O homem que colecionava medos
"The Exorcist" é um daqueles filmes que sempre me desafia a (re)entrar no seu domínio proibido e herético. Há poucos dias, confessava a alguém a minha atração quase mórbida por esta obra e como a sua passagem (seja onde for) é sempre uma oportunidade para a reavivar. No entanto, não é de exorcismos nem de pazuzus que viveu William Friedkin, o mesmo tem expressado arrependimento em relação à sua abordagem nos recentes anos, o qual culminou no documentário "The Devil and Father Amorth". Contudo, ele é principalmente um mestre do medo por excelência, sendo que é dentro desse tema que nascem os seus melhores trabalhos, bem como os mais incompreendidos.
Para Friedkin é viver e morrer, o medo é só um sintoma dessa passagem, uma patologia que vem dos corpos [“Cruising”] e regressa a eles [“Bug”], devorando-os constantemente em uma tortura delirante É esse medo que transforma as suas obras em um turbilhão de loucura. Com isto, regresso mais uma vez ao "The Exorcist", àquela luz demoníaca que ilumina a silhueta de Max Von Sydow ao som de "Tubular Bells" de Mike Oldfield, oriundo do campo de batalha que o aguarda. É a mais espectacular receção ao que mais nos amedronta. Um temor localizado num quarto remoto na parte mais sombria da casa, a porta é apenas um aviso que nada impede, porque, tal como no cinema de Friedkin, é o medo que nos conduz.
William Friedkin (1935 - 2023)