Não se trata apenas de um cavalo num quarto, mas sim de um poema vivido.
Martin Verdet pactua com o poeta Franck Venaille para um exercício criativo jubilante que, em certo sentido, funciona como um experimento ricamente sensorial. O objetivo? Ilustrar os poemas do próprio Venaille, proclamados em conjunto com o realizador, ecoando em uma única sala, o tubo de ensaio para decifrar as emoções envolvidas nessas chamadas palavras iluminadas.
Atenta à genialidade dos seus "protagonistas", Je me Suis mis en Marche é uma obra que reúne um surrealismo declarado e a metáfora envolvida nesses mesmos versos, uma obra de execução, de improviso e de imaginação que poderiam ser de alguma forma incutidas no intelecto e no gosto literário do espectador, se ele for recetivo a se induzir a essa extensa cultura, à jornada para os limites do ser imaginado e do espaço físico.
No entanto, é nesse sentido que encontramos o grande fracasso de Je me Suis mis en Marche, não na sua limitação estética e cénica, apenas destacada na exposição dos autores na condução desse ensaio verbal, mas na sua atitude de atravessar a frio uma plataforma talentosa de imagens e som [Cinema] com a complexidade emocional da sua injeção poética, um híbrido que por diversas vezes soa estranho e que após essa estranheza emergente é atacada por um sentimento de júbilo masturbatório que nos faz questionar a essência do prolongamento desse espetáculo.
Como Alain Cavalier, Verdet demonstra a infinidade da narrativa no cinema documental e experimental, um conjunto de imagens e sons que nos transportam para o conhecimento das matrizes de todas as formas e plataformas. No entanto, essa contemplação seria muito melhor servida no cerco de uma curta-metragem, e sabendo que Je me Suis mis en Marche é, de qualquer forma, não é uma longa-metragem de longa duração (70 min). Ver, sentir, mas nunca verdadeiramente deslumbrar, são os lemas desta corrente fluvial.