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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Melancolicamente coenesco ... viva Llewyn Davis!

Hugo Gomes, 04.01.14

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Em “Inside Llewyn Davis” seguimos um músico folk que, após o desaparecimento trágico do seu parceiro, decide aventurar-se numa carreira a solo, arriscando tudo para o conseguir. É uma viagem que parece adquirir certos contornos de Lewis Carroll, aliás, como já havia referido, são muitos os pontos comuns com a obra datada de 2000 dos Coens (“O Brother, Where Art Thou?”), que se envolve num poço de excentricidades transcrita nas situações que o protagonista viverá ou das personagens que encontra no seu atribulado caminho.

Tudo isto envolvido numa atmosfera que parece rasgar visceralmente a sua melancolia interior, onde a fotografia de Bruno Delbonnel reforça tal sentimento. “Existe uma certa beleza triste na derrota“, já dizia Fernando Lopes no filme “Lovebirds” de Bruno De Almeida, já em “Inside LLewyn Davis”, os Coens conseguem invocar tal poesia da queda, tal filosofia de vida que no cinema norte-americano parece cada vez mais fortalecer os audazes. Este é uma corrente contrária à fixação do cinema local independente em relação ao estereótipo do “loser“. Porém, sabemos que a personagem de Oscar Isaac não preenche tais requisitos. Por vezes de má índole, este é uma figura pela qual torcemos mesmo frente aos infortúnios que o perseguem. Tudo descrito numa interpretação de corpo e alma pelo ator que tem vindo nos últimos anos tem deixado algumas marcas celebrativas. Ele entrega-se a um desempenho dito coenesco, enriquecido com perfomances musicais, emotivas e nada confrangedoras. 

Por fim, temos um elenco ao dispor dos realizadores, demonstrando profissionalismo e versatilidade no seu tom; John Goodman, Justin Timberlake, Carey Mulligan, Adam Driver, o há muito desaparecido F. Murray Abraham, e o gato (quem ver o filme irá perceber a menção).

Inside Llewyn Davis” é pura melodia de rua, triste mas enigmática, um dos melhores dos Coens em muitos anos.