do boom televisivo), “Vinterbrødre” encontra-se aterrado de cabeça no seu centro e cuja neutralidade do seu ato (sendo neutro o cúmulo da perversidade, já dizia Claude Chabrol) o estabelece como um bon vivant da narrativa mental e do júbilo visual que não são mais que entreténs para Palmason.

Por entre as simétricas trabalhadas em planos gerais (soa a organização cinematográficas intercaladas com a barafunda dos corpos banhados pela escuridão do subsolo (assim como o solo a adquirir o seu protagonismo nas contribuições ao olhar) que deixam o espectador incapaz de interpretar do que vê e a, por fim, violência em conjunto com um humor requintado que só os nórdicos parecem manter intacto.

Se existe algo que poderemos tirar partido disto tudo são duas sequências que aludem a natureza desta ambição, o VHS que exibe a Guerra (qual delas? Não interessa), o confronto armado que transforma-se numa contorção psicológica, o nascer do trauma a olhos vistos. E a segunda, provavelmente a mais relembrada neste episódio cinematográfico, a história dentro da história, o relato de um cão que reside no seu espaço à espera do dono que não volta mais, assim como o espectador que espera uma resolução fácil, as histórias da carochinha para leigo entender de caras.

Por um lado, há que encarar que esta incursão de misfits é mais densa do que as imagens indicam e mais superficial do que a narrativa e as suas constantes voltas nos levam. Hlynur Palmason tem a atitude, tem o paladar (uma escolha meticulosa dos atores com Elliott Crosset Hove) e a técnica necessária para o rastrearmos futuramente.