Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Friday Night Lights ... eles vivem entre nós!

Hugo Gomes, 17.09.25

vs-youtube-himofficialteasertrailer-1-35-680298738

Os verdadeiros homens sacrificam-se”, desde cedo, com os olhos “grudados” à televisão, Cameron Cade era incutido nestas instruções dadas pelo seu pai, militar que partilhava com o seu rebento, prodígio com carinho, a paixão pelo futebol americano, principalmente no jogador Isaiah White, o obstinado “GOAT” (Greatest of All Time) da modalidade. Marcado por tamanhas lições, Cade (Tyriq Withers, “I Know What You Did Last Summer”) viria a vingar-se no desporto das suas euforias, até se tornar numa promessa nesse universo, porém, longe da atenção do seu “instrutor paternal”, o pai, militar falecido, também motivado ao termo do sacrifício. 

Chega, então, a oportunidade do protagonista passar para a “Liga dos Grandes”, ser o quarterback de excelência no clube que sempre sonhara. Para isso, aceita o misterioso convite do seu ídolo, o tal Isaiah White (Marlon Wayans), para passar uns dias na sua fortaleza erguida no deserto, isolado do mundo que o acolhera desde então. Lá Cade é iniciado pelo seu novo mestre nas pisadas para se tornar no próximo GOAT - “Futebol, Família, Deus”, prega White com convicção o seu slogan de ecos ‘fascinados', oscilando entre paternalismo e ameaça. Pouco a pouco, o jovem percebe algo de estranho, até ritualístico, a povoar naquele recinto, obrigando-o a mudar, a tomar os seus sacrifícios, para atingir a próxima etapa. 

Him” passa pelos pingos da chuva no marketing de Jordan Peele. O realizador de Get Out” e “Nope” assume a produção, e consequentemente há espirros criativos na obra de Justin Tipping (segunda longa), quase como uma releitura transposta de “Get Out”, de alguma estética mimetizada, como se este ‘novato’ desejasse, ultrapassar o seu “GOAT” quer no estilo, quer no conceito. Contudo, o comentário político-social o define, abraçado ao equilíbrio visual e ao joguinho de terror de trauma que muitos habilitaram num entendimento de “elevate horror “ (verdadeiro bullshit de termo). 

Him-Movie-Trailer-2025.jpg

Him-1.jpg

Fora desses rodriguinho da ansiedade, previsíveis, mas vistosos, “Him” parece compreender a sua função enquanto terror analítico, tomando o desporto como reflexo de um país intrinsecamente violento, couraçado por masculinidades dogmáticas e tóxicas e movido pela espectacularidade … a ver, como exemplo, o clímax, à medida do gore e do lúdico, nunca diminuindo o seu grau de grandiosidade e sensacionalismo estético. “América Grande Novamente”: eis a veia da meritocracia, da “fábrica de ídolos”, atormentadas pela sobrenaturalidade da sua perversão sistêmica. 

Sim, fala-se de jogadores, futebol, contratos, mas tudo engodo para embarcar nas classes, nas heranças (o privilégio é hereditário), nos favores e naquilo que os EUA parecem cada menos abdicar, do seu Poder restrito. Talvez seja isto a América, a nação que vende o seu “sonho americano”, uma ideia passada à ilusão quando são as verdadeiras forças políticas a decidir quem deve sonhar.