Morreu Jonas Mekas, o "Padrinho do Cinema Experimental"
Photo.: Wei Gao
Morreu o cineasta e poeta Jonas Mekas, o "padrinho do cinema avant-garde norte-americano", uma das figuras mais importantes da história do cinema experimental. Tinha 96 anos.
De origem lituana, Jonas Mekas e o seu irmão, Adolfas Mekas, abandonaram o país em 1944. Prisioneiros de guerra e condenados a um campo de trabalhos forçados, ambos conseguiram fugir para Dinamarca, o que o levou, cinco anos depois, a emigrar para os EUA. Pouco tempo depois da chegada ao solo norte-americano, Mekas compra uma câmara Bolex 16mm e inicia a produção de pequenos e íntimos filmes. Foi o início de uma aventura que se inseria numa vaga artística que surgia lentamente (com mimetização numa anterior vanguarda arthouse, datada na década de 20).
Avançou-se na realização com “Guns of the Trees” em 1961, um drama experimental sobre uma mulher depressiva que tenta suicidar-se, ao mesmo tempo que estranhos tentam convence-la que a vida merece uma segunda oportunidade. Três anos depois, chega uma das obras mais célebres, “The Brig'', no qual Mekas tenta jogar com o ultrarrealismo num dos grandes dramas da História das forças armadas norte-americanas. Apesar do contexto diferir, “The Brig” é um filme com vários cordões intimistas e pessoais. Conquistou o Grande Prémio do Festival de Veneza. Jonas Mekas alia-se a Andy Warhol para conceber a curta Award Presentation to Andy Warhol (1964), que serviu de porta direta para outra colaboração entre os dois, o qual gerou o mítico Empire (1965), documentário de 8 horas tendo como estrutura um plano em tempo real do Empire State Building.
“As I was Moving Ahead I saw Brief Glimpses of Beauty” (2000)
Entre outras obras, contam-se “Diaries Notes and Sketches” (1969), “Birth of a Nation” (1997), “As I was Moving Ahead I saw Brief Glimpses of Beauty” (2000), “Letter from Greenpoint” (2005), “Sleepless Nights Stories” (2011), “Out-takes from the Life of a Happy Man" (2012) e uma série de 365 curtas que disponibilizou na internet a partir de 2007. Em 1954, os irmãos Mekas criam a revista Film Culture, a qual tornou-se em tempos, uma das mais respeitadas publicações de cinema nos EUA. Em 1958, Mekas torna-se colunista na Village Voice, numa secção intitulada Movie Journal. Passados quatro anos, funde a Cooperativa de Cineastas (Film-Makers' Cooperative) e sucessivamente a Cinemateca de Cineastas (Film-Makers' Cinematheque).
Vencedor de vários prémios e presença assídua nos festivais de cinema, Mekas esteve em Lisboa em 2009 para uma masterclass e retrospetiva da sua obra no DocLisboa. Era também conhecido pelos seus trabalhos de poesia e por dar aulas de cinema em estabelecimentos como o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e a Universidade de Nova Iorque.
Esperem um momento …um obituário formal e esquemático? Para Jonas Mekas? Pois … na decisão de como iria abordar o trágico fim de uma figura tão crucial para o Cinema na metade do século XX e para alguém que dedicou a sua vida a experimentar e a alimentar o imprevisível,romper a previsibilidade deste espaço foi certamente a encontrada homenagem que lhe poderia dar. Contudo, mesmo assim, sinto que qualquer formato e qualquer gesto é insuficientemente resolvido como pesar a este incontornável artista.
Jonas Mekas (1922 – 2019)