Morte macaca
A macacada faz-se com Stephen King à baila!!
Baseado num conto do escritor, o novo filme de Osgood Perkins (ou Oz Perkins para os amigos) tinha tudo para manter o registo de “realizador do arrepio” onde se tem banhado, e ainda mais depois do êxito de “Longlegs”. Acrescenta-se à equação James Wan como produtor, e eis um trio maravilha que só poderia conceber maravilhas… mas não foi o caso. Primeiro, apeteceu culpar King (escritor sobrevalorizado no campo da fantasia e do terror… fico a aguardar as pedradas), que rapidamente recorreu às redes sociais e à comunicação social para “vender” o filme como peça fundamental do terror cinematográfico atual (exagero da nossa parte, como também da dele), mas, como bem sabemos, o seu gosto pelas suas adaptações deixa muito a desejar — “Shining” e “Carrie” são a sua pedra no sapato, “Dreamcatcher” e “Dark Tower” os seus “hurrays”. Felizmente, Kubrick e De Palma se borrifaram para aprovações, e deram a subtileza que o escritor sempre careceu.
Contudo, apeteceu abraçá-lo. Não como rendição às suas palavras, mas para o desculpar da minha ira, porque nele culpa alguma se deve tirar. O conto original é “kingueano” na dose certa, o filme, esse, exaltou-se e, sobretudo, aparvalhou-se. Podemos encarar o camp como uma arma lúdica e, por vezes, escapista, dou de barato os pequenos estúdios ou o independente apostarem nesse tom — fica-lhes bem, soa autêntico e despretensioso, “The Monkey”, por outro lado, não. Para além de soar a falsete, tenta impregnar um filme que não existe, deixar-se encantar com a sua violência pensada e medida, mas acaba acidentado como tencionava evitar.
Mas afinal, do que se trata “The Monkey”? Um artefacto amaldiçoado, perverso e demoníaco: um macaco de brinquedo que, ao ser ativado, provoca uma aleatória e espectacular morte. A premissa remete-nos para um daqueles livros da franquia “Goosebumps” — aliás, um poster pode ser visto na infância do protagonista, vínculo direto com essa inconsequência. E não vamos por menos: apesar do seu gore, este mascara-se com um tom trocista e freeze frames que zombam da sua agressividade. Um festim de sangue levado na desportividade, com um horizonte apocalíptico bigger than life que se encaixa na hiperatividade imposta por Perkins ao seu macaco.
O tal “realizador do arrepio” ainda se debruça numa atmosfera que evoca-nos para uma outra obra - o tal filme que não existe. O resultado, porém, é um estremecer grosseiro, com sangue a rodos e uma narrativa infantilizada com a sua “moral”, o de aceitar a naturalidade da morte, elemento casual apenas enaltecido pela sua incompreensão / fascinação enquanto humanos. Talvez esse fosse o propósito, e estejamos a ser demasiado severos com o primata. Um filme de morte e mortes, aliciado para audiências mais jovens, que transforma o terror numa experiência mais acriançada, longe das causas e das alegorias, dos sustos e da experiência. Uma “porta aberta”, dirão alguns em defesa do consumidor. Nós, expomos a amenização de um género para melhor encaixá-lo numa lógica de mercado.
Everybody dies. Some of us peacefully and in our sleep, and some of us... horribly. And that's life."