Impunidade para boas intenções
Bateu, bateu … Morreu, morreu … Eu vi
“Impunidades Criminosas”, de Sol de Carvalho, é a extensão de uma homónima curta-metragem que foi apresentada no FESTin em 2012. Como longa-metragem, esta obra moçambicana funciona como uma persistência da sua mensagem: a emancipação da mulher numa cultura tradicionalmente dominada por homens.
Sob esse pretexto, desenvolve-se como um misto de thriller, centrado na história de Sara (Esperança Naene), uma mulher cansada dos maus-tratos por parte do marido, Armando (Breznev Matezo), que decide resolver os seus problemas pela raiz, ou seja, matar o seu homem à “paulada” e esconder o corpo. Porém, Sara desconhecia que o seu agora falecido marido fazia parte de um gangue bastante temido na vizinhança. Liderado por Chiquinho Paixão (Eliot Alex), o gangue decide reclamar algo cujo paradeiro só Armando conhecia. Para conseguir proteger a sua família das ameaças que se aproximam, Sara terá que enfrentar os seus fantasmas.
Sol de Carvalho maneja um filme de baixo orçamento movido por uma ideia, e essa ideia persiste em toda a sua narrativa de teor maniqueísta. Contudo, isso é conseguido com uma ausência de dimensão dramática. Na verdade, este “panfleto” cinematográfico sobre a violência doméstica e opressão às mulheres está rodeado por delicadas sugestões de cinema, como por exemplo: uma câmara viva que ocasionalmente faz “milagres”, uma atmosfera que injeta num panorama social o misticismo tradicional de Moçambique, e uma impagável Lucrécia Paco enquanto “doida da aldeia”, talvez a única prestação genial num elenco ditado pela boa vontade e nada mais que isso.
Aliás, para sermos esclarecedores, é sob as boas vontades que este novo filme de Sol de Carvalho assenta, e sob essas condições não há crime nenhum, porém nada impunível. Ainda assim, “Impunidades Criminosas” é uma pequena mostra do cinema que se faz escassamente em Moçambique.