O terror sorridente para a nova geração ...
Esta tendência de querer adivinhar o futuro é um risco que muitos ousam cometer, e muito mais no que requer em … eureka! … deparar com uma estética para anos posteriores. Desta feita, olhamos para a indústria alicerçada neste “Smile 2”, a sequela mais musculada do êxito (não inesperado devido ao marketing investido) de 2022 sob a assinatura de um estreante Parker Finn, que apenas havia induzido o conceito terrorífico e amaldiçoado em curtas enfiadas de rajada nos becos e cantos do Youtube.
É verdade que, entre a disputa aquela disputa de gostos, quem colocou o “polegar para cima” na prequela não o baixará nesta continuação, o oposto será dificílimo até porque “Smile 2” não se atreve em descobrir a fórmula do fogo grego, é “mais e melhor” o seguimento do equação sequelite em Hollywood (e não só). Porém, é ao ver a construção dos seus jumpscares e a forma como estão conduzidos, que constatamos um condicionamento à linguagem contemporânea destas gerações (dependentes)ligadas às redes-sociais enquanto extensão dos seus mundos.
Havia referido em 2023, o australiano “Talk to Me”, objeto de dois ex-youtubers e de hype envolvido pela A24, que não fora de todo explorado ou pensado pelos cinéfilos mais velhos, muitos deles ‘colados’ ao terror como algo estagnado e imutável, porém, é na reação triunfada entre os mais “novos”, que Hollywood descobriu um tratamento para futuras projeções. Nessa obra, um grupo de jovens se reúnem, tal como numa bandeja de ouija, invocando e aceitando serem possuídos por espíritos temporariamente na intenção da adrenalina e da experimentação de novas sensações, sempre presente as câmaras dos smartphones para depois serem lançados à viralidade da ‘world wide web’. Paralelamente, qualquer um de nós, ligados a essas mesmas redes, poderá certificar a panóplia de vídeos curtos, ora seguindo nas chamadas trends, ora de marcação de presença (mais o “estou aqui” do que “o que estou a ver”), e claro, o forjamento de sobrenaturalidade como ela própria uma experiência de sustos (igualmente “jumpscares”) avulso.
O viral é um ponto crucial aqui, aliás prioridade, uma espécie de placebo à monotonia e ao fatalismo ora cada vez mais precoce destas gerações, os ditos fantasmas ou criaturas demoníacas entraram neste mundo como parte dele, e o abraço é mútuo, e de poucas estranhezas. No fundo é a revisitação da vertigem atrativa gerada pela ideia da “dark web”, daquele submundo informático sem vigilância que, histórias muitas e partilhadas entre grupos e chats, incluindo bizarrias, ilicitudes e até mesmo creepypasta, as tais maldições virulentas, alimentavam a nossa curiosidade, mórbida, “forçando-nos” a esse encontro, nem que seja imaginativo.
Em “Smile 2”, à luz do anterior, a maldição necessita sempre de uma audiência para se propagar. De riso rasgado e o macabro (nesta continuação a violência está em alta) a ser exercido, olhamos para o percurso autodestrutivo de uma estrela pop em modo comeback após um acidente rodoviário e uns quantos assuntos não-resolvidos com álcool e estupefacientes como um negado canto de cisne, e após a “maldição” instalar são os variados jumpscares, a bitola do terror de estúdio, a comandar o filme que entra em vértices delirantes ocasionalmente. Mas é nesses sustos programados que contemplamos um revisitar das tendências e dos encantos fantasmagóricos da nova geração, a começar pelo doppelganger em modo uncanny valley que ainda propaga nos reels e tik-toks destas andanças, tentando com isso criar um mito urbano credível. Depois, a dependência desses novos ecrãs, não só na vida (o smartphone é a primeira ‘coisa’ a ser arrancada do bolso, por exemplo) como fuel para a narrativa ou do eventuais plot twists.
“Smile 2” cheira a esta nova geração, detém o sabor a essa ansiosa passividade (mesmo que a protagonista, uma Naomi Scott acima do pedido, se confronta, a certa altura, contra esse estado de espírito). Agora, se isso faz dele um bom ou mau filme seguindo a lógica da crítica de cinema binária, dependerá, aí está, do “gosto” ditatorial do crítico. O que mais interessa depois da experiência deste filme é entender que há uma indústria atenta e dedicada a aproximar-se do paladar destes novos fregueses, mimetizando essa estética de rede social e traduzir esses seus sustos fabricados para grande ecrã. Será que estamos a evidenciar o terror do futuro?