Estes filmes não são para o público nem para a crítica ... de hoje!
A Internet, hoje, é uma ferramenta que amplifica sensações ou transforma-as em campanhas que, por sua vez, se convertem em algoritmos (e autênticas calúnias em forma de reels ou tweets para conduzir uma opinião generalizada). “Joker: Folie à Deux” e “Megalopolis” são vítimas dessas traduções binárias, sendo que um deles é mais afetado que o outro.
Neste caso, o apelo de um filme no universo dos super-herois não se traduz, de forma alguma, na conversão desses códigos. Inicialmente, isso atraiu milhões de adultos, que, segundo um recente artigo da “The Economist”, progressivamente mais infantilizados pela (não só!) hegemonia da cultura popular (e isso, desculpem, tem como consequências nas respectivas escolhas sócio-políticas), o qual sentem-se “enganados” pela artimanha de Todd Phillips, um realizador que, após esta sequela, merece um lugar terno na cinefilia. Jogou à roleta russa com o público mainstream, subverteu as expectativas que geram consensos e, como um escudo de Perseu, fez com que a Medusa — neste caso, o público-alvo desse tipo de filmes — olhasse para o seu próprio reflexo.
Até mesmo a escolha do musical, que reforça o seu papel fundamental na Hollywood clássica, servindo como um escape à realidade do nosso mundo, é utilizada como um obstáculo ao paladar (o género que ficou obsoleto e o senso comum o maltratou com honras ao preconceito). Este é um filme que requer um desafio, não no sentido de gostar (um conceito binário), mas de o reconhecer e refletir sobre ele. O público possui essa consciência, ou não-consciência, enquanto a crítica de cinema, por outro lado, detém uma responsabilidade diferente: o de não ceder à vontade popular em prol de uma subsistência profissional (o que não tem acontecido). Isso aplica-se igualmente a “Megalopolis”, que não é filme de público, quer dizer não o deste, possivelmente a do futuro, mas possivelmente para o futuro.
No entanto, a crítica, principalmente a yankee, reduziu-se a “julgar” os filmes com um primitivismo mercantil. Falta-lhe profundidade de pensamento, limitando-se a percentagens de Rotten Tomatoes ou a classificações que carecem de sentido crítico. Portanto, consensos não fazem parte do meu cardápio e, possivelmente, morrerão daqui há alguns anos. A crítica que sobrevive deverá ser ousada, fundamentada e nunca vergada à dominação da cultura popular, nem que para isso sacrifique o seu imediatismo (“mas quem sou eu para dar lições de moral”, pensarão muitos de vocês).
Com isto afirmo sem medos, são dois grandes e incompreendidos filmes americanos estão a surgir nesta rentrée... e o seu insucesso é um bom sinal para o futuro.