E quem toma conta da "babysitter"?
Monia Chokri, novamente de humor sardónico, cronista, e negro como o bréu, nesta sua segunda demanda na realização, revela-se a um episódio em reluzente absurdo que engloba “masculinidade tóxica” e a “culpa masculina” em sociedades ocidentais. “Mais um!?”, pensaram muitos (e muitas digamos), porém, o enredo da atriz (bem reconhecida numa grande parte do cinema de Xavier Dolan) virada realizadora (e que mesmo assim faz aqui “perninha” na atuação), coloca-se nos dois campos das demandas de preservação feminina, ora “desmascarando” e desconstruindo masculinidades, ora ridicularizando a conscientizada apropriação desses remorsos.
Três anos desde “La femme de mon frère” [primeira longa-metragem que abriu a Certain Regard de Cannes em 2019], Chokri usa “Babysitter” (baseado numa peça de Catherine Léger) como uma fantasia desvirtuada do seu conceito, a sexy e jovem ama (Nadia Tereszkiewicz, que contracenou, em Portugal, com Catarina Wallenstein no desastroso “Selvagem”, do veterano Dennis Berry), objeto desejável e de fácil consumação no universo pornografico é aqui a enzima solicitada para uma relação distanciada pela monotonia matrimonial, com os seus innuendos sexuais e do vislumbre da frecha que separa a fabulação do ordinário, “criatura” distorcida que cumplicita com a autora no alinhamento satírico e absurdista.
A tal babysitter assume-se como totem para limiar as arestas desta “distopia”. Chokri aproveita-se do momento e deleita-se na crónica social sem nunca ceder a puritanismos, evidentemente esse feminismo alicerçado não mora aqui. Contudo, é um exercício estético, cínico, sublinha-se, que torna os seus alvos em meras caricaturas, perfeitamente afogadas nos pretensiosismos artísticos. Ou seja, há intenção, mas nunca a sua verdadeira emancipação.