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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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O não-ativismo de "Dunkirk" contra o ativismo do Mundo

Hugo Gomes, 04.08.17

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O mais recente filme de Christopher Nolan [ler crítica], pode ser tudo, desde a magnificência com que tem sido descrito pela imprensa mais imparcial até à maior “nojeira” das história do cinema bélico pela outra quota, e quem escreve estas palavras é um assumido opositor a “Dunkirk”, mas desta vez saio… e contrariando as hipóteses… em defesa da obra. Sim, leram bem, não de forma a reconhecer a sua “majestosidade” (até ao final do texto continuo a prevalecer na ideia de um filme desorganizado e manipulador), mas devido às acusações que “Dunkirk” tem disso submetido nos últimos dias. Até porque os tempos evocam uma resposta da diversidade cultural e de género, e sucessivamente a sua representação em meios que outrora os ignoravam. Porém, há que separar o “trigo do joio”. Existe sim, uma distinta vertente política correcta que cada vez mais se distingue com esse “senso de justiça”.

O que vos trago é a panóplia de notícias que tendem a provar uma negligência por parte de Nolan à importância do outro lado do Império Britânico neste seu retrato à maior das evacuações militares. Segundo o colunista indiano, Mihir Sharma (Bloomberg View), tendo como base um artigo da The Times of India, a Índia, na altura colónia inglesa, obteve um papel relevantíssimo na Segunda Guerra Mundial, nessa defesa da Coroa Britânica contra a ameaça nazi. O mesmo colunista em conformidade com outras provas históricas e afirmações de historiadores, clama que o episódio de Dunquerque foi igualmente representado pelas tropas coloniais indianas e paquistanesas. As mesmas informações levam a acusações de que Nolan ignorou os factos por diversos motivos, quase todos ligados ao chamado “privilégio branco” ou até mesmo a um cego patriotismo, e não, na maior das hipóteses, à educação escolar que se vive nas escolas britânicas, fruto dessa imagem de “bom Império”. Um pouco à imagem da nossa que continua a vender-nos a ideia que os “portugueses sempre foram bons colonizadores”. Assim sendo, será Christopher Nolan uma vítima do ensino britânico, ou o privilegiado que se vende?

Se é ou não, a questão não serve de todo como um martelo-pneumático para demolir aquilo que o realizador construiu, uma reconstituição longe do romantismo a uma das grandes manchas do historial das Forças Armadas Britânica, e… também, o injetar de uma certa glória na derrota, quase como statment nacionalista. Esta última, servido de acha para outra fogueira, a da metaforização do Brexit, muito em consideração às declarações do conservador político Nigel Farage (um dos “cabecilhas” da saída do Reino Unido da União Europeia), que veio a público expor a sua admiração pelo filme. Neste caso, é como se o gosto de um indivíduo direcionasse todo um filme para um vertente política e ideológica à sua imagem. Como se, nesse sentido, o fascínio de Adolf Hitler a “Metropolis”, de Fritz Lang, o conduzisse a uma ideologia nazista nos seus frames (se existir ou não, como tem sido constantemente teorizado o papel do Expressionismo Alemão na conceção dos ideais do nazismo, nenhum dos casos motiva a queda de um filme como uma peça rica da História cinematográfica).

Porém, tirando estas criminações, do outro lado do Oceano, num país que elegeu Trump como presidente, continua-se a derramar tinta em discursos político-sociais da escassez de representações culturais no retrato de Nolan, até mesmo incriminações de misoginia, pela igual ausência da Mulher em todo este enredo. Perpetua-se a valorização do ativismo, por vezes forçado, frente aos propósitos de um filme. E voltando ao início, Dunkirk poderá ser um trabalho impaciente, desleixado e demasiado egocêntrico para se posicionar entre os melhores do seu género, mas posicioná-lo no contexto atual sabendo que a “História está morta” era a proposta encarada pelo realizador… uma afronta a um Mundo cada vez mais sedento por exemplaridades coletivas no Cinema e na propagação de um conceito de um “mundo ideal”. Para ser sincero, tudo soa mais histerismo que qualquer outra coisa.