Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Live by Night: Ben Affleck floresce enquanto realizador

Hugo Gomes, 05.01.17

FB_IMG_1584212552219.jpg

Será Ben Affleck capaz de ressuscitar o apelidado cinema de gangsters na sua quarta longa-metragem, a segunda tendo como base um livro de Dennis Lehane? Definitivamente não. Nada de novo ou rejuvenescente parece querer germinar aqui. Eis um décor prolongado da Lei Seca e arredores que nos remete com um imaginário saudosismo. Mas este "Live By Night" ("Viver a Noite") opera como uma confirmação da destreza e, sim, vitalidade do ator convertido a realizador por detrás das câmaras.

A História de um homem “bom” (para implementar-nos em mais um confronto de consciências maniqueístas pintado sob tons cinzentos), que se vê gradualmente corrompido pela ambição ascendente no negócio ilícito (misturando por aqui uns certos toques de vingança), é a esperada rasteira na carreira de Affleck enquanto homem polivalente. Não pretendo com isto afirmar que este conto do vigário é um total desastre artístico. Para além do narcisismo do ator que ousa em protagonizar e adaptar-se a um ambiente envolto (fica o aviso: papéis de gangster não nasceram para Ben), é a câmara que ousa em “cuspir” no academismo-fantasma que nos faz prezar por este fracasso acima dos anonimatos que têm sido feitos para award seasons.

Affleck parece determinado em recalcar as imagens perante uma narrativa que respira, ora vintage, ora uma dinâmica articulada. Veja-se, por exemplo, na condução de travellings e panorâmicas em espaços limitados, dando a noção de “ação” mesmo que o ato seja o simples abanão de gelo num copo de whiskey. No feito da direção, e sem insinuar inovação, "Viver na Noite" aposta num registo dotado em reconstituições e em marcos coadjuvantes deste subgénero.

O grande senão é o argumento, uma facada sem objetividade no livro de Dennis Lehane que resultou no mesmo modelo pastelão do qual são feitos as cinebiografias galardoadas, com as mesmas personagens esquemáticas e aprisionadas em estereótipos que, facilmente, habitam neste Universo. Uma ambição de curto rastilho, porém motivado no interesse de assistir a um dos mais bem-sucedidos atores-realizadores a operar na Hollywood atual.