Fugindo de um ninho de cucos
Se caíssemos na esquematização superficial de muita da crítica norte-americana facilmente apelidaríamos o novo filme de Paolo Virzi, “La Pazza Gioia” (“Loucamente”), com a equação “Thelma & Louise meets One Flew Over the Cuckoo's Nest”.
Três anos depois de transfigurar a verdade nas suas variadas ramificações com o filme-mosaico "Il Capitale Umano”, Virzi centra-se no drama road-trip longe das euforias coming-to-age. São duas loucas, para resumir a intriga, “engaioladas” que encontram a liberdade na primeira oportunidade. Durante esta escapatória que se arrasta até ao seu desfecho, Valeria Bruni Tedeschi (atriz que trabalhou com Virzi em o Capitale’) e Micaela Ramazzotti (do muito subvalorizado Anni Felici) tentam reconciliar-se com a vida que haviam “perdido” após os respectivos “enclausuramentos”.
O realizador incide no espectador um autêntico mundo de loucura, não no sentido onírico e surreal, mas quanto ao seu ritmo que parece ganhar velocidade tremenda até a uma eventual colisão. Porém, o percurso faz-se com agrado, sob um tom agridoce que nos envolve e as atrizes que dão o melhor de si para atribuir uma humanidade digna a este duo de personagens, que tão bem residirem num conto de Gil Vicente. Mas, obviamente, que a viagem leva-nos a estradas de terreno batido, altamente caminhadas pelos seus antecessores e rodeadas por paisagens rotineiras, essas, para quem não entendeu esta linguagem viajante, são os dramas secundários que entrelaçam com o destino das protagonistas, o macguffin que as fazem mexer numa jornada ao encontro dos seus fantasmas.
Mas o drama não é suficiente forte, diria mesmo desequilibrado, visto que a personagem mais interessante é diversas vezes confundida como um comic relief, sim, falo de Valeria Bruni Tedeschi, essa diva desvalorizada do cinema italiano, numa variação paranóica de Norma Desmond (“Sunset Blvd.”, de Billy Wilder). Ela é a tragédia em pessoa, infelizmente, pouco explorada nesta “ópera” que termina sob abruptos acordes melosos e no “choradinho” do costume. Tal como acontecera com “Il Capitale Umano”, Paolo Virzi tem uma fraqueza enorme, o seu talento é por vezes superado por uma tendência suicida de crowd pleaser.