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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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O fogo da tentação no coração

Hugo Gomes, 06.10.23

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Virgílio Teixeira em "José do Telhado" (Armando de Miranda, 1945)

A verdade é que entre o povo a noção de propriedade está por demais arraigada para que um ladrão, por mais heróico ou altruísta, não seja julgado como infame. Um assassino é tolerado, pode partilhar o pão dos seus vizinhos, pode fazer esquecer o seu crime. Um ladrão lega a toda a sua descendência um ferrete indelével, porque, se o homicida as mais das vezes obedece a uma paixão, um impulso resgatável e quase nunca repetido, o ladrão traz no sangue, e assim o comunica, o fogo da tentação que as circunstâncias, mais ou menos, ou velam ou expandem. Esses fabulosos capitães-bandoleiros que o vício romântico faz mártires e faz glórias nacionais não passam entre os seus conterrâneos senão por homens cujas virtudes foram reduzidas a instrumentos de perdição e de crime. Admiravam José do Telhado, pasmando das suas fugas insólitas, a coragem carniceira que o fazia coser com a agulha de castrador o próprio ventre anavalhado; louvavam a sua generosidade, comum a homens de tal tipo, que acabam por se explicar como reformadores sociais e se fanatizar contra a lei, mas o povo não lhe perdoava a quebra de confiança a que o obrigava, nem a traição que desse facto, mutuamente, resultava.” Agustina Bessa-Luís, “A Sibila” / edição Relógio d’Água

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