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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Na espera de um amanhã ...

Hugo Gomes, 08.02.23

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A realizadora vietnamita radicada nos EUA - Linh Tran - prossegue na sua primeira longa-metragem, frente a um território arriscado, a concepção de um filme sobre jovens desinteressados e possivelmente minado em autognose. Porém, desvia-se das armadilhas comuns localizadas nesta etapa prematura que facilmente cederia a presunções ou psicanalises “verdes”. Contudo, “Waiting for the Light to Change" é sobre jovens adultos, mais do que o respeito aos códigos banalizados do cinema para jovens (entendido a massas), uma obra de, e sobre, impasses narrativos (o título, por si, antevê esse feito), onde nada altera a sua natural composição, apenas se reflete sobre o passado e no passado se manterá (como a vida, que bem sabemos e vivenciamos).

Nesse jeito, as personagens terminam os seus arcos narrativos sem um propício desenvolvimento (ou metamorfose dramática), e em certa maneira persistindo em modo inactivo, sem deslumbramentos através de epifanias ou “evoluções” a mando das regras aristotélicas. A sensibilidade aqui vislumbrada é outra ‘coisa: uma “estância de passagem” durante uma semana, onde cinco jovens partilharão as suas experiências em ritos nada energéticos (fumar ao longo do acinzentado litoral, conversas de almofada e confissões à beira-rio), todas eles ligadas e ordenadas por memórias passadas, assuntos pendentes gradualmente construtores de um ambiente de aparente tensão, apenas entendido como advertências de "pólvora seca”, ou ameaças de bomba, mero bluff.

Linh Tran trabalha o tédio destes jovens impacientes e procrastinadores em um jeito ansioso e vergado à sua própria melancolia, sem nunca recorrer à condescendência. Em parte, é desta matéria que muitos regozijam sob efeito de “soju”, como regem os “contos” de Hong Sang-soo, porém, sem mimetizando o desengonçado estilo do sul-coreano, preferindo com isto, a estaticidade enquanto lugar reservado ao espectador para estes convívios efémeros. Contudo, existe algo na luz, mais concretamente a fotografia de David Foy, equilibrando o tom melancólico com a blindagem suscitada pela sensação de nostalgia, daquelas rutilantes recordações que desejaríamos malear à vontade da nossa contemporânea.

Uma descoberta em Slamdance [vencedor principal da edição de 2023] , um pseudo “coming-to-age” sobre jovens e as suas respectivas tristezas como parte fulcral da sua maturação.