Hellboy luta a direito contra homens tortos ...
Jack Kesy é o novo Hellboy no cinema
Hellboy, material “maldito” em “live action”! Culpemos a febre “The Dark Knight” naquele concorrido verão de 2008 que não se apresentou devidamente favorável ao segundo tomo da personagem sob as mãos de Guillermo Del Toro - “The Golden Army”. Não fora o fiasco, nem fora o sucesso esperado em função do seu orçamento mais musculado para fazer jus à imaginação fértil do mexicano (rendeu cerca de 168 milhões de dólares, frente a um orçamento de 65 milhões, que inflaciona praticamente o dobro com o marketing), o filme ainda obteve a ousadia de abrir portas a um terceiro, mas tal foi negado. Mais tarde, envolvido em outros trabalhos e um sequestro da Terra Média (“The Hobbit” que não acabou por concretizar), o desejo de finalização da trilogia caiu no limbo.
Em 2019, contou-se com um reboot, Ron Perlman cedia o lugar de “diabrete” a David Harbour em estado de graça devido aos reinados do streaming, e Neil Marshall tomava conta da cadeira anteriormente na posse de Del Toro. O resultado, esse sim, um autêntico fiasco [55 milhões de dólares rendido mundialmente]. Seria o prego no caixão da personagem criada por Mike Mignola no cinema. Seria, mas não o fora … quer dizer, há pelo menos um último suspiro a dar na sua tumba.
“Hellboy and the Crooked Man” (ou seja como nemesis a folclórica figura do “homem toroto”), produto de baixo orçamento com benção do autor original, e não só (tem presença sua no argumento), assume as suas limitações e abraça o terror, a convencionalidade do seu género como sua. Não é uma sequela, nem um reboot, até nem se sabe o que pretende ser este filme tomado pela parcial equipa por detrás de “Crank” (2006) ou o “Ghost Rider” em decadência (mas do invulgar díptico, a versão de 2011 é o mais tolerável), indivíduos habituados a cercos produtivos e gerar adrenalina através de tiques de câmara. Ou seja, chico-esperto e amador, desenrascado a criativo, uma fusão com aliança à escuridão (e muita!) da fotografia (não se vá notar o que falta nos cenários ou na caracterização das personagens).
Portanto, este ornitorrinco (“tem bico, põe ovos, mas não é pato”) isenta medo em ostentar barato, aliás até sente-se orgulhoso em demonstrar o quanto poupou. Por outro lado, esse tom de pechisbeque que condiz com a ambiência do terror, não puro, mas destilado como whisky rasco, não é o embaraço que parece ser, o que é devidamente pecado em toda a esta produção de “joelhos cortados” é a sua incapacidade narrativa, de personagens que caem de paraquedas em lugar destaque ou da intriga (aqui com bruxas white trash ao invés dos anteriores nazis satânicos) que se desenrola automaticamente, por lugares-comuns, por flashbacks meramente explicativos e … ora bolas, diálogos de rascunho.
Se calhar o problema é nosso, espectadores, que demos a ideia a estes produtores, que tudo pode regressar com dignidade, até quando o prazo de expiração é uma evidência. Não querendo parecer fundamentalista, mas “Hellboy” foi apadrinhado por Del Toro, como uma adopção legítima. Para bem da nossa sanidade fiquemos por aí …