Empatia!! Somente histórias de empatia!
We here to become human again, to put on nice clothes and dance around and enjoy the things that is not in our reality."
Histórias de empatia! Por entre galões de um lado da mesa e imperiais do outro, no bar da Cinemateca falou-se de trivialidades, assuntos privados ou opiniões avulsas. Entre um gole e um bitaite fresco, a empatia surge inesperadamente como tema. Daí para sensibilidades, emoções ou “fraquezas” (como quiserem chamar), a conversa converge para um único ponto: um filme, para sermos concretos — “Sing Sing”, de Greg Kwedar.
Filme de Óscar sem presença na crucial eleição dos 10 finalistas: culpa-se o calendário da temporada de prémios ou a lógica do lobby como persuasão, mas a verdade é que Colman Domingo lá está representado com a interpretação (além de mais duas nomeações, argumento adaptado e canção), até porque ele é o ator no meio de não-atores, um peixe em correntes imprevisíveis que nada numa fluidez danada. Já os restantes — os chamados "não-atores" (ou atores não-profissionais, como alguns preferem dizer, recuperando a velha máxima de que qualquer um pode atuar) — são farpas aguçadas no coração deste filme anti-cárcere, são autenticidade que desfazem qualquer fantasia imposta nessas latitudes.
Construído com base dessas experiências, empíricas até (daí o argumento adaptado], e focando no programa de reabilitação por via das artes performativas, teatro lê-se e vê-se, “Sing Sing” é todo ele uma entrega à arte como segunda oportunidade — um molde para homens clandestinos ou aprisionados na sua própria violência, que encontram libertação no escapismo curador deste voluntarismo. Domingo, por sua vez, voluntaria-se para entrar na prisão (na sua essência e não somente a sua geografia) com estes ex-reclusos (no filme encenam as suas vidas passadas entre grandes na dita prisão de alta segurança que aufere título à película) e encaixa-se nessa visão cercada sem induzir e preencher o filme nos rodriguinhos do seu subgénero de cativeiro, a agressividade, essa fica-se na sugestão dos relatos, nos olhares de perdão ou até no “faz-de-conta” da peça dentro da peça - mixórdia de temáticas com viagem temporais e mil e um géneros a dar conta (e Hamlet no meio).
Greg Kwedar, realizador ainda discreto, homem invulgar para estabelecer esse vínculo para com a emoção bruta trazida, e por vezes ocultada destes agentes da pacificação espiritual, exerce um filme como igualmente um exercício performativo, indiciando no seu experimento a sua capacidade de cura. De um cinema independente que fala a língua dos Homens sem recorrer à fabulação insuflada (celebra-se a aproximação ao docudrama), nem ao conforto de uma narrativa massajada de um público-expandido. Funciona, por vezes, contra si mesmo, por ser uma história profundamente masculina, carregada de semiótica e gíria desse universo, podendo intuitivamente afastar os que clamam por igualdade nos gazes (olhares). Mas por não seguir essas ordens / diretrizes de mercado, o torna - e os últimos momentos são prova de uma riqueza pura de fragrâncias autenticadas -, “Sing Sing” em algo à parte das habituais promessas desse cinema adulto americano. Numa secura fingida, mexe no coração — a qual América de hoje carece disso. Empatia!
Brindamos de forma desigual os copos — lácteo de um lado da fronteira, cevada na oposição — mas o acordo estava traçado. A empatia uniu aquela mesa, àquele filme, precioso e pequeno filme sublinho por baixo …
One faith but you don't see
Search for peace but no one speaks
Burn a bridge to light my way
Climb the tree before I called you the victim
Heaven and evil, caught in the middle
Someone set me free, be wind beneath my wings”
- “Like a Bird”, Adrian Quesada e Abraham Alexander (música da banda-sonora “Sing Sing”, nomeado ao Óscar de Melhor Canção Original)