Nicolas Cage, o homem "escroto" na febre de Sion Sono
É possível encontrar um filme tresloucado no meio do caos acidental de “Prisoners of Ghostland”, uma espécie de "sukiyaki" (prato nipónico em que as pessoas se servem a si mesmas à medida que os ingredientes são cozinhados) com Nicolas Cage como cabeça de cartaz, prometendo a loucura e o devaneio no meio de uma salganhada visual. É curioso este cruzamento entre um Japão feudal com o Oeste americano mais o imaginário pós-apocalípticos, um cenário de colocar o espectador “às aranhas” num enredo em constante perturbação neurológica.
Para objetos estranhos e com o seu quê de excentricidade, Sion Sono não é nenhum estranho, há que espreitar os seus “Why Don’t you Play in Hell?” (2013) ou “Tokyo Tribe” (2014) para entender o quanto de desvairado este universo pode ser, e mesmo assim, segundo o próprio conterrâneo, contemporâneo e amigo de longa data, Takashi Miike, é um dos únicos a cometer "cinema japonês adulto” nesta atualidade. Não vamos refletir profundamente nessas declarações, mas deve-se entender que estamos a vivenciar tempos em que uma Marvel Studios reina “box-offices” com tamanha naturalidade e impondo com isso uma certa seriedade narrativa e forçada e inabalável continuidade como modelo de sucesso industrial. Com isso, a violência inconsequente (aqui com alguns limites, deve-se salientar tendo em conta o seu autor) em contexto de inserções camp ou meramente “sillies” parece ter transladado para outras faixas etárias, para gerações em que este escapismo ainda faz algum sentido no seu menu de “entretenimento”.
“Prisoners of Ghostland” é na sua melhor forma um filme à imagem do espírito livre e multifacetado do realizador, isto, se fosse realmente um projeto à sua altura. Sabe-se que Sion Sono sofreu de um ataque cardiovascular ainda antes da rodagem, atrasando-a por um ano, o que fez com que Nicolas Cage sugerisse mover a produção para o Japão de forma a que o realizador evitasse deslocações cansativas. Mesmo em terras do Sol Nascente, um realizador debilitado mais os “habituais” controlos criativos que Hollywood (e seus derivados) tem sobre autores importados resultaram aquilo está à vista de todos, um filme espectral que paira no térreo, um claro apoio incondicional na estética que resiste a um argumento escavacado e intrinsecamente esquizofrénico (entre “Mad Max” a “Escape from New York” passando por “The Hills Have Eyes”, a ‘coisa’ torna-se por vezes inarrável e indescritível).
No centro desta barafunda sem estribeiras, existe Nicolas Cage, como o sempre excêntrico ator que imprime a sua, ainda estudada, personalidade nos filmes que se alista. Um misto de aquétipo de arcaico "action man" (homens de poucas palavras e de virilidade em valores máximos, mesmo quando perde um testículo) com uma caricatura do mesmo, uma personagem que tão bem poderia sair de um imaginário pueril e juvenil. Nicolas Cage show para alguns, um Sion Sono light para outros (sabendo que para quem é adepto do seu cinema, a dieta não é solução).