Porque estacionar em Lisboa é uma *bitch*
Indiscutivelmente, (tentar) estacionar no bairro de Campo de Ourique é um pesadelo que por si só adquire contornos burlescos. Em “Vórtice”, curta-metragem de Guilherme Branquinho, é quase uma instalação dessa situação quase dantesca, uma escadaria de Penrose, em que numa noite qualquer, o descanso 'merecido' é adiado por um constante rodopio quarteirão acima, quarteirão abaixo. Trata-se de um exercício que condiz com a sua duração (15 minutos e chega bem), onde o espanto conduz de forma fluída, nunca 'escondendo' o jogo, nem nunca revelando o baralho na sua totalidade, mas entendendo do que está em cima da mesa, e com isso mantendo refém a atenção do espectador num artifício de fácil codificação e difícil explicação. Metafísica, quântica, ou somente a 'piada' recorrente transformada em episódio “Twilight Zone”, expondo um know-how convincente, se não fossem também as peças devidamente encaixadas.
Narrativamente estamos conversados, quanto à atmosfera nem há para muito discutir, é um desespero paranoico, ensurdecedor perante o silêncio habitual da madrugada naquela 'witching hour' (julgo que por cá chamamos “hora da bruxa”, não tenho a certeza), e no seu centro, ou melhor, vórtice, Cristóvão Campos, ator que nos últimos tempos tem tão bem exposto uma angústia vertiginosa sem perder um pio ao identificável (fora do “Pôr-do-Sol”, devidamente satírico, há que espreitá-lo em “Revolta” de Tiago R. Santos para perceber do que falo).
Quanto à curta, poderão vê-la na Filmin aqui.