L’Ombre de Femmes: Philippe Garrel, o feminista?
Será esta a maldição de Philippe Garrel reviver nestes últimos tempos as mesmas intrigas adulteradas? L’Ombre de Femmes tem sido visto como a tendência feminista no seu discurso das traições, da natureza frágil das relações amorosas e da condição imposta pela sociedade ocidentalizada em matéria da monogamia "forçada".
Sim, para quem assistiu à trilogia dos "Amantes", é melhor apertar o "cinto", porque a mesma jornada é induzida em mais uma tonalidade de tons cinzentos. Em comparação com La Jelouise, esta À Sombra das Mulheres é um upgrade dessas mesmas "sombras", fora Louis Garrel carnal, e entra dois desconhecidos neste mundo "garreliano" para servir de vitimas em mais um fraudulento "faz-de-conta" amoroso. Garrel [pai] aposta numa visão que coloca a mulher acima da fragilidade luxuriosa do homem, entendendo que com essa inclinação sentimental, esteja a conduzir-se num proclamado retrato feminista.
Mas não. Existe sim, um lisonjear ao sexo oposto, abdicando do seu "eu" intimamente masculino para forçosamente inserir-se numa "troca-de-papeis", de forma a quebrar o circulo que o próprio havia criado em loop. Mas a Mulher, valorizada ao estatuto de "Vénus" amorosa, é uma somente doce vingança para a carência impelida pelo seu marido. Voltamos ao palco das milésimas Sabrinas, Rebeccas e de outros romances de cordel - a mulher é ultra-sensível, colocando primeiramente o seu sentimento mais inocente frente ao desejo sexualizado, ao contrário do homem, novamente posicionado como o "sacana" de serviço rendido aos instintos primitivos (será a poligamia um acto meramente primitivo?).
Aqui, o que está em causa não são hierarquias, mas sim igualdades, e neste momento queremos mulher a persistir no seu desejo, na fantasia, não no platónico amoroso que parece aqui instalar-se. Sem com isso negar a possibilidade "civilizada" de uma relação afectuosa ao mais alto nível. Até porque temos dois seres que se completam, que se amam, mesmo expostos a "pecados carnais" de diferentes objectividades. O final, essa quebra de uma maldição "teimosa", é inteiramente enxertada como uma vinha de cultivo, não se sente, apenas "engole".
Todavia, há que valorizar o esforço de Garrel em fugir dos grandes pecados de La Jelouise, começando por diálogos cuidados e trabalhados, "migalhas de pão" em direcção ao adultério, os actores e o seu orgulho de "vestir" tais personagens e a realização menos apressada por parte do nosso Philipe. Por outras palavras, talvez seja a melhor obra do realizador nos últimos tempos, mas longe do feminismo pelo qual é vendido.