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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

"It's not your usual Socialism for dummies"

Hugo Gomes, 28.10.14

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A spectre is haunting Europe – the spectre of communism …

Karl Marx

Peter von Bagh (falecido recentemente) é um cineasta e por isso é evidente que esta sua retrospectiva acerca do socialismo, as promessas envoltas e os pesadelos gerados, seja estruturalmente constituída pela cinematografia proletária ou de ideologias comunistas e anti-capitalistas. Obviamente, “Socialism” é incapaz de contornar o cinema russo Bolchevique, pudera, visto que até mesmo a História do Cinema é incompleta sem os avanços da montagem e do poder da edição que Eisenstein e Dziga Vertov, por exemplo, proporcionaram na ciência cinematográfica. Peter Von Bagh beneficia assim desse fator para construir um documentário sob uma linguagem existente, numa montagem cuidadosa e por vezes instintiva.

Mas não é só o idioma russo que é fluente nesta cinematografia socialista. França, Itália (o neorrealismo), Alemanha (o tão incontornável “Metropolis” de Fritz Lang a servir de modelo exemplar) e até mesmo EUA (Charles Chaplin é dos mais prolíferos) integram esta coletânea de imagens que tão bem especificam a natureza da ideologia, a evolução desta e os homens que estiveram à frente destes movimentos políticos e sociais. Von Bagh específica o termo pedagógico e interativo que o Cinema pode constituir, e mais, um espelho de um Mundo envolto. O documentarista começa por abordar o nascimento do socialismo, com referências obrigatórias a Karl Marx, Friedrich Engels e Lenine, e sob o olhar de Pier Paolo Pasolini (“Il vangelo Secondo Matteo”) insinua a natureza comunista do próprio Jesus Cristo, tão evidente na Bíblia Sagrada.

É um facto que os ideais socialistas encontram-se em toda parte, mesmo que os seus autores neguem as ditas influências, como foi o caso de John Ford, um dos mais conservadores cineastas da Idade do Ouro de Hollywood, onde o confronto de classes, a igualdade como Paraíso a atingir, estão bem presentes no seu clássico “Grapes of Wrath” (“As Vinhas da Ira”), e o ator Henry Fonda a servir de “heroi marxista”, tão bem confundido com os bons valores norte-americanos. “Socialism” esboça assim a História desta política de pensamentos, desde os seus tempos áureos até, e sob uma questão pertinente – o que torna o socialismo tão temido, a aventura ideológica que se tornou pesadelo, nos regimes intolerantes entretanto originados. Aliás, nenhuma política ou ideal é perfeitamente correta ou encaixada homogeneamente nas sociedade atuais, pois todas possuem falhas e “aberturas” que dão acesso a “demónios infernais” que salientam a negra natureza dos Homens.

Pode o documentário ser objetivo? Pergunta Peter von Bagh a certo momento no seu “Socialism”. A resposta, essa, deve ser procurada e levantada em cada uma destas produções documentais, nos seus valores, a sua ousadia e eficácia na objetividade, criatividade e linguagem visual. Felizmente, “Socialism” preenche esses requisitos, consolidando o fascínio cinéfilo com o nosso tempo, onde a 7ª Arte é servida como estudo e não como arte ou entretenimento. Sim, bastante satisfatória esta viagem pela estrutura do socialismo.