Friday Night Lights ... eles vivem entre nós!

“Os verdadeiros homens sacrificam-se”, desde cedo, com os olhos “grudados” à televisão, Cameron Cade era incutido nestas instruções dadas pelo seu pai, militar que partilhava com o seu rebento, prodígio com carinho, a paixão pelo futebol americano, principalmente no jogador Isaiah White, o obstinado “GOAT” (Greatest of All Time) da modalidade. Marcado por tamanhas lições, Cade (Tyriq Withers, “I Know What You Did Last Summer”) viria a vingar-se no desporto das suas euforias, até se tornar numa promessa nesse universo, porém, longe da atenção do seu “instrutor paternal”, o pai, militar falecido, também motivado ao termo do sacrifício.
Chega, então, a oportunidade do protagonista passar para a “Liga dos Grandes”, ser o quarterback de excelência no clube que sempre sonhara. Para isso, aceita o misterioso convite do seu ídolo, o tal Isaiah White (Marlon Wayans), para passar uns dias na sua fortaleza erguida no deserto, isolado do mundo que o acolhera desde então. Lá Cade é iniciado pelo seu novo mestre nas pisadas para se tornar no próximo GOAT - “Futebol, Família, Deus”, prega White com convicção o seu slogan de ecos ‘fascinados', oscilando entre paternalismo e ameaça. Pouco a pouco, o jovem percebe algo de estranho, até ritualístico, a povoar naquele recinto, obrigando-o a mudar, a tomar os seus sacrifícios, para atingir a próxima etapa.
“Him” passa pelos pingos da chuva no marketing de Jordan Peele. O realizador de “Get Out” e “Nope” assume a produção, e consequentemente há espirros criativos na obra de Justin Tipping (segunda longa), quase como uma releitura transposta de “Get Out”, de alguma estética mimetizada, como se este ‘novato’ desejasse, ultrapassar o seu “GOAT” quer no estilo, quer no conceito. Contudo, o comentário político-social o define, abraçado ao equilíbrio visual e ao joguinho de terror de trauma que muitos habilitaram num entendimento de “elevate horror “ (verdadeiro bullshit de termo).


Fora desses rodriguinho da ansiedade, previsíveis, mas vistosos, “Him” parece compreender a sua função enquanto terror analítico, tomando o desporto como reflexo de um país intrinsecamente violento, couraçado por masculinidades dogmáticas e tóxicas e movido pela espectacularidade … a ver, como exemplo, o clímax, à medida do gore e do lúdico, nunca diminuindo o seu grau de grandiosidade e sensacionalismo estético. “América Grande Novamente”: eis a veia da meritocracia, da “fábrica de ídolos”, atormentadas pela sobrenaturalidade da sua perversão sistêmica.
Sim, fala-se de jogadores, futebol, contratos, mas tudo engodo para embarcar nas classes, nas heranças (o privilégio é hereditário), nos favores e naquilo que os EUA parecem cada menos abdicar, do seu Poder restrito. Talvez seja isto a América, a nação que vende o seu “sonho americano”, uma ideia passada à ilusão quando são as verdadeiras forças políticas a decidir quem deve sonhar.