"Sanzaru": pelos traumas profundos do terror
A grande força deste “Sanzaru” situa-se no que não é dito e no que é invisível aos nossos olhos. Xia Magnus estreia-se nas longas-metragens com um híbrido dramático no dito cinema de género: um terror psicológico que intersecta na artificialidade com que aborda o sobrenatural, da mesma forma que Reygadas executou no seu delirante “Post Tenebras Lux”, sem receio em contornar a credibilidade.
O enredo centra-se numa “anciã” (Jayne Taini) que resiste em vão à demência numa casa isolada algures no Texas. O filho (Justin Arnold) desta refugia-se numa caravana nesse mesmo terreno, tentando exorcizar o stress pós-traumático de uma guerra no Médio Oriente. A casa, esse esconderijo para os segredos mais obscuros, pelas entidades misteriosas que são tudo menos passageiras e pelos fantasmas que assombram as ‘vivalmas’, é “guardada” por Evelyn (Aina Dumlao) e o seu irmão Amos (Jon Viktor Corpuz), dois filipinos, cada um com segredos, os quais tentam manter seguros nas sombras.
Como se pode verificar, num prisma generalizado, este é um filme que retrata um meio caminho para a regressão, personagens sob o selo dos traumas que se confrontam perante o iminente desvendar deles. Um pouco ao sabor do título, “Sanzaru”, que segundo Xia Magnus refere-se à designação japonesa do provérbio dos três sábios macacos (não ouça o mal, não fale o mal e não veja o mal), um símbolo de uma passividade harmonizada do budismo. E é sobre essa “cantiga” que percebemos a essência e a construção desta obra que foge sobretudo do óbvio modelo das “casas assombradas” ou das permanências do terror fácil e didático. A “Sanzaru” apenas falta-lhe uma expressividade quanto ao seu terceiro ato, que surge algo apressado perante um desenvolvimento em lume brando que tenta sintetizar os dramas pessoais e com isso entregar-nos figuras que correspondem ao ente trágico de toda esta variação de género.
Como primeira longa-metragem, Xia Magnus vai num bom caminho. O aprumo, isso, é algo que poderá surgir em próximas jornadas. Por enquanto, eis uma proposta de alguma forma exótica num certo tipo de terror norte-americano, aquele que não “lambe” as feridas de uma nação, mas que “escarafuncha o dedo” nelas, de uma América, mais que tudo, traumatizada.