Para George Clooney não há estrelas no horizonte
Manifestamos que de George Clooney, enquanto realizador, já o testemunhamos algum entusiasmo, seja pela sua estreia e trampolim direto ao ator Sam Rockwell em “Confessions of a Dangerous Mind” (2002) ou pela reconstituição amargurada e igualmente serena em “Good Night, and Good Luck” (2005) sobre o jornalista Edward R. Murrow e, a acrescentar, uma pausa para uma reflexão política nos seus próprios bastidores no ainda esquecido “The Ides of March” (2011). Contudo, essa sua força tem sido gradualmente camuflada com a indústria corrente, quer a nível ideológico quer na linguagem narrativa e técnica.
O que evidenciamos nesta sua adaptação de um livro de Lily Brooks-Dalton – um futuro pós-apocalíptico onde a única esperança para as réstias da Humanidade se vislumbra em outros planetas – é um “tearjerker” no seu sentido mais anónimo. George Clooney indicia um teste de Cooper para se colocar à frente e por detrás das câmaras, cujo seu aspeto desleixado não esconde o desinteresse que tem por material repensado como caro auto-ajuda e que … possivelmente … ganhará novos contornos interpretativos em influências atípicas e pandémicas como estas que vivemos atualmente (são sinais destes novos tempos, mexem com a cabeça de qualquer um).
O ator/realizador havia confessado que para o tratamento desta obra repescou a sua experiência em “Gravity” de Alfonso Cuarón e requisitou os calos do argumentista Mark L. Smith enquanto criador de “The Revenant” de também mexicano Inñarritu. A sua afirmação revela-se totalmente coerente no pitching desta obra, que se traduz na oscilação entre duas histórias cruzadas, uma passada no Inferno Branco do Ártico, a outra na vastidão do Espaço em direção a “casa”, ambas viagens conhecerão os respetivos desfechos a mando de um guião de emoções fáceis e dos problemas costumeiros que povoam aqueles lados de Hollywood.
Tecnicamente competente, com atores a carregar os seus respetivos papéis com o profissionalismo necessário, e a banda-sonora do mais lacrimejante dos compositores (Alexandre Desplat), “O Céu da Meia-Noite” (“The Midnight Sky”) é uma união de esforços que celebram a mais oleada linha de montagem cinematográfica que engole autores e impurezas benéficas. Aliás, não pedíamos aqui nenhuma loucura em matéria de odisseias intergalácticas (a nossa “Galáxia” está cheia disso), mas era pedido uma determinação que valha para justificar todas estas jornadas e não direcioná-las ao vazio … que foi exactamente isso que que aconteceu (de coração vazio e mente enublada).
George Clooney quis olhar para as estrelas, esquecendo que também era preciso que “elas” retribuíssem com o seu olhar. E devido a essa falta de interação, eis mais um para se juntar ao insuflado fascínio pelo Espaço sem nunca pretender o seu infinito (apenas a temporada de prémios). Uma produção lamechas, superficial e isenta do tal Clooney de outrora (aquele que ainda tinha mostrar o seu valor e respeito na indústria e na cinefilia em geral).