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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Que bela (era) a juventude ...

Hugo Gomes, 31.03.15

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Aquilo que o filme considera como “Le Cose Belle” (“A Coisa Bela”) pode facilmente ser identificado como a juventude,  aqui abordada de forma frágil e ao mesmo tempo comum a todos nós. A flor de idade serve aqui como um contra-campo para o grande objetivo do documentário, ou seja, o de retratar a desilusão de uma geração sonhadora e convicta em vingar no futuro, mas cujo presente foi atropelado, obrigando-os a ceder à sobrevivência, e cedendo essa inocência arcaica em promessas incumpridas e juras burladas. São sonhos perdidos, olhados com tristeza e saudade, mas sobretudo confrontos intrínsecos com o grupo de quatro ex-crianças, gracejadas com uma felicidade irracional, para mais tarde converterem-se em jovens adultos arrependidos e desesperançados.

A dupla Agostinho Ferrente Giovanni Piperno segue pisadas semelhantes às do cineasta brasileiro Eduardo Coutinho, falecido em fevereiro do ano passado, o qual havia feito com igual perseverança e regulamentação com os elementos temporais em “Cabra Marcado para Morrer” (1985). Nesta obra, que adquiriu grande valor na cinematografia brasileira, Coutinho revisitava nos anos 80 uma família do Noroeste do Brasil que tentou filmar duas décadas antes (tendo sido impedido de continuar o projecto original em consequência do regime militar que o país vivia). Ou seja, este documentário “brinca” com as mesmas condições prescritas do tempo e da memória. E em épocas do hype de “Boyhood”, “Le Cose Belle” surge como uma confirmação de paciência enquanto estilo fílmico de produção.

Mas apesar do seu processo criativo, que por si realçará os atributos do filme enquanto obra de estudo etnográfico, “Le Cose Belle” apela diversas vezes à emoção, não só aos dramas humanos contados sob um jeito nostálgico perdido, mas como a música que funciona nessa linha unificada de passado e presente, com claro vislumbre para o futuro. As crianças de ontem, os adultos do amanhã, o espelho dessas duas faces, estão lado-a-lado neste registo cinematográfico. Vale a pena espreitar as “coisas belas” da vida!