O Cinema Canadiano precisa urgentemente de uma inspeção
Para Jim (David Thewlis), um inspetor da ASAE, a mais importante razão da existência de um homem é a sua reputação, um empreendimento calculoso, por vezes vagaroso de construir, sendo isso o reflexo que eterniza frente a um mortal velcro que se dá pelo nome de corpo. Essa tal perceção quanto ao “sentido da vida” encontra-se, literalmente, exposto num dos momentos metaforizados por Atom Egoyan (“Exotica”, “Chloe”) neste seu “Guest of Honour”, obra que parece seguir os ensinamentos desta personagem-chave, Jim, ou seja, restando apenas a consideração que temos pelo seu autor.
Um dos importantes nomes da dita Nova Vaga de Toronto, que vingou no final da década de 80 e início dos 90, Egoyan está atualmente ao nível de muito do cinema canadiano que tem surgido nos recentes anos, objetos despidos de qualquer rasgo autoral ou farpa criativa, remexendo em fábulas morais num artifício academizado e homogéneo (exceto o muito “underground” Denis Côté). Foi tal o que aconteceu com outro nome dos cantos do norte-americano - Denys Arcand - vencido por um derrotismo ingénuo que adocicou a sua anteriormente ácida sátira político-social em “The Fall of the American Empire”, ou da paciente regressão de Xavier Dolan ao seu universo após voos atribulados (“Mathias & Maxime”). Em "Guest of Honour”, somos jogados ao serviço da velha clara da historieta moral de um homem isolado, porque assim o quis, e confrontado com a sua própria mortalidade. Isto, relatado como mero flashback encavalitado em mais flashbacks, mesmo que alguns destes troce do espectador através de traições de veracidade, desprezando a sua elegância narrativa em prol do seu sermão.
No fim de contas, nenhuma destas consequências angariadas através dos impensáveis atos destas personagens nos satisfaz verdadeiramente, o enredo abraça um prolongado anonimato, valorizado somente pelo empenho de David Thewlis (subvalorizado ator de corpo [“Naked”] e voz [“Anomalisa”]) em constante revista a impurezas e infrações em cozinhas alheias. Digamos, que não passa no teste sanitário este Atom Egoyan perdido… e o cinema canadiano está a merecer um carimbo de reprovação.